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Aversão ao risco no exterior faz dólar voltar a subir ante o real

Moeda americana terminou a quinta-feira em alta de 0,17%, cotada a R$ 4,0475; pessimismo quanto às chances de um acordo comercial entre Estados Unidos e China incentivou os investidores a buscar ativos conservadores

23 mai 2019 - 18h37
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Com troca de sinais ao longo do dia e sob influência do clima de aversão ao risco no exterior, o dólar subiu na sessão desta quinta-feira, 23. Com máxima de R$ 4,07, a moeda americana encerrou o pregão cotada a R$ 4,0475, em alta de 0,17%. No mercado de ações, a maior cautela no mercado internacional também se sobrepôs ao clima mais ameno do cenário doméstico e foi determinante para a queda de 0,48% do índice Bovespa, que fechou aos 93.910,03 pontos.

O pessimismo quanto às chances de um acordo comercial entre Estados Unidos e China e os temores de recessão global incentivaram os investidores a buscar ativos conservadores, deflagrando uma onda vendedora nos mercados de ações e aumento da procura por moedas fortes. Houve quedas expressivas nas principais bolsas da Ásia, Europa, Estados Unidos e nas emergentes em geral.

Dólar

A Câmara concluiu nesta quinta-feira a aprovação da Medida Provisória n.º 870, editada pelo governo Jair Bolsonaro neste ano para reestruturar os ministérios. A MP segue para o Senado e tem que ser aprovada até 3 de junho, quando perde a validade. A retomada das votações no Congresso, graças a uma articulação dos partidos do Centrão com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ-DEM), deu um alento aos investidores em relação ao andamento da reforma da Previdência.

Segundo especialistas, o arrefecimento das tensões políticas retirou suporte para apostas compradas na moeda americana que levaram o dólar a atingir R$ 4,10 este mês. Na outra ponta, a fraqueza da economia brasileira, o risco de desidratação acentuada da reforma da previdência e a as incertezas no exterior impedem que a moeda americana volte a ser negociada abaixo de R$ 4 no curto prazo.

"Dada a conjuntura atual, um dólar entre R$ 4 e R$ 4,05 parece mais apropriado. Com o Congresso retomando as votações, o nível de R$ 4,10 parece exagerado. Mas para cair ainda mais é preciso novos fatos positivos", afirma Fernanda Consorte, estrategista de câmbio do Banco Ourinvest.

Lá fora, o dia foi de forte aversão ao risco, em meio aos temores de uma escalada no confronto comercial entre chineses e americanos. O porta-voz do Ministério do Comércio chinês, Gao Fent, disse que os EUA precisam corrigir suas "ações erradas" para que as negociações bilaterais sejam retomadas. Já o presidente Donald Trump confirmou no fim da tarde que vai se encontrar com o líder chinês, Xi Jinping, durante as reuniões do G-20, que acontece nos dias 28 e 29 de junho, no Japão.

O dólar avançou em relação à maioria das divisas de emergentes e países exportadores de commodities, sobretudo ante o rublo, o rand sul-africano (depois do BC da África do Sul manter os juros em 6,75% ao ano) e o peso mexicano, considerados pares do real.

Já o índice DXY - que mede o desempenho do dólar em relação a uma cesta de seis divisas fortes - chegou a subir pela manhã, superando os 98 pontos, mas perdeu força após a divulgação de dados americanos de varejo e indústria abaixo das estimativas. Como o DXY vem em uma maré altista, na esteira do desempenho recente mais forte da economia americana em comparação com outros países desenvolvidos, havia espaço para um ajuste de baixa.

Para a estrategista de câmbio do Banco Ourinvest, embora o Federal Reserve (Fed, o banco Central americano) reconheça que o embate comercial com a China possa afetar a atividade nos EUA, ainda é cedo para apostar em um corte da taxa de juros americana, o que poderia tirar força do dólar e, por tabela, aliviar a pressão sobre moedas emergentes, como o real.

Bolsa

Para Josian Teixeira, diretor da Lifetime Asset, apesar da aversão ao risco no exterior, a queda do dia pode ser considerada como uma leve realização de lucros, depois de uma alta de quase 5% na semana. Segundo ele, com a queda recente do Ibovespa para o nível dos 90 mil pontos, o mercado voltou a ter uma relação risco-retorno interessante, o que pode trazer alguma independência do cenário externo.

"Acredito que momentaneamente voltaremos a surfar uma certa independência ao cenário lá fora. É claro que se as commodities caírem bastante, iremos sofrer. Mas por enquanto, o Banco Central não vai elevar os juros e o dólar acima de R$ 4 torna o Ibovespa barato em dólar", afirmou o diretor.

Para Gabriel Francisco, analista da XP Investimentos, "a Bolsa brasileira refletiu o cenário global de aversão ao risco, enquanto o ambiente doméstico não trouxe nenhum destaque negativo. As medidas provisórias avançam e a retirada do Coaf do ministro Sergio Moro já era de certa forma esperada. Além disso, é um fator que tem menor implicação prática".

Na análise por ações, a queda foi puxada por papéis sensíveis ao cenário econômico global. Influenciadas pela queda robusta dos preços do petróleo, Petrobrás PN e ON perderam 1,71% e 1,74%, nesta ordem. O setor siderúrgico também sofreu, tendo como destaques Gerdau PN (-2,38%) e Usiminas (-1,11%). Por outro lado, o desempenho misto das ações do setor financeiro acabou por evitar perdas maiores no dia. Banco do Brasil ON subiu 0,16% e B3 ON avançou 1,06%.

Das 66 ações que compõem a carteira teórica do Ibovespa, a maior queda foi de Natura ON (-8,54%). Os papéis da empresa de cosméticos devolvem parte dos ganhos recentes após a empresa anunciar a compra da Avon e do Bradesco BBI ter rebaixado a recomendação de compra dos papéis da companhia.

Na última terça-feira, quando o Ibovespa subiu 2,76%, refletindo a melhora da percepção de risco político, os investidores estrangeiros ingressaram com R$ 167,966 milhões na B3. Em maio, o saldo de capital estrangeiro na bolsa está negativo em R$ 5,636 bilhões.

Estadão
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