PUBLICIDADE

Em 'Novelei', Paulo Vieira e Tony Ramos simulam 'mundo sem novela'

Projeto entre Globo e YouTube estreia nesta segunda, 11, e revisitará história da dramaturgia com elenco de jovens

11 jul 2022 - 05h11
Compartilhar
Exibir comentários

Muitas coisas poderiam desaparecer e falta alguma fariam, como já ocorreu por vezes na linha do tempo da humanidade. Mas existem outras que seria difícil imaginar caso não existissem. Pensando nisso, a autora Bia Braune criou uma situação surreal, na qual simplesmente não existiriam novelas no mundo. Isso mesmo, nada de folhetins - pior, ninguém sabe o que é uma novela, ou quase ninguém. Em Novelei, projeto da Globo com o YouTube que estreia nesta segunda, 11, às 20h, no canal da emissora na plataforma, o que se coloca é essa criativa loucura, que levará o público a um mundo inimaginável.

A autora, que integrou o núcleo de roteiristas do programa Videoshow e traz dessa fase referências que guardou na memória, tem Nigel Goodman e Marcelo Martinez como colaboradores e pensou a série como homenagem aos 70 anos do gênero no País. Bia explica que a ideia foi exatamente usar o humor para pensar como seria o mundo sem novelas. "Ficou um lugar de caos e destruição", diverte-se a dramaturga, que acredita ser do feitio do brasileiro ter "uma novela do coração", daí a perplexidade em pensar no desaparecimento dessas produções. E é aí que entra o Vitinho, personagem de Paulo Vieira. "Ele tem de recriar as novelas para o universo voltar ao equilíbrio", avisa.

"Apesar da subversão, os episódios seguem fiéis ao roteiro original e os detalhes de cada novela estará lá", afirma Bia sobre o enredo. Na história, Vitinho é um assistente de produção e arregimenta um time de influenciadores digitais para refazer as tramas, que desapareceram após ocorrer um bug no sistema, o que levou ao sumiço dos folhetins. Assim, Thalita Meneghim, Gusta Stockler, Phellyx, Babu Carreira, Evandro Rodrigues e Livia La Gatto terão de se embrenhar na nessa refilmagem. Mas, como revela a autora, uma novela, Kubanacan, resiste a tudo e fica no ar de forma constante. "Kubanacan é um clássico cult e os noveleiros têm paixões por pérolas cults", diz.

Mundo paralelo

O trabalho da equipe para a recuperação das novelas será arcaico, utilizando o que for possível de cenário e técnica. "A cada episódio, temos de criar uma novela da Globo", explica Paulo Vieira, que vive Vitinho com um "personagem único e brasileiro, original" e que se identifica com ele por esse "amor pela TV aberta", afirma, confessando ser mesmo um noveleiro e que esse gênero foi base de sua formação cultural.

Além dos jovens que compõem a trupe de Vitinho, a série conta com a participação de Tony Ramos, o Seu Tony, como é chamado e que será o elo com esse passado, mas que também está desaparecendo. O próprio ator explica que seu personagem será procurado para ajudar nessa empreitada maluca. "O meu personagem é de um pesquisador, de um historiador, de um revolucionário, no sentido de levantar novamente a própria história da telenovela. Me senti muito bem interpretando, um exercício novo", afirma Tony. Outra peça fundamental será a Susaninha, vivida por Susana Vieira, no papel de uma Inteligência Artificial, que contribuirá para o trabalho de recuperação das novelas esquecidas. "Foi tudo inusitado", comenta a atriz.

Curioso

Para se ter uma ideia sobre Novelei, por exemplo, na versão de Avenida Brasil decidiram que Nina enfim terá um pen drive para salvar as fotos comprometedoras de Carminha. Já em Laços de Família, Camila se recusa a raspar a cabeça. Em cada episódio, em um total de nove, uma novela será o tema. Começa com Vale Tudo e segue com O Cravo e a Rosa, Laços de Família, Vamp, Mulheres de Areia, Torre de Babel, O Clone, Avenida Brasil e Senhora do Destino. A direção tem assinatura de Felipe Joffily.

Tony Ramos (Seu Tony, em 'Novelei')

O que mais te atraiu para atuar em Novelei, que se mostra como um projeto tão diferente?

Fui convidado a fazer Novelei lá por volta de novembro do ano passado, mas o que mais me atraiu foi justamente o ineditismo e o fato de ser a primeira parceria da Globo com o YouTube. Eu achei que era bom participar desse momento e, principalmente, num tributo à própria telenovela e mais ainda numa ficção científica quase, de recuperação de memória - uma memória coletiva, no caso do desaparecimento total da memória da telenovela. Achei a ideia por si só original, inédita e mais a parceria nova da empresa, da TV Globo. Isso tudo me fascinou e eu topei fazer na mesma hora.

Fazer a série te lembrou um pouco o começo na TV, ou não tem comparação?

Não, não tem nada a ver. O começo meu na TV era ainda em preto e branco, ao vivo, eram outros momentos... Não havia essa tecnologia de hoje, não. Ali era até mais romântico e desbravador, naquele começo. E eu, já quando entrei para a televisão, ela tinha 14 anos de vida. Então, ela era ainda menor de idade. Era, portanto, um momento ainda de descobertas e etc.. Mas o que valia muito a pena naquele começo era justamente o desbravamento, a coragem, desses maravilhosos veteranos, no qual eu me incluo, mas na época um moleque aprendendo muito.

