Os bastidores da previsível demissão de Renata Afonso, CEO da CNN Brasil
Saída da executiva deve gerar mudanças na programação e possíveis demissões de apresentadores e comentaristas
O comunicado da demissão de Renata Afonso não pegou ninguém de surpresa. A CEO da CNN Brasil estava em situação delicada e demonstrava a intenção de tomar outro rumo.
Sua posição se deteriorou quando o dono do canal, o bilionário Rubens Menin, contratou um amigo de confiança, o empresário João Camargo, para ser chairman (presidente do Conselho de Administração). Agora, ele acumulará a função de presidente-executivo.
A chegada do novo todo-poderoso gerou o esvaziamento do poder de Renata, que havia assumido o comando em maio de 2021, após bem-sucedida gestão na TV Tem, afiliada da Globo no interior paulista.
Em seus 19 meses no cargo, a CEO não conseguiu resultado relevante de audiência. Lançada em março de 2020, a CNN Brasil acabou superada no Ibope pela Jovem Pan News, inaugurada em outubro de 2021.
Visto inicialmente como um canal simpático a Jair Bolsonaro pelo apoio declarado de seu proprietário ao presidente, a emissora logo aumentou o tom das críticas contra o gerenciamento da pandemia de covid-19.
Passou a ser tão opositora do governo quanto a líder entre os canais de notícias, a GloboNews, da família Marinho. Correndo por fora, a Jovem Pan News se assumiu porta-voz da direita radical e do bolsonarismo. Com isso, atraiu mais público rapidamente.
O principal projeto de Renata Afonso foi o CNN Soft, bloco de programas com pautas leves (uma parte voltada ao entretenimento), em contraponto às hard news, o noticiário quente sobre política, economia e segurança pública.
Editorialmente, a ideia era interessante, mas, na prática, não funcionou para gerar mais audiência e aumentar o faturamento.
Além de ficar atrás das principais concorrentes no Ibope, a CNN Brasil suscita pouca repercussão nas redes sociais. O engajamento na internet se tornou imprescindível para qualquer rede de TV. A influência on-line é um termômetro para o mercado publicitário.
Recentemente, comentou-se mais a respeito de problemas internos do canal, como a demissão do âncora Daniel Adjuto por suposto desentendimento com uma colega e o desmonte da redação do Rio, do que pelo conteúdo dos telejornais e outras atrações.
Importante ressaltar a qualidade da programação da CNN Brasil e a capacidade de seus jornalistas. Entre as emissoras do gênero, é a que mais pratica o equilíbrio na cobertura dos fatos, com espaço ao necessário contraditório.
Enquanto isso, a GloboNews se firma progressista (com gritante discurso antibolsonarista e pouca pluralidade) e a Jovem Pan News continua panfletária do conservadorismo e do antiesquerdismo.
A saída de Renata Afonso reforça a autoridade de João Camargo e indica prováveis mudanças no canal. Nos bastidores, há temor por uma onda de dispensas de profissionais de vídeo e guinada editorial à direita para bater de frente com a JP News.
Sabe-se que uma das missões do novo presidente-executivo é aumentar as receitas da TV. A CNN Brasil ainda não dá lucro. Com fortuna de quase R$ 2 bilhões, Rubens Menin parece disposto a continuar a investir desde que haja perspectiva de maior retorno financeiro a médio prazo.
A demissão de Renata Afonso afeta a representativa na elite da comunicação do Brasil. Ela era a única mulher, e única pessoa declaradamente gay, a comandar uma grande emissora de TV no País.
Globo, Record, SBT, Band, RedeTV!, TV Brasil, GloboNews e Jovem Pan News têm como CEO ou presidente homens aparentemente heterossexuais.
Antes das passagens por CNN Brasil e TV Tem, Renata Afonso teve cargos executivos na RedeTV!, HBO Latin America, Grupo Bandeirantes e MTV. No início da carreira, foi repórter e apresentadora de telejornais.
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