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Nathália Dill analisa sua personagem de 'Escrito nas Estrelas'

4 jun 2010 - 08h04
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Mariana Trigo

Nathália Dill tem se mostrado uma interessante contradição como atriz. Mesmo com gestos doces e frágeis, ela assegura que se identifica mais com textos masculinos e fortes para compor suas personagens. Com movimentos delicados e uma pele ainda mais parecida com porcelana diante dos cabelos escurecidos para a corajosa Viviane, de Escrito nas Estrelas, esta carioca de 24 anos acredita que só conseguiu se destacar na tevê quando decidiu seguir pela contramão. Como sempre fazia testes para moças meigas e pacatas pelos seus cabelos louros e olhos azuis, a atriz garante que não tinha chance de demonstrar seu principal recurso: a força cênica. "Tenho uma pegada mais viril nas personagens, tanto que em Malhação optei em fazer o teste com texto de menino. Se tivesse a fala de uma menina, talvez não tivesse rolado naturalmente e eu não tivesse mostrado meu potencial", acreditou Nathália, que, logo depois, teve de se adaptar ao jeito delicado de Santinha, sua primeira protagonista na tevê em Paraíso.

Agora, na trama de Elizabeth Jhin, Nathália volta a interpretar um papel que exige mais atitude. Sua personagem Viviane vive o dilema de engravidar por inseminação artificial do falecido Daniel, de Jayme Matarazzo. Para complicar ainda mais a situação, ela se envolve com Ricardo, de Humberto Martins, que é pai de Daniel e faz tudo para que Viviane gere seu neto através da barriga de aluguel. "Ainda nem sei como lidar com essa questão. Acho que a medicina avança mais rápido que os valores da sociedade. Mas o barato do meu trabalho é abrir ao máximo minha cabeça e me permitir", avaliou.

A Viviane é sua segunda protagonista consecutiva em seu terceiro trabalho na tevê. A que você atribui ter alcançado apenas papéis de destaque em tão pouco tempo de carreira?

Consegui encontrar as pessoas certas nesse período. Ter personagens principais tem sido fruto de muita luta e muito estudo aliado ao fato de trabalhar com profissionais que têm a mesma sintonia de trabalho. Isso gera frutos interessantes. Atribuo também a muito trabalho e pesquisa. Dei sorte de fazer testes para personagens em que me senti confortável e capaz de fazer. Os testes também casaram com o olhar da direção sobre o tipo de atriz que eles queriam. Isso está dos dois lados. Não é só chegar e ser aprovada. Posso chegar de um jeito e a recepção ser outra. O ideal é ter a mesma sintonia, a mesma ideia, ter o mesmo pensamento do papel.

Suas duas protagonistas na tevê abordaram enfoques religiosos. A Santinha com o catolicismo e a Viviane fala sobre o tema da vida após a morte através do espiritismo. Como você lida com a religião como tema central?

Em Paraíso, tinha uma pegada maior na religiosidade. Mas o espiritismo me traz mais facilidade de compreensão das questões levantadas. Só que, no meu trabalho como atriz, é importante que eu tenha um olhar condescendente com qualquer assunto. Sei que preciso compreender muito bem o que estou transmitindo e isso não significa concordar com a religião, por exemplo. Esse é o barato do meu trabalho: me colocar em situações e circunstâncias que eu tenho de tentar abrir minha cabeça ao máximo e me permitir vasculhar novas ideias. Mas o interessante mesmo nesses dois trabalhos foi mostrar como a fé é abordada.

Você se identifica com questões religiosas?

Se tivesse de optar entre o catolicismo e o espiritismo, digo que me identifico mais com o espiritismo. Ele não é ligado a uma instituição como a igreja católica, que lida também com bens materiais e se distancia mais da fé. O espiritismo não tem esse histórico dos bens e da riqueza da religião católica. Mas cada religião merece ser observada e estudada. Pelo menos devemos compreender e tentar entender até o limite de cada um. Também não sei se acredito na vida após a morte.

Como foi a sua composição para essa personagem?

A Viviane tem uma energia vital diferente, ela é a personagem que já fiz na tevê mais parecida comigo. Tem muita garra, uma energia bem forte e até meio masculina que acho bem interessante de passar e que se encaixa na trama em vários tipos de cenas. O jeito dela combina com cenas de briga, tristeza, fuga. Ela tem nuances legais, uma força interessante. Mas a composição mesmo veio de acordo com as gravações. Foi fruto da convivência de uma semana gravando na favela Dona Marta, no Rio, e convivendo com aquela realidade. O ritmo de gravação pesado faz com que você fique mais atenta com a personagem.

De que forma?

Na verdade, não tive aquela composição de assistir a filmes, ficar pesquisando. Ela surgiu da observação mesmo, das referências pessoais que tive enquanto estava gravando e observando o universo do Rio, das pessoas que vivem nesse mundo desigual e lutam para sobreviver. Ela é muito contemporânea.

Viver uma personagem que levanta bandeira de uma ação social, que alerta contra o descaso aos menos favorecidos pode cair no didatismo do politicamente correto. Como essa abordagem social reflete em você?

