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Associação de funcionários do BNDES contesta presidente e estima perda com Odebrecht em R$ 6,4 bi

Gustavo Montezano, presidente do banco, havia revelado que o BNDES poderia perder até R$ 14,6 bilhões

1 out 2019 - 19h47
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RIO - A perda potencial do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) com o grupo Odebrecht, pivô do esquema de corrupção investigado pela Operação Lava Jato, seria mais corretamente estimada em R$ 6,4 bilhões, alega a associação dos funcionários da instituição de fomento. A diretoria do BNDES havia dito que o banco poderia perder até R$ 14,6 bilhões com o grupo Odebrecht, como revelou o Estado na segunda-feira, 30. Para a AFBNDES, porém, o "impacto de supostos erros" foi aumentado na estimativa da diretoria, para atender "compromissos com a retórica eleitoral oficial".

Em nota divulgada nesta terça-feira, 1, a entidade que representa os servidores do BNDES avalia que o presidente do banco, Gustavo Montezano, "trabalha para reacender o mito da 'caixa-preta'". "Seus supostos esclarecimentos ao invés de aumentar a transparência do BNDES e promover um debate qualificado sobre o aperfeiçoamento de políticas de desenvolvimento, visam apenas desacreditar por completo a política industrial e a ação do crédito como instrumento contracíclico, servindo assim, para justificar a redução do escopo de atuação do BNDES que sua administração pretende implementar", diz a nota da AFBNDES.

Ao Estado, Montezano disse que a Odebrecht é "o grupo econômico que mais trouxe prejuízo econômico ao banco na história", afirmou que as perdas do BNDES não têm a ver com corrupção, mas, sim, com más escolhas associadas às políticas de financiamento e reforçou que "não tem qualquer indício de corrupção de nenhum funcionário do banco".

Na visão da AFBNDES, a estimativa de perda potencial anunciada pela diretoria erra ao incluir US$ 900 milhões (cerca de R$ 3,7 bilhões) em empréstimos para países estrangeiros que contrataram a Odebrecht para tocar obras e estão inadimplentes - Venezuela, Cuba e Moçambique. Essa perda, como registrou o Estado na segunda-feira, não ficará com o BNDES, mas, sim, com o Fundo de Garantia à Exportação (FGE), formado com recursos do Tesouro Nacional, que garantiu as operações.

"Dos R$ 14,6 bilhões alardeados, R$ 3,7 bilhões correspondem a operações de comércio exterior devidamente seguradas pelo FGE - cujo funding é parcialmente proveniente de prêmios de risco pagos pelos próprios países financiados. Em nenhuma análise econômica poderiam ser computados como perdas para o Banco", diz a nota da AFBNDES.

Sem esse valor, a perda potencial cairia para R$ 10,9 bilhões. Mesmo assim, para a AFBNDES, a conta divulgada pela diretoria do banco estaria errada ao considerar a perda máxima das dívidas e investimentos no braço de açúcar e etanol da Odebrecht. Ao Estado, Montezano ponderou que o banco não deverá perder a totalidade dessas dívidas, incluídas em processo de recuperação judicial, mas evitou estimar o quanto poderá recuperar. Por precaução, o BNDES "provisionou" o total no balanço financeiro. Isso significa que o banco registra preventivamente a perda, derrubando o lucro líquido.

"Ao considerar apenas a perda máxima da operação de crédito ignora-se o fato de que o BNDES detém grande parte dos ativos operacionais em garantia, sem contar com as receitas provenientes da venda de energia. Ou seja, excluído o que está com garantia do FGE e assumindo que o Banco deve recuperar 50% dos créditos no projeto de Etanol, o valor da perda seria de R$ 6,4 bilhões, menos da metade dos R$ 14,6 bilhões anunciados", diz a nota da AFBNDES.

Para a entidade, mesmo diante dessa perda, seria preciso ponderar na análise que os recursos investidos e emprestados para o braço de açúcar e etanol da Odebrecht tiveram impacto positivo sobre as regiões em que se deram os investimentos, como aumento do emprego, da atividade econômica regional e da arrecadação tributária. A nota da AFBNDES lembra ainda que os projetos de etanol da Odebrecht também foi financiados por investidores internacionais - "se houve erro na avaliação do projeto, esse foi do governo e de investidores privados nacionais e internacionais também", diz o texto.

Estadão
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