'Plantão Médico' faz 15 anos e chega ao fim com sangue falso e lágrimas
A última temporada de ER (Plantão Médico), a série da NBC há 15 anos no ar, foi de retorno ao lar para muitas de suas ex-estrelas, que fizeram suas participações finais no County General Hospital antes deste fechar suas portas nessa primavera americana.
George Clooney, Julianna Margulies, Anthony Edwards, Noah Wyle e outros se revezaram em participações especiais de episódios já transmitidos ou que levarão ao final da série em 2 de abril. Assim como em um hospital de verdade, são esses médicos e enfermeiras que tomam as decisões dramáticas e que levaram o maior reconhecimento e glória pelo sucesso da série, ganhadora de 22 Emmys.
Mas outros veteranos de ER permaneceram nos mesmos lugares que ocuparam desde o início da série em 1994: nos bastidores, trabalhando na criação de figurino, aquisição de equipamentos, construção e decoração de cenários, e supervisão da edição e outros detalhes técnicos para um dos programas de maior sucesso na história da televisão.
Embora cerca de 750 atores tenham aparecido em diversos episódios de ER, não sobrou ninguém do elenco do primeiro ano do programa. Cerca de 20 pessoas, no entanto, que não aparecem na frente das câmeras nem têm falas, estiveram com a série basicamente durante toda a sua existência.
São esses auxiliares que durante 15 anos movimentaram o hospital, obtendo 130 mil aventais hospitalares, espalhando centenas de litros de sangue falso e estocando armários com milhares de seringas e instrumentos cirúrgicos de mentira. Para eles, não existem tapetes vermelhos nem capas de revistas, e os prêmios que recebem são do tipo que se entrega nas porções não-televisionadas e menos glamorosas dos eventos de premiação. Mas nada disso tira seu entusiasmo pelo trabalho.
"Anseio por oportunidades como fazer alguém parecer verdadeiramente machucado do jeito que o roteiro exige", disse Radford Polinsky, que transformou o que era para ser um bico como figurinista do ER em uma jornada de 15 anos. "Existem diferentes formas de fazer as pessoas parecerem espancadas, ensangüentadas, queimadas, sujas, imundas, lamacentas, cobertas de excremento ou de fluidos corporais. Às vezes, é bastante sinistro, mas esses são desafios que eu e a equipe de figurino enfrentamos, e nos divertimos com isso."
Alguns dos membros da velha-guarda incluem Michael Crichton, criador da série que morreu no ano passado, e John Wells, produtor-executivo que gerencia as operações diárias do programa e que escreveu o final da série.
Os outros desse grupo, no entanto, são pessoas como Terence Nightingall, que deu sorte em seu trabalho como assistente de câmera, que deveria ser temporário enquanto o assistente regular do diretor de fotografia estava em outra tarefa.
"Bom, o assistente nunca retornou e 15 anos depois ainda estou aqui no programa." Nightingall disse recentemente durante um intervalo nas filmagens em um set da Warner Brothers. Nightingall, que hoje é o operador de câmera do programa, também dirigiu dois episódios, além de ter se tornado especialista no uso da Steadicam, uma câmera móvel acoplada ao corpo do operador que deu a ER sua marca registrada, o estilo "em meio ao trauma".
A mobilidade vertical é uma das coisas que fazem a série ser especial, ele disse. "Os gestores do programa sempre foram muito bons em possibilitar que as pessoas pudessem ser promovidas em suas áreas para vários cargos", Nightingall disse. "Eles incentivaram isso e permitiram que usássemos essa oportunidade para avançarmos na carreira dentro do negócio."
Pouco continua o mesmo, tanto na produção televisiva quanto na medicina, passados 15 anos desde o início da série. Para Rick Kerns, que serviu como mestre de equipamentos desde a primeira temporada, "minha coisa favorita era conseguir me manter atualizado com o que os fabricantes de aparelhos médicos estavam fazendo, e assegurar que estivéssemos adequados à última tecnologia a qual podíamos ter acesso."
Para ele, isso significa participar de convenções médicas, conversar com representantes de vendas de equipamentos e ler publicações da American College of Emergency Physicians e American Medical Association. "Existem algumas revistas que mencionam 'o doutor Rick Kerns', o que acho hilário," ele disse.
Grande parte da responsabilidade pela adequação médica da série fica a cargo de três médicos que possuem treinamento em medicina de pronto-socorro e trabalham como consultores, se revezando para que um deles esteja no set de filmagens todos os dias. O doutor Joe Sachs, que começou como um desses três, usou seus 15 anos na série para mudar de posto, primeiro como roteirista, e depois como produtor-executivo.
É seu trabalho, em parte, desafiar continuamente os jovens roteiristas, não permitindo que eles repitam os casos médicos que o programa já abordou. "Um novo roteirista chega e faz pesquisa, fica entusiasmado e entra na sala para contar sua idéia, e depois de um minuto, tenho que dizer, 'sabe, já fizemos isso na sexta temporada'", contou.
A série conseguiu introduzir as mais novas técnicas médicas no programa. Na mais recente estréia de temporada, escrita por Sachs, ele mostrou uma técnica de campo para criar uma passagem de ar através do pescoço, um método sobre o qual ele leu em periódicos médicos, usando a ponta do tubo que sai de uma bolsa de soro para furar o pescoço.
Algumas mudanças ocorrem mais lentamente. Aventais hospitalares não mudaram muitos nos últimos 15 anos, mas Lyn Paolo, criadora de figurinos durante todo esse tempo, ainda teve muito o que fazer. "Falam para mim o todo tempo, o que você faz?" Paolo disse. "As pessoas só usam aventais."
Isso é um elogio, ela acrescentou. "Eles simplesmente presumem que todos que entram pelas portas do hospital já apareceram vestidos daquele jeito," ela disse. Mas quando um gangster ou uma professora escolar ou um empresário chega ao pronto-socorro do County General, "você precisa mostrar quem são aquelas pessoas nos 30 segundos que são empurradas em uma maca," ela disse.
"É preciso acertar no figurino. Acho que a dificuldade em "ER" é fazer tudo parecer real. "Muitas pessoas trabalhando no ER, funcionários de curto e longo prazo, dizem que estão preocupadas sobre suas perspectivas futuras. As emissoras estão cortando produções de séries com roteiro a favor de reality shows e, no caso da NBC, substituindo todo o bloco de dramas do horário nobre pelo novo programa de entrevistas de Jay Leno.