André Esteves cobra coordenação entre BC e governo e questiona ajuste real do salário mínimo
Sócio do BTG Pactual afirma que Bolsa Família cresceu muito e que é importante incentivar a entrada de parte dos beneficiários no mercado de trabalho
O chairman e sócio do BTG Pactual, André Esteves, defendeu nesta segunda-feira, 10, que o Brasil precisa otimizar a coordenação entre as políticas fiscal e monetária.
Em evento do Milken Institute, em São Paulo, Esteves argumentou em favor de um ajuste fiscal equivalente a cerca de 2% do PIB. "É como se estivéssemos com um pé no acelerador, a fiscal, e outra no freio, a monetária", comparou.
Esteves reconheceu que a Selic a 15% está elevada demais, mas indicou que o Banco Central deve começar a cortá-la a partir de janeiro do próximo ano. "Se os juros vão parar em 11% ou 7%, isso terá a ver com a política fiscal", explicou.
O executivo disse que é "questionável" um ajuste real no salário mínimo em um cenário de desemprego baixo. Ele afirmou defender o Bolsa Família, mas que o programa cresceu muito e agora é importante incentivar a entrada de parte dos beneficiários ao mercado de trabalho.
Oportunidades para o Brasil
O recuo global no sistema de multilateralismo traz uma série de oportunidades ao Brasil, avaliou Esteves, durante o evento.
"Não vejo o Brasil e a América Latina como perdedores em um mundo menos multilateral", disse. "O Brasil é uma friedly nation", acrescentou.
Para capitalizar as oportunidades, porém, o País precisa seguir implementando reformas regulatórias, entre eles uma agenda microeconômica pró-business, na visão dele. O projeto de lei (PL) dos data centers é um primeiro passo importante, mas são necessárias mais ações, argumentou.
Esteves acrescentou que, com ajuda do setor privado, o Brasil teve a postura correta nas negociações sobre o tarifaço. "O setor produtivo foi muito importante para baixar essa bola das relações com os EUA", disse.
Sobre o desempenho dos mercados financeiros, Esteves comentou que os EUA são a principal força nas perspectivas globais. Desde o Dia da Libertação, em abril, houve uma diversificação de portfólios para além do dólar e dos EUA, de acordo com ele.
Apesar de sinais incipientes de desaceleração, Esteves acrescentou que não "há nada dramático" ocorrendo na economia americana. Para ele, há incerteza sobre o modelo de negócios e o excesso de valuation em empresas da inteligência artificial. "O Volume de Capex (investimentos) que essas empresas estão fazendo é significativo. Vai haver uns US$ 350 bilhões em capex ligado à IA", ressaltou, ao alertar para o risco de uma "correção mais forte" nos mercados.