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Amazon: de empresa de garagem a gigante da internet

16 jul 2020 - 12h53
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Tudo começou modestamente com a venda do primeiro livro pela internet a partir de uma garagem, há 25 anos. Hoje movimentando US$ 1 bilhão em menos de dois dias, plataforma tem práticas de concorrência questionadas.Em 27 de julho, o circo estará armado em Washington: duas décadas e meia depois de ter vendido seu primeiro livro, o chefe da Amazon, Jeff Bezos, se apresenta sob juramento diante da comissão de concorrência do Congresso americano para se submeter a perguntas incômodas.

Além do comércio online, Amazon oferece hoje serviços como Amazon Pay, Amazon Music, Prime Video e Amazon Web Service
Além do comércio online, Amazon oferece hoje serviços como Amazon Pay, Amazon Music, Prime Video e Amazon Web Service
Foto: DW / Deutsche Welle

Também seus colegas da Apple, Facebook e Google responderão aos deputados americanos nas próximas semanas. Mas, ao contrário de Tim Cook, Marc Zuckerberg e Sundar Pichai, para Bezos esta será a primeira vez. O objeto da arguição são as práticas comerciais do conglomerado de vendas pela internet, e se os comerciantes que utilizam sua plataforma de vendas são tratados de forma justa.

O foco serão os dados que a Amazon coleta quando outras firmas vendem mercadorias em sua plataforma; e até que ponto a multinacional de Bezos impede a competição, ao dificultar, com seus bilhões de dólares, a vida dos concorrentes potenciais - ou simplesmente comprá-los.

Algumas dessas práticas sequer são ilegais, admitiu o parlamentar republicano Kenneth Buck. Mas isso não significa que os legisladores estejam dispostos a continuar tolerando-as no futuro. Buck concorda com seus colegas democratas que a legislação antitruste dos EUA deve ser reformada, se possível já em 2021.

"As leis antitruste foram criadas no início do século 20, num contexto de mercado totalmente diferente, a fim de acabar com os cartéis da época. Aí, algum tempo atrás, elas foram emendadas para regulamentar as grandes multinacionais de telecomunicações. Mas as leis nunca foram adaptadas aos novos conglomerados de tecnologia e plataformas que existem hoje."

O que o Legislativo dos Estados Unidos quer impedir de todo modo é que alguns colossos da alta tecnologia dominem tudo, obstruindo assim a concorrência e a inovação, aponta Buck, que também é jurista e ex-procurador estadual do Colorado.

No princípio eram os livros

Tudo começou bem modesto, 25 anos atrás: em meados dos anos 90, Jeff Bezos trabalhava como banqueiro de investimentos em Nova York, e logo reconheceu o potencial do comércio pela internet.

Era um tempo sem smartphone nem wifi, em que, para se conectar à internet através da rede telefônica, usavam-se modems que emitiam assovios e chiados. As conexões eram tão lentas, que muitas vezes se esperava minutos para baixar uma única página online - com sorte, pois era comum a ligação cair.

"Encontrei num website a informação de que a internet cresceria num ritmo de 2.300% ao ano", contou Bezos numa de suas raras entrevistas. Na época, o informático e administrador de empresas formado, de 30 anos de idade, procurava possibilidades lucrativas de investimento para seu empregador, um hedgefond: "A ideia de criar uma livraria online me deixou fascinado."

Sua base de cálculo era que os americanos gastavam 19 bilhões de dólares por ano em livros. Para uma livraria na internet, praticamente não haveria limites de área comercial e prateleiras disponíveis. "Ficou totalmente claro para mim, refletindo, que eu fundaria uma empresa para vender livros pela internet", conta Bezos. "Eu sabia que se não tentasse, ia lamentar pelo resto da vida."

Inicialmente sob o nome Cadabra e, claro, numa garagem, ele fundou sua empresa em 1994. Três anos mais tarde ela já entrava para a bolsa de valores, sobreviveu ao estouro da bolha "ponto-com" na virada do século, e cresceu sem parar, enquanto outros pioneiros do comércio eletrônico abriam falência, um atrás do outro.

Ano após ano, Bezos conseguiu manter seus investidores motivados, embora empregasse quantias milionárias no crescimento de sua "loja para tudo" e não tivesse ganhos. Até o primeiro trimestre de 2001, quando apresentou pela primeira vez um lucro de 5 milhões de dólares e um faturamento superior a 1 bilhão de dólares.

No Brasil, o domain Amazon.com.br foi ao ar em 6 de dezembro de 2012, inicialmente apenas com livros eletrônicos, e foi gradualmente ampliando sua oferta no país nos anos seguintes.

O cliente é rei - às custas de empregados e vendedores

Hoje, a Amazon movimenta tranquilamente 1 bilhão de dólares em menos de dois dias: em 2019 seu faturamento foi de mais de 280 bilhões de dólares. Em meados de abril de 2020, o jornal britânico The Guardian calculou que, devido ao boom das compras online gerado pela pandemia de covid-19, a multinacional fazia 10 mil dólares por minuto, 24 horas por dia.

Ao lado do comércio online, ela oferece serviços como Amazon Pay e as plataformas de streaming Amazon Music e Prime Video. Além disso, o serviço de cloud Amazon Web Services (AWS) é uma das maiores server farms (fazendas de servidores) do mundo, contendo bilhões de volumes de dados produzidos por outras empresas online. Atualmente a AWS responde por mais da metade do lucro da Amazon.

Bezos compreendeu desde cedo que "lá fora está acontecendo uma corrida do ouro do e-commerce", recorda James Marcus, contratado em 1996 para escrever resenhas literárias para o site. Já na época, a visão do fundador era oferecer em sua plataforma tudo o que se pudesse enviar pelo correio. "Marcas são como cimento de secagem rápida: não queremos ser conhecidos só como livreiros online", argumentava Bezos.

O segredo dos 25 anos de sucesso da Amazon é o foco total na satisfação do cliente, muitas vezes às custas de seus funcionários e vendedores associados. Só o ritmo de trabalho acelerado nos centros de logística permite a entrega dos artigos em tempo recorde. E quando a firma generosamente aceita a devolução das mercadorias, muitas vezes os vendedores externos é que arcam com os custos.

Ainda assim, o economista alemão Holger Schmidt não vê sentido em que políticos e guardiães antitruste mudem as regras em detrimento da Amazon e outros gigantes da alta tecnologia.

"Plataformas têm que ser tratadas diferente das companhias clássicas. Quebrá-las eliminaria os efeitos de conexão em rede, prejudicando, assim, o consumidor que se beneficia das inovações, a grande oferta e preços baixos. Não conheço nenhum consumidor que se queixe da Amazon", defende o autor e professor da Universidade de Darmstadt.

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