Marília Gabriela volta com 'De Frente com Gabi'
- Simone Sartori
A entrevista continua sendo a matéria-prima da notícia. É da conversa que saem os furos, as revelações, as grandes manchetes do dia seguinte. E até mesmo muitas pesquisas que alimentam os noticiários são construídas a partir de um grande conjunto de entrevistas, que definem índices e cotações. Conversando é que se entende.
Marília Gabriela entende de conversa. Seu De Frente Com Gabi volta ao SBT depois de suas investidas como atriz nas novelas Senhora do Destino, de 2005, Duas Caras, de 2008, e na minissérie Cinquentinha, do ano passado. Para um programa exibido à meia-noite de domingo, a audiência foi mais que satisfatória: vice-liderança com 6 pontos de média e picos de 9, na Grande São Paulo, e 9 pontos de média e pico de 14, no Rio de Janeiro.
Na verdade, o programa foi um esquenta, já que entrevistar uma artista generosa e extrovertida como Hebe Camargo é como roubar doce de criança. A diretora Maria Helena Amaral criou um ambiente sem escapes: ante um fundo negro, apenas uma mesa de vidro em forma de cristal que separa entrevistada e entrevistadora. Para fugir do rotineiro plano e contraplano que se repete na maioria dos programas do gênero, a câmera ronda em torno do entrevistado e se arrisca em big closes inusitados. O que pode ser tão revelador quanto o próprio pingue-pongue.
Mesmo a presença de Marília Gabriela impõe uma nova dinâmica ao jornalístico. Ela não é simplesmente uma repórter, mas também uma celebridade que facilmente poderia estar do outro lado da mesa. É mais um exemplo de como a pretensa isenção e objetividade da imprensa tem dado lugar a um campo ambíguo, onde os papéis não são tão claros e o jornalista se torna, de alguma maneira, parte da própria notícia.
De Frente Com Gabi, porém, precisa mais do que uma personalidade marcante e de uma câmera obstinada para se tornar diferente de tantos outros programas de entrevistas. É a escolha dos personagens que faz a diferença, ao se arriscar a sair do óbvio e descobrir novos entrevistados que possam dizer coisas que ainda não foram ditas na tevê. E isso é muito mais difícil do que inquirir sobre problemas pessoais.
O telejornalismo tem se mostrado quase sempre reativo, ao responder ao que aconteceu no país e no mundo. É passado. E, por sustentar uma determinada escolha do que foi importante no dia ou no ano, termina sendo conservador. Ao anunciar Ronaldo, Aécio Neves, José Dirceu e Padre Fábio de Mello como atrações, De Frente Com Gabi pode até garantir bons ibopes. Mas continua de costas para o futuro.
