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Malga di Paula: "às vezes, Glória nos chama para 'aturcalhar' a novela

28 nov 2012 - 13h06
(atualizado às 13h14)
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A empresária Malga di Paula tem, há oito meses, uma espécie de ideia fixa quando o assunto é a memória do marido, o humorista Chico Anysio, morto em março deste ano. Investe todas as suas energias em captar financiamentos para o apoio a uma pesquisa pioneira no combate ao enfisema pulmonar, mal que matou o humorista, fumante por 40 anos. O desafio é grande, já que os recursos são da ordem de R$ 800 mil. “Hei de conseguir esse dinheiro”, decreta.

Apaixonada pela Turquia e devota de São Jorge, Malga di Paula já viajou 19 vezes para o país mulçumano
Apaixonada pela Turquia e devota de São Jorge, Malga di Paula já viajou 19 vezes para o país mulçumano
Foto: Eny Miranda / Divulgação

Enquanto reúne adeptos e divulga a campanha através do Instituto Chico Anysio, Malga se apega em duas outras paixões: a Turquia e São Jorge, seu santo de devoção. Foi por essa estreita relação com o país, onde já esteve nada menos que 19 vezes, que a empresária foi convidada para dar consultoria e fazer trabalho de pesquisa para a novela Salve Jorge, no ar às 21h na TV Globo. Empolgada com o trabalho, diz acreditar que o folhetim cairá no gosto do público e que, esporadicamente, é acionada para auxiliar a autora Glória Perez. “Às vezes, a Glória nos chama para ‘aturcalhar’ a novela”, brinca. Confira a entrevista exclusiva concedida ao Terra

 
Terra – Em que pé estão as articulações para conseguir financiamento para a pesquisa de células-tronco e consequente tratamento de pacientes com enfisema pulmonar?
Malga di Paula – Nós apresentamos um projeto pro CNPq que está dentro dos trâmites legais, em fase de avaliação. Mas é muito difícil de conseguir dinheiro. Eu achei, sinceramente, que não seria tão difícil assim porque tem tanta gente desesperada precisando, em pânico mesmo porque os familiares estão morrendo... Então, achei que as comunidades se mobilizariam mais. Acho que faltam mobilização e divulgação. Quanto mais puder divulgar, melhor, porque assim a pessoas começam a doar e o dinheiro vai entrando aos pouquinhos. Eu entendo que, se todas as pessoas que gostavam do Chico doarem um pouquinho, a gente consegue. Se tiver o dinheiro, a pesquisa se viabiliza. Hoje ela está parada, apesar de já estar num estágio bem avançado. Nós acreditamos que o CNPq aprovaria, mas temos consciência de que há outros projetos em avaliação. Na verdade, a gente tem muito pouco crédito no Brasil para pesquisa. Veja bem: o País tem lei para incentivo à cultura, ao esporte, com abatimento em imposto de renda, e para a saúde não existe isso. Mas vamos levando do jeito que dá. O instituto tem que se manter, estamos nos desdobrando pra ficar de portas abertas. Mas existem algumas ações de algumas pessoas influentes que estão se dispondo a colaborar. 
 
Terra – Qual a equipe que está tocando essa pesquisa?
Malga di Paula – Ela é coordenada pelo médico João Tadeu Paes, da UNESP, que é o primeiro cientista do mundo a fazer essa pesquisa. Hoje ele é muito reconhecido cientificamente. Foi ele quem descobriu pela primeira vez que é possível aplicar as células-tronco no tratamento do enfisema pulmonar. Ele é um gênio e muito sério. Estamos juntando dinheiro para dar para ele concluir essa pesquisa, que é a primeira neste sentido a ser realizada no mundo todo. O fato é que precisamos que os testes sejam feitos em 40 pessoas, que não podem ser cobradas por participar do tratamento inédito. Então, o dinheiro é para isso. As pessoas estão se inscrevendo, se candidatando no site do instituto (institutochicoanysio.org). Eu hei de conseguir esse dinheiro. E é importante lembrar que isso é bom também para o Brasil, antes que outro país faça. 
 
Terra – Você está nesta empreitada como forma de preservar a memória afetiva de Chico Anysio. E com relação à preservação da história dele, como está o acervo do humorista?
Malga di Paula - Quem tem na verdade um grande acervo do Chico é o Jader Soares, um humorista conhecido como “Zebrinha”, que tem muita coisa do Chico, há muito tempo, lá em Fortaleza. Ele foi um superfã do Chico durante todos esses anos, tem coisa que nem nós temos. O Jader montou um teatro lá. Eles eram grandes amigos. Na verdade, existe um projeto para que o governo do Ceará ajude a ampliar esse projeto iniciado pelo Jader. O acervo atualmente está num imóvel que é da família do Jader, que não tem muita segurança, não tem muitas condições estruturais. Agora, eles estão trabalhando para construir um espaço adequado. Se o governo do Ceará fizer mesmo uma estrutura adequada, o que eu puder fazer para colaborar vou fazer, com doações, por exemplo. 
 
