Expectativa pelo decreto da TV 3.0 cresce no setor de radiodifusão
Se confirmada a assinatura no início de abril, o decreto representará um passo histórico para a televisão aberta no Brasil
O setor de radiodifusão no Brasil aguarda a assinatura do decreto que regulamentará a TV 3.0, prevista para abril. A tecnologia promete modernizar a TV aberta, com desafios técnicos e debates sobre financiamento e novos padrões.
A expectativa no setor de radiodifusão para a assinatura do decreto que regulamentará a TV 3.0 no Brasil está em alta. A previsão é de que o documento seja oficializado já nos primeiros dias de abril. Durante o SET Sudeste, evento realizado no Rio de Janeiro pela Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), Wilson Diniz Wellisch, secretário da Secretaria de Comunicação Social Eletrônica do Ministério das Comunicações (MCom), afirmou que o governo está trabalhando para que o decreto seja assinado antes do NAB Show 2025 — a maior feira de tecnologia, mídia e entretenimento do mundo, que ocorrerá de 5 a 9 de abril, em Las Vegas (EUA).
O ministro das Comunicações, Jucelino Filho, já havia mencionado a data em um encontro com a imprensa. Segundo ele, o decreto abrirá caminho para a implantação de um novo padrão tecnológico que promete revolucionar o consumo de conteúdo televisivo no Brasil.
O que dizem os especialistas
Durante o painel do SET Sudeste, representantes do setor reforçaram a expectativa pela assinatura do decreto. Para Rodrigo Gebrim, gerente de espectro, órbita e radiodifusão da Anatel, a formalização é crucial para consolidar o avanço da TV aberta no Brasil. “Estamos muito ansiosos com a TV 3.0. Ela gera grande expectativa. Na Anatel, temos trabalhado em conjunto com o Fórum SBTVD e a SET para definir os critérios de recepção fixa e estudar parâmetros para recepção móvel”, afirmou Gebrim.
Um ponto ainda em aberto, segundo ele, é a definição entre as tecnologias ATSC ou 5G Broadcast para a recepção móvel, um tema que coloca o Brasil no centro das discussões globais. Países como a Índia aguardam as decisões brasileiras para tomarem caminhos semelhantes.
Novos modelos de negócio e financiamento
A chegada da TV 3.0 também traz à tona debates sobre novos modelos de negócio. Luiz Carlos Abrahão, diretor de tecnologia da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e TV), destacou a importância de diretrizes claras para a sintonia dos canais e fontes de financiamento público e privado que garantam a sustentabilidade durante a transição. “O que esperamos é que o decreto promova a antena de recepção para facilitar a sintonia dos canais de televisão em diferentes localidades”, enfatizou Abrahão.
Ele também alertou para a necessidade de financiamento adequado para evitar desigualdades regionais ou financeiras durante a adoção da nova tecnologia.
Desafios técnicos e criptografia
Durante o evento, Wender Almeida de Souza, assessor técnico de engenharia da Abratel (Associação Brasileira de Rádio e Televisão), abordou os desafios da implementação da TV 3.0, especialmente em relação aos testes realizados em São Paulo e no Distrito Federal.
Segundo ele, os resultados obtidos até agora são promissores, mas há questões importantes a serem resolvidas, como a conformidade com as demandas de recepção móvel e fixa. Outro tema sensível é a criptografia das transmissões na Banda C, que levanta dúvidas sobre sua real necessidade, uma vez que a maioria das recepções domésticas já migrou para a Banda Ku. A Abratel defende um debate mais amplo sobre o assunto.
Perspectiva
A expectativa do setor é que a assinatura, ocorrendo já no início de abril, dará início ao processo de implantação da tecnologia em capitais e grandes centros urbanos ainda em 2025. A assinatura do decreto representará um passo histórico para a televisão aberta no Brasil, abrindo caminho para um novo modelo de transmissão, que une a tradição da TV aberta com as possibilidades digitais do futuro.
(*) Alexandre Gonçalves é jornalista, fundador da agenteINFORMA – conteúdo e produtos digitais, e editor das newsletters agenteGPT (insights e sua experiência de usuário do ChatGPT), e agenTV3 (monitora e faz curadoria de notícias sobre a implementação da TV 3.0 no Brasil).
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