Há 57 anos, insatisfação de ator com novela iniciou movimento que tirou autora da Globo
Com três personagens em sua primeira novela da Globo, ator não escondeu insatisfação com o texto e deixou a emissora ao final da trama
Em 5 de fevereiro de 1968, há 57 anos, a TV Globo São Paulo estreava O Santo Mestiço como sua nova novela das sete. A trama era assinada pela controversa Glória Magadan e o texto não agradou Sérgio Cardoso, ator que estava em sua primeira novela na emissora com três papéis e exibiu sua insatisfação, ação que iniciou movimento que tirou a autora da Globo.
Protesto de Sérgio Cardoso
A trama de O Santo Mestiço era baseada na história real de São Martinho de Porres, nascido no Peru e canonizado em 1962. Como destaca o jornalista Nilson Xavier, do Teledramaturgia, apesar do forte apelo melodramático característico das novelas da autora, a produção foi marcada por um fator inusitado: a insatisfação pública de um de seus protagonistas, Sérgio Cardoso.
Cardoso, em sua primeira novela na Globo, interpretava três personagens, mas rapidamente se mostrou descontente com a qualidade do texto. Segundo Xavier, o sentimento, externado nos bastidores, foi o estopim de um movimento que acabaria por desbancar Glória Magadan da posição de poder que exercia sobre a teledramaturgia da emissora. Ao fim da novela, o ator chegou a retornar para a TV Tupi.
A trama também marcou a primeira novela dos atores Edney Giovenazzi e Germano Filho na Globo. Ainda assim, o maior impacto do folhetim não veio de seu enredo, mas sim das consequências que sua produção gerou para os rumos da teledramaturgia brasileira.
Bastidores da mudança
Glória Magadan era conhecida por seu estilo folhetinesco e pelo gosto por tramas exóticas e melodramáticas, muitas vezes ambientadas fora do Brasil. No entanto, sua influência começava a ser questionada internamente. A insatisfação de Cardoso ecoou entre outros artistas e produtores, criando uma pressão interna para uma mudança na direção das novelas da emissora.
O estopim da queda de Magadan veio com A Última Valsa, novela que estreou em 7 de janeiro de 1969. A trama, inspirada no romance Moulin Rouge, de Pierre La Mure, não obteve a audiência esperada, tornando-se vulnerável às movimentações nos bastidores.
Boni, então superintendente da Globo, viu nessa fraqueza a oportunidade perfeita para reformular a dramaturgia da emissora. Como Glória Magadan tinha contrato garantindo controle total sobre as novelas, a solução foi encurtar A Última Valsa para 103 capítulos e comunicar a decisão à autora. Sentindo-se desrespeitada, Magadan, influenciada por aliados de Boni, pediu demissão, acreditando que seria persuadida a ficar. No entanto, a Globo aceitou prontamente sua saída.