Terra - Tem muita coisa que poderia ser reunida em um importante acervo, até mesmo um museu? 
Malga di Paula – Bom, o trabalho dele mesmo, que é muita coisa escrita, é dos filhos, são eles os herdeiros. Tem muito filme escrito, muitos livros não publicados, muita música... Ele produzia demais. É tudo dos filhos, mas ainda está em inventário. Eu sei que tem muita coisa boa, ele ia fazendo e mostrando pra gente. Acredito que, além dos livros, tenha mais de cem roteiros de filmes prontos. Está tudo aí, muito organizado. Está tudo comigo, por enquanto, tudo arrumadinho, do jeito que ele deixou. A gente tem pena de mexer. Tenho todas as coisinhas dele. Cada abotoadura das gravatas, tudo igualzinho ele deixou. O Chico mesmo gostava de arrumar o closet dele, por exemplo. Fazia pouco tempo que ele tinha arrumado (antes de morrer). 
 
Terra – Além do trabalho no Instituto Chico Anysio, você atua como pesquisadora e consultora para a novela Salve Jorge. Você acha que as pessoas vão se apaixonar pela Turquia, onde se passa parte do folhetim?  
Malga di Paula - Eu acho que as pessoas vão gostar cada vez mais e mais. A Turquia começou aparecendo bem pouquinho na novela. Com a ida das vilãs pra lá, como a personagem da Claudia Raia, está se destacando. Tenho certeza de que as pessoas vão adorar. A cultura é muito bonita. Da mesma forma que a Turquia se parece com o Ocidente tem coisas que são muito exóticas e engraçadas para a gente. O que acontece mesmo é que final de novela é isso: ficam com saudade da novela antiga (Avenida Brasil, sobre a dificuldade de aceitação do público). A gente agora está feliz, com o passar dos capítulos. Continuo ajudando a Glória e a equipe, mas, claro, que o trabalho maior já foi feito há meses, quando a levei pra lá, fizemos um trabalho com toda equipe lá. Agora, a Glória escreve tudo sozinha. De vez em quando, ela chama pra gente dar uma “aturcalhada” na novela. A gente não mexe na história, só adapta à realidade da Turquia. Falamos, por exemplo: ‘ah, numa situação específica, os turcos fariam um drama, ou o contrário, não se assustariam’. Enfim, a gente vai ‘aturcalhando’ o texto mesmo, conforme ela vai precisando… 
 
Terra - O Chico Anysio dividia essa paixão pela Turquia com você?
Malga di Paula – No começo eu falava muito sobre a Turquia e ninguém do Brasil queria ir pra lá. Eu falava que era maravilhoso, mas ninguém tinha interesse, nem o Chico. Mas, conforme continuei falando, ele começou a demonstrar desejo de ir, mas neste momento, os médicos já não deixavam que ele viajasse. Ele me estimulava muito, mas, por mais eu tenha me apaixonado pela Turquia, não consegui despertar isso nele. Estive lá 19 vezes até hoje. 
 
Terra – Você e a Glória comentam rotineiramente sobre a novela, qual a relação de vocês duas?
Malga di Paula - Eu adoro a Glória! Na verdade, eu conhecia a Glória de poucos encontros, e, em 2009, eu a chamei para ir para a Turquia comigo. Ela estava doentinha na época e não pode ir. Aí, no ano passado, ela me ligou dizendo que a novela seria mesmo na Turquia. Foi então que nos sentamos para conversar. Ela é uma flor de pessoa. É hoje um dos meus ídolos.
 
Terra - Você acha que o público se interessa mesmo por conhecer a cultura da Turquia? Não fica um pouco estereotipado?
Malga di Paula - Dos muçulmanos a Turquia é o único país democrático. A cultura muçulmana está lá e você pode entrar em contato direto com ela sem problema algum. Eu tive a oportunidade de conhecer a cultura islâmica lá, sem problemas. E aquilo lá também é um caldeirão de cultura. Você encontra coisas das grandes civilizações, como a helênica, por exemplo, o Império Romano, o Bizantino, o Otomano. Para nós que somos cristãos é interessante, porque você começa a ver que as coisas realmente bíblicas aconteceram mais na Turquia do que até em Jerusalém. O cristianismo sobreviveu mesmo foi fora de Jerusalém. Então você chega lá e vê o lugar exato que foi citado na Bíblia, que João Evangelista, por exemplo, escreveu o Apocalipse naquela região. Todas as igrejas do apocalipse estão ali... 
 
Terra - E como é a questão da segurança, como você se sente lá? 
Malga di Paula - Istambul é considerada uma das cidades mais seguras do mundo. Tem um sistema de segurança enorme, é como Nova York, porque já foi atacada também. Os conflitos se concentram mais ao sul, você não percebe nada andando pela Turquia. Aquilo ali pra mim é que é o verdadeiro islã e não aquelas loucuras fundamentalistas que fazem (em outros países). Eles são de paz, são de amor. 
 
Terra – Você também está prestes a publicar um livro. O que vem por aí?
Malga di Paula - Já fechei com minha editora,  que ainda não posso anunciar qual é, mas vai ser lançado nos próximos meses. Vai ser sobre São Jorge, mas também um pouco autobiográfico. Vou responder perguntas sobre quem é essa pessoa que foi para a Turquia e fez com que São Jorge fosse conhecido por lá. Fui eu que fiz são Jorge ficar conhecido lá. Eles têm curiosidade de saber quem sou eu. E acaba que eu conto um pouquinho de minhas origens também, e, claro, falo de minha relação com o Chico. Meu projeto lá, que é de criar um memorial dedicado a São Jorge, acabou interrompido quando tive que cuidar do Chico. E tem uma cooperativa no interior da Turquia que nós apoiamos através da associação Jorge da Capadócia, que faz esse trabalho lá com famílias pobres e também aqui no Brasil. Acho que é um livro interessante. Acredito que em fevereiro seja lançado. 
Fonte: Terra
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