L7nnon reflete sobre transição de cantor para ator: 'Não estou roubando o lugar de alguém'
Em entrevista à Contigo!, L7nnon revelou mais detalhes de sua preparação para estrear como Ryan em Dona de Mim, novela das sete da Globo
Sucesso na música, L7nnon debuta como ator na pele do Ryan, de Dona de Mim. Conquistando o público, o artista fala do medo que teve no início da trama da TV Globo, diz que por meio do personagem representa muitas pessoas e conta o que faz para não se deslumbrar com a fama, em entrevista à Contigo! Novelas.
Como de cantor virou ator também?
"Eu já pensava em atuar, não sabia como seria esse pontapé inicial. Já me arrisquei a fazer alguns clipes meus com um pouco de atuação, mas da minha forma, sem preparação. Também fiz duas participações importantes, nos filmes Kasa Branca e Confia: Sonho de Cria, mas em ambos eu era o L7 mesmo. E aí me convidaram para fazer um teste para a novela e acabei passando. Eu me cobro muito em fazer com excelência as coisas que pego para fazer. Hoje a gente vive numa era do cancelamento, a graça da internet hoje é incriminar alguém, cancelar alguém, ter like na tua postagem. Então, quando passei no teste, me preparei para que as pessoas não pudessem falar: 'Ah, mas ele não tem DRT, ele não é ator, ele está roubando o lugar de alguém.' Sendo que, para eu ser o L7, não foi alguém que falou: 'Toma essa carcaça aqui, agora você é o L7'. Foi a minha luta, fui eu querendo conquistar e transformando a minha parada em algo tão significante ao ponto de alguém me chamar para fazer um teste. Não estou roubando o lugar de alguém ou descredibilizando o papel de quem estudou Teatro, Artes Cênicas, longe de mim. Acho que tem espaço pra todo mundo. Se um cara do teatro começar a fazer música, não vou ser o cara que vai falar: 'Teu lugar é no teatro, você não faz música'. Pelo contrário, vou falar: 'Que irado que você está fazendo música também!'".
Como foi se ver na novela pela primeira vez?
"Juntei vários amigos em casa no dia que eu iria aparecer pela primeira vez na novela. E aí, quando eu apareci, todo mundo começou a gritar, mas eu mesmo por dentro pensei: "Não gostei". Na hora não falei, guardei pra mim e isso me preocupou, pensei que eu poderia mandar mal mesmo e o que poderia ser uma bênção pra mim poderia virar uma maldição também, se eu não conseguisse entregar. E como a gente grava as coisas bastante fora de ordem, a cena que foi ao ar primeiro não foi a primeira que gravei. A primeira que gravei era muito importante. Aquilo ficou na minha cabeça, fiquei pensando que a cena devia estar um lixo [risos]. Fiquei desesperado. Só que quando a cena foi ao ar, que é o primeiro encontro do Ryan com o irmão na cadeia, todo mundo falou bem e aí me tranquilizou. Fui entendendo melhor também o lance de gravar, de você se ambientar mais com o personagem, entender as situações e hoje estou confortável. Tenho achado legal, tenho me arriscado mais, tentando mostrar o artista, tentando ser mais natural e acho que está funcionando, a galera está falando bem".
Surpreendeu quem achou que você iria 'canastrar'?
"O que me move na vida é isso. Quanto mais as pessoas acham que não vai dar é aí que eu quero fazer".
De que maneira o Ryan já entrou na sua vida?
"O Ryan é um cara que transita muito ao redor do Lennon, desde familiar ao ciclo de amizade, de pessoas que tentam recomeçar a vida após sair de uma prisão, que tiveram sua liberdade privada pelas escolhas da vida. Tenho amigos e parentes que já viveram isso e tento, por meio do Ryan, representar a dor dessas pessoas, a dor do recomeço, de você ver que o mundo já não vai te enxergar mais da mesma forma. As pessoas estão conseguindo entender o quão difícil é para o Ryan se ressocializar. Obviamente tem pessoas que saem e que não vão mudar. Mas existe mudança. Seria a coisa mais injusta da minha parte não acreditar na mudança de alguém. Se uma pessoa errou comigo, dependendo do erro, óbvio, eu dou uma segunda chance. Se ela fizer de novo, aí é um problema só dela. Então o Ryan representa muita coisa para mim na minha vivência, no meu público, no meu público-alvo também, né? Porque o meu mundo ampliou de uma forma muito significativa de acordo com os hits que a minha carreira teve. Só que, ao mesmo tempo, quem fez eu chegar aonde estou e quem viralizou as minhas músicas foi a favela, o povo periférico, as pessoas de pouco dinheiro, as menos ouvidas, que são invisíveis, foram essas pessoas que fizeram eu ser visto. Então a minha arte tem que ser para essas pessoas".
Então o Ryan foi um presente...
"Foi, porque é um cara que conversa com essa vida periférica, essa falta de oportunidade, de opção, obviamente, deixando claro que não é porque é favelado que é bandido, não é nada disso. Até porque, numa favela, menos de 5% de quem mora lá deve ser bandido. Mas o resto todo, aquele universo que é a periferia, são pessoas sonhadoras, que não são ouvidas. São pessoas e universos muitos parecidos em endereços e corpos diferentes, mas que se comunicam por meio das vivências".
A novela te deu um público novo?
"Está uma doideira, aonde vou só falam do Ryan [risos]. Antigamente, perguntavam quando eu iria lançar música nova, agora é: 'Vai sair da cadeia quando?' [risos]. Esses dias, uma senhora de uns 80 anos me chamou, segurou minha mão tipo vó, fez um carinho e falou assim: 'Filho, estou tão feliz que você saiu da cadeia!' Ela mergulhou na história e achou que eu só estava na rua por isso. Aí eu disse que estou muito feliz também, nem contrariei, só agradeci [risos]".
Você é um grande nome desta geração do rap e não se deslumbrou. Nem em polêmicas se envolve...
"Hoje em dia, o que move muito o mundo é a polêmica. Tem pessoas que acho que não são MCs, que a visão não é fazer música, é gerar uma polêmica para lançar música. E a gente que lança a música por lançar, se deu certo, deu, se não deu, nós vamos seguir fazendo. É mais difícil, mas é mais prazeroso. Não quero estar com o meu nome envolvido em briga para isso favorecer o meu trabalho. Sou uma pessoa real, amo meus amigos, minha família. Faço música e retrato a minha realidade. Se a pessoa aceitar, beleza. Se não aceitar, beleza também. Prezo muito por tudo que aprendi, desde os ensinamentos da minha família quanto a energia que os meus fãs emanam para mim. Não quero decepcionar minha família, meus fãs que se apaixonaram por mim por eu ser como era. Aí agora, que conquistei tudo, vou ser outra pessoa, vou passar a ser um cara arrogante, que não está nem aí para ninguém, que desrespeita as pessoa? Tudo que faço é pensando nisso. Tenho dois irmãos mais novos que me veem como exemplo. As pessoas falam 'Tu é humilde!'. Não sou humilde, sou real. A partir do momento que eu parar de ser isso, aí minha vida já não vai mais estar fazendo tanto sentido. Aí o papai do céu pode me levar, pode tirar tudo que tenho e me botar para aprender a viver de novo".
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