No ar em 'Cordel Encantado', atriz quer estreitar relação com a TV
- Geraldo Bessa
Com 20 anos de carreira praticamente dedicados inteiramente a peças alternativas e filmes independentes, Mariana Lima acredita que só agora encontrou seu lugar na televisão. O novo momento é marcado pela alegria da atriz em viver a rainha Helena de Cordel Encantado, trama das 18h da TV Globo. "Não soube fazer meu nome na TV. É uma volta de alto nível. Eu era muito imatura quando fiz minha primeira novela. Quero consertar isso", admitiu Mariana, que estreou na televisão na pele da sensível Liliana de O Rei do Gado, em 1996.
Em Cordel Encantado, de Thelma Guedes e Duca Rachid, a atriz interpreta a doce Helena. Mãe de Felipe (Jayme Matarazzo) e Inácio (Mauricio Destri), a personagem deixa o reino em Seráfia e chega à nordestina Brogodó. Na companhia da Corte, ela está no Brasil em busca de Aurora (Bianca Bin), a princesa desaparecida que simboliza a paz do reino europeu. "Ela se sente feliz em Brogodó. E ainda se interessa pelo delegado Batoré. É uma relação que nasce da maturidade", conta, referindo-se ao personagem de Osmar Prado.
Atualmente, Mariana divide-se entre as gravações da novela e o espetáculo Pterodátilos, de Felipe Hisch, que depois de passar pelo Rio de Janeiro e por São Paulo, começa uma turnê pelo país. Pelo desempenho na peça, ela ganhou o prêmio Shell de melhor atriz em 2011. "Conciliar os dois trabalhos é bem complicado. Na novela, sou doce e íntegra. No palco, interpreto uma louca alcoólatra".
TV Press - Em 20 anos de carreira, Cordel Encantado é a sua quarta novela. Você tem algum preconceito contra a televisão?
Mariana Lima - Não acho que a palavra certa seja preconceito. Mas eu realmente não conseguia me encantar pela TV. Tive ótimas experiências. Cada uma teve seu momento, suas dores e suas delícias. Minha primeira novela foi O Rei do Gado, uma trama linda, mas enorme. Eu tinha 24 anos e foi bem difícil de fazer. Estava no teatro, tinha feito dois filmes e sofri bastante com a adaptação. Além disso, foi complicado sair de São Paulo e ir para o Rio de Janeiro. Tive de lidar com a superexposição que uma novela do horário nobre acarreta. Não estava preparada para isso. Levei um susto.
TV Press - Sua última novela foi Desejos de Mulher, de 2002. O que levou você a encarar um folhetim inteiro quase 10 anos depois?
Mariana - Tudo é uma questão de maturidade. Com o passar dos anos, a vontade de voltar a fazer uma novela inteira, com um personagem interessante, foi surgindo de forma tranquila. Por sorte, recebi o convite da Amora Mautner e do Ricardo Waddington para fazer Cordel Encantado. Na primeira reunião, falei da minha felicidade em trabalhar com eles, mas ao mesmo tempo, expliquei meus compromissos com a peça Pterodátilos. Os dois falaram que tudo bem, que dava para conciliar, que fazer novela das 18h é uma coisa leve.
TV Press - E deu para conciliar?
Mariana - Lógico que não. Cordel Encantado é uma novela das 18h nada tranquila. Pela qualidade técnica e de texto, virou uma novela extremamente trabalhosa. A gente grava de segunda a sábado e a peça é de sexta a domingo. Já tive de ir para São Paulo na sexta, apresentei a peça, voltei para gravar no Rio sábado de manhã, e depois retornei para São Paulo. As cenas têm uma luz linda, os figurinos são fabulosos. Eu demoro uma hora e meia para ficar pronta, pois tenho de botar cabelo, vestir roupas complexas, cheias de adereços. Tudo é mais lento. Não é algo que você entra no estúdio e faz.
TV Press - O esforço valeu a pena?
Mariana - Minha volta aos folhetins não poderia ter sido melhor. O saldo é muito positivo, estou me sentindo realizada. Tenho um tesão muito grande por essa trama, gosto de ver, me dá muito orgulho. É tudo muito bem feito e bem escrito. Acho impressionante. Os capítulos chegam e eu leio como se fosse um romance.
TV Press - A experiência em Cordel Encantado mudou a forma de você lidar com a televisão?
Mariana - Me deu vontade de construir uma história mais próxima com o veículo. Hoje em dia, eu lido bem com o processo industrial. Acho que é um bom exercício. A televisão dá elasticidade ao ator, uma capacidade de estar sempre pronto, de entrar em cena e ter acesso à emoção de forma rápida. Você vai ao estúdio com as emoções à flor da pele e joga com o que você tem. Estou de olho nessas lições.