Telejornalismo ajudou a criar e destruir o mito Eike Batista
Jornalistas que antes forjavam amizade com o ex-magnata agora o desprezam diante das câmeras
A maior parte da imprensa sempre foi cúmplice da megalomania de Eike Batista. Como personagem, ele serviu aos jornalistas que propagandeavam seus bens, os projetos faraônicos, as declarações presunçosas, o exemplo de sucesso que supostamente elevava a autoestima do brasileiro.
Poucas vezes houve contestação de informações e uma crítica incisiva à flagrante incoerência de seu discurso e da utopia que vendia.
Essa mesma mídia agora veste a toga da ética para espezinhá-lo. Na TV, alguns âncoras e comentaristas de política e economia abusam da verborragia a fim de pichar a imagem do ex-futuro homem mais rico do planeta. Por que não o questionaram antes? Há um cheiro de oportunismo no ar.
Eike representa a figura midiática recorrente: o todo-poderoso que vai do céu ao inferno; é incensado quase até a asfixia para depois ser lentamente imolado diante dos olhos do público.
O telejornalismo adora desarmar a cama elástica de quem está desabando rumo ao fundo do poço.
Alguns jornalistas que antes forjavam intimidade com o magnata, passaram a fazer cara de paisagem ou, num grau mais alto de dissimulação, ironizam sua decadência vertiginosa.
Esses puxa-sacos da imprensa televisiva provavelmente já estão à caça de um novo ídolo – ou melhor, outra vítima. Eike, o Midas, perdeu status. Agora só interessa na função de delator.
Mas o personagem ainda oferece substância essencial à TV: audiência. Então dá-se tratamento cinematográfico ao seu calvário. Afinal, jornalismo também é show.
Logo a mídia vai eleger a nova encarnação do ‘american dream’ brasileiro. E (quase) todos vão acreditar nela. Quem resiste a um bom personagem fictício?