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Estilista defende espaço às mulheres de silhueta maior na TV

Carla Folloni foi precursora em transformar famosas de manequim grande em referências de moda contra a ditadura da magreza

8 fev 2022 - 12h35
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Carla Folloni com Suzy Rêgo e Leda Nagle
Carla Folloni com Suzy Rêgo e Leda Nagle
Foto: Reprodução

Em ‘Um Lugar ao Sol’, Nicole (Ana Baird) sofre gordofobia na família e no trabalho como atriz e dubladora. A todo momento é incentivada a emagrecer para ser bem-sucedida no amor e na carreira. A personagem representa a realidade dramática de milhões de brasileiras.

Quem conhece bem os desafios de ser uma mulher fora do padrão rígido de magreza exigido pela sociedade – e alimentado pela indústria do vestuário, a publicidade e o jornalismo de moda – é a estilista Carla Folloni, da marca Maison SPA, de São Paulo.

Ela se especializou em vestir clientes de silhueta maior. Suas campanhas de lançamento de coleção são estreladas por famosas que usam a partir do manequim 44. Folloni gera visibilidade para as mulheres grandes e curvilíneas que, até pouco tempo, eram ignoradas em desfiles, comerciais e editoriais de revistas.

Suas peças já apareceram em figurinos de novelas, programas de entretenimento, telejornais e shows. Foram usadas por artistas como Fabiana Karla, Aracy Balabanian, Vera Holtz, Marisa Orth, Alcione, Luiza Tomé, Claudete Troiano, Nani Venâncio, Regina Volpato, Luciana Mello, as cantoras do Fat Family e a saudosa Eva Wilma.

Para a estilista, quanto mais a televisão e a mídia em geral mostrarem brasileiras de diversos tamanhos, mais rapidamente o preconceito estético será enfraquecido.

Nicole e Vitória: raras personagens de silhueta grande
Nicole e Vitória: raras personagens de silhueta grande
Foto: Divulgação/TV Globo

O que acha da inclusão de personagens gordinhas nas novelas, como a Nicole (Ana Baird) em ‘Um Lugar ao Sol’ e a Vitória (Mayara Russi) em ‘Verdades Secretas 2’?

A inclusão de personagens mais próximos da realidade brasileira é mais do que justa, é necessária! Eu diria até vital porque a sociedade já mostrou que não tolera mais estereótipos. Para a TV Globo é uma oportunidade de exemplificar o público brasileiro, que tem na sua origem um povo miscigenado: magros, gordos, índios, negros, brancos, europeus, orientais... Um povo único com belezas diversas que traz uma singularidade que é inclusive uma das nossas marcas. Somos conhecidos no mundo inteiro por essa mistura tipicamente brasileira. Mais do que nunca, o respeito por todos os tipos de corpos é assertivo para a emissora.

Acredita que essa visibilidade na TV ajuda no combate à gordofobia?

A discussão é necessária pois o preconceito é incontestável. Quando um meio de comunicação traz à tona um tema ligado à disseminação de ódio, torna-se de extrema valia, pois, através do drama, as pessoas começam a entender como é viver à margem. Os questionamentos fazem com que todos tenham mais empatia pela causa. Aumenta a chance de o ódio e o preconceito se tornarem respeito e amor.

Já ouviu relatos de discriminação e dificuldade para comprar roupa das famosas que veste?

Na minha jornada profissional tenho o prazer de estar com mulheres plus size como Suzy Rêgo, Vanessa Jackson, Leda Nagle, entre outras. Ouço desde história de amiga que sugere que você está acima do peso até a família não aceitar os quilos a mais e debochar de maneira cruel. Ainda bem que, aos poucos, construímos um universo de moda mais democrático. Já realizei o sonho de mulheres que precisavam de um look maior para se casar e de adolescentes em busca da roupa no tamanho certo para a festa de 15 anos. Quando uma mulher, seja de qual idade, veste uma peça e se sente bonita, os olhos dela brilham.

Qual a importância de escalar famosas de silhueta grande para suas campanhas em um mundo dominado por modelos magras?

A beleza criada pela mídia apresenta a mulher como jovem, alta, magra, branca e loira. Está muito distante do biotipo brasileiro. Precisamos mostrar morenas, negras, ruivas, de todas as silhuetas. A diversidade é o verdadeiro conceito de belo. Percebo que agora a mídia se sente pressionada a mostrar a beleza de verdade, com todas as nuances, sem filtros, sem aquele padrão único. As mulheres começam a se sentir realmente representadas. Isso é gratificante.

Acha que o mundo da moda em geral está mais inclusivo para a mulher que veste acima do 44?

Quem produz moda está mais atento e sabe que precisa atender a diferentes perfis de consumidor. Precisamos colocar amor ao criar roupas. Não vejo minhas peças apenas como produtos comerciais. Eu faço moda para ajudar as mulheres a se sentir mais felizes, viver a experiência de se olhar no espelho e estar bem consigo mesma, confortável e poderosa.

Quais famosas de silhueta maior prestam importante serviço à sociedade ao lutar contra a gordofobia?

Mariana Xavier, Cacau Protásio, Fabiana Karla... Nesse momento, no ‘BBB22’, o Tiago Abravanel tem sido uma importante representação para a causa com os relatos do que já sofreu. No exterior, admiro a atuação pela causa das atrizes Queen Latifah, Brooke Elliott e Melissa McCarthy.

Já sofreu insegurança com seu peso, mesmo sendo magra?

Sou mulher, sofro sempre! Neste momento estou magra, daqui a pouco, engordo! Vivo numa montanha russa conversando com a balança.  Quando vejo que ganhei peso, procuro aceitar, sem culpa nem drama. Costumo dizer para quem me questiona: “A barriga é minha e eu paguei por ela, e olha que não foi barato” (risos).

O que acha de mulheres que optaram por emagrecer radicalmente, como Silvia Poppovic e Adele?

A cobrança à mulher para se apresentar ao mundo com uma imagem perfeita e o estereótipo de beleza ligado ao corpo magro promovem essa busca intensa pelo emagrecimento. Respeito a liberdade de perder peso. Cada um sabe o que é melhor para si e não devemos julgar ninguém.

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