Fui muito pouco em favelas na minha vida. Gostaria de ir mais e adoraria fazer trabalhos comunitários. Mas acho que a Viviane tem uma pegada menos ideológica. Tudo que ela faz para o próximo não é tão pensado, é instintivo. Ela age pela sensação do momento. Ela não estudou, não pesquisou sobre o assunto, não criou uma ONG. Ela só vê que o bicho está pegando quando precisam dela e acha que o certo é ajudar. Ela não programa nada, mas sempre envereda pela solidariedade. O mundo coloca a gente em algumas provas. Isso acontece com todo mundo. Mas ela tem uma natureza solidária.

Essa natureza também faz com que ela concorde em gerar um filho do personagem Daniel por meio de inseminação artificial. Como você avalia a abordagem da fecundação em uma barriga de aluguel do sêmen de um falecido?

Não sei, acho que é um assunto ainda novo. Não existe nenhuma lei que impeça essa consumação no Brasil. Me parece que o avanço da tecnologia é sempre muito mais rápido que o do pensamento da sociedade. Isso ainda está sendo pensado em todo o mundo. Não dá para palpitar muito. Não sei como lido com isso. A grande proposta da novela é pensar sobre essa questão. A Viviane é inseminada na novela e o grande barato tem sido fazer com que todo mundo reflita sobre isso. Estamos ainda tateando nesse assunto.

As suas três personagens, mesmo a Santinha, que era a mais doce, foram compostas com uma característica em comum: uma determinação muito evidente. Você tem construído sempre papéis com uma força bem explícita. Tem sido proposital?

Na verdade, só aprendi a ser mais doce e suave para a Santinha. Esse jeito mais delicado foi fruto de um trabalho específico para Paraíso, porque ela tinha uma doçura. Acho que, por ser sempre forte, eu não passava nos testes na tevê antes da Débora, de Malhação.

Como assim?

Sempre fui a loura de olhos claros, que parecia frágil e sempre pensavam em mim para papéis muito femininos e delicados. Já tinha feito vários testes para a Globo e nunca passava. Fiz testes para personagens doces e não casava com o perfil do papel. Em Malhação, me ofereceram dois tipos de teste. Eu poderia fazer o texto masculino ou feminino. Escolhi o masculino e foi por isso que passei porque me encontrava melhor. Se optasse por fazer o feminino, talvez não tivesse rolado naturalmente e eu não mostrasse meu potencial. Quando consegui mostrar essa outra pegada, pude me encaixar melhor. E quando veio a Santinha, já estava preparada para mostrar a docilidade que eles queriam e trabalhar em cima. Tenho uma pegada mais viril nos papéis. Sempre tive isso, nunca fui muito doce, mas aprendi a ser (risos).

Sem neuras

Nathália Dill garante que não se esforça para manter seus irretocáveis 52 kg distribuídos em 1,68 m de altura. A atriz, que passou grande parte de sua vida praticando diversos tipos de dança, como jazz e balé clássico ¿ sempre por incentivo da mãe ¿, atualmente assegura que não tem tido tempo suficiente para nenhuma prática esportiva por conta das gravações de Escrito nas Estrelas. Com isso, Nathália teve de abandonar temporariamente a ioga e até sente falta das aulas de capoeira e acrobacia que chegou a fazer tempos atrás. "Me identifico mesmo é com a ioga, que tem todo o trabalho de respiração que me acalma, me concentra. Com ela também trabalho meu alongamento e a força", ressaltou.

Para não ganhar peso durante as gravações, já que passa grande parte do seu dia em estúdios e com a tentação de exagerar nas calorias, a atriz procura apenas balancear sua alimentação. Se um dia decide ingerir alimentos mais calóricos, prefere segurar seus ímpetos no dia seguinte. "Gosto do equilíbrio. Uma alimentação totalmente 'light' não é equilibrada na minha visão. Odeio salada de fruta, por exemplo. Como o que me dá prazer e depois seguro a onda", explica a atriz, que está morando sozinha desde o início do ano.

Foco artístico

Nathália Dill afirma que um dos principais motivos que a levou a se tornar atriz foram as aulas de artes no colégio, ainda na infância. Já na adolescência, a atriz começou a frequentar cursos de teatro na Casa de Cultura Laura Alvim, no Rio, fez cursos livres em outras escolas até se matricular na faculdade de Direção Teatral na UFRJ, que trancou no sexto período. "Sempre estive aberta, disponível, fazendo testes e deixando a energia circular para que meus trabalhos fluíssem. Com isso, a Globo me contratou até 2013", comemorou.

Trajetória Televisiva

# Malhação (Globo, 2007) - Débora.

# Paraíso (Globo, 2009) - Santinha/Maria Rita.

# Dó Ré Mi Fábrica (Globo, 2009) - Viola.

# Escrito nas Estrelas (Globo, 2010) - Viviane.

Nathália Dill vive a sofrida Viviane em 'Escrito nas Estrelas'
Nathália Dill vive a sofrida Viviane em 'Escrito nas Estrelas'
Foto: Jorge Rodrigues Jorge/Carta Z Notícias / TV Press
Fonte: TV Press
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