Como é seu personagem? Como se sentiu interpretando-a?

A minha personagem é assim: eles vão buscar o seu Tony: "o senhor não mexeu muito com esse negócio de novela?", "como é que é isso? Não é possível... a memória desapareceu, será que dá tempo ainda da gente recuperar?". Então o personagem é de um pesquisador, de um historiador, de um revolucionário, no sentido de levantar novamente a própria história da telenovela. Me senti muito bem interpretando, um exercício novo.

Pensou o que seria de sua vida sem o trabalho de ator em novelas? Teria seguido que profissão?

Em primeiro lugar, eu pensei em ser ator na vida, fruto da minha paixão pelo cinema. E eu sempre disse em entrevistas passadas e vou repetir agora: eu queria ser um Oscarito na vida, que era o meu grande ídolo do cinema brasileiro. Um grande ator, um grande comediante, uma personalidade. Então eu ia ao cinema criança, assistia e queria ser um Oscarito na vida. Eu não pensava em telenovela, né? A telenovela é mais um produto para o ator. Agora, se eu não tivesse sido ator, eu teria gostado muito de seguir a profissão de arquiteto. Eu acho a arquitetura fascinante.

O Brasil não seria esse Brasil sem teledramaturgia?

A teledramaturgia se apoiou em vários grandes autores, excepcionais autores. Se apoiou muito no romanceio popular brasileiro. Eu não quero aqui precisar, mas mais de 200 obras literárias, ou cerca disso, ou até um pouco mais, foram adaptadas para a teledramaturgia. Não só a literatura brasileira, como a literatura portuguesa, inglesa, francesa, latino-americana como um todo. A teledramaturgia sempre se apoiou na boa literatura também, e criou uma identidade nacional, criou uma cumplicidade nacional. Isso é fato, não sou eu falando, corporativamente. Eu falo como um ator, baseado em pesquisas, baseado em uma série de fatores que levam você ter esse tipo de conclusão, de análise, etc. Na verdade, a coisa mais importante sempre foi o que eu sempre disse: televisão aberta não morrerá nunca, assim como o rádio não morreu quando a televisão engrenou, assim como o cinema não morreu quando a televisão apareceu e assim por diante. As ferramentas são novas, elas vão ser incorporadas num novo sistema de veículo. Quando você fala que cem mil pessoas viram alguma live, ou cinquenta mil, ou cinco mil, isso tudo é louvável. Mas imagine um capítulo de 'Pantanal', que é visto por 70 milhões de pessoas, ao vivo, naquele momento. Portanto, a TV aberta está mais viva do que nunca, e todas essas ferramentas vão conviver para sempre.

Foi divertido?

Foi divertido ter feito, sim. Foi muito divertido ter participado do Novelei. Divertido o novo sistema - esse novo sistema que eu digo é esse tipo de transmissão via internet. Foi divertido. Sou um homem do meu tempo, absolutamente preparado para as novas tecnologias, mas jamais virando as costas para a minha TV aberta, que eu chamo da mais democrática das manifestações. Basta você ligar aquele botão, ou dar um power, ou fazer on, ou apertar ali o botão da televisão, sei lá, da maneira que for, no controle remoto, e você tem uma imagem, um noticiário, dramaturgia, na ponta da antena. Eu acho isso fascinante.

Felipe Joffily, diretor de 'Novelei'

Teve dificuldade para pensar em cada cena, afinal teve de recriar o que já foi icônico de forma engraçada. Você se divertiu junto?

Sim, me diverti muito! Foi como voltar à infância, uma grande brincadeira. E dessa forma não se sentir obrigado a nada, tudo pode. Não havia esse compromisso da recriação precisa, havia sim uma enorme liberdade de começar do zero, inventar e ser criativo na essência. Transformando aquele espaço num enorme laboratório do exercício cênico. As cenas originais são intocáveis, nos coube apenas a oportunidade de honrá-las.

Como foi entrar nesse mundo sem novelas? Tem como imaginar o que seria o Brasil sem a teledramaturgia.

O Brasil seria um país menos autorreferenciado, menos divertido, menos conhecedor da sua própria origem, mais ignorante. É isso que acontece com um povo sem direito a arte e a cultura, nos tornamos em um bando de zumbis. Um povo sem cultura é um corpo sufocado.

É também mostrar que novela é um retrato da sociedade naquele momento específico?

Exatamente! E assim nos relacionamos com a nossa própria referência cultural. Com o registro da nossa própria história. É a nossa memória palpável.

Alguma cena, ou cenas, te deram maior trabalho? Destacaria alguma que mais gostou?

O mais trabalhoso era o exercício que tínhamos que fazer na tradução dos universos a serem recriados. Não teria conseguido o resultado que alcançamos sem a minha equipe. Pensando a partir do mínimo, usando elementos brutos, reciclados e reinventados. O que deveria ser também, fruto da cabeça do Vitinho. Sugerindo a ideia de se fazer pelo prazer, pela necessidade de se expressar, pelo conteúdo, por aquilo que está escrito. E principalmente pela urgência em "salvar o mundo" e o Seu Tony que aos poucos desaparecia. Refazer a morte de Odete Roitman, eu confesso que me deu uma moleza nas pernas, foi emocionante (risos).

O que mais te surpreendeu no elenco, sejam os jovens ou os veteranos.

O que mais me surpreendeu foi a capacidade de se entregarem. Enquanto fazíamos, mesmo com os textos na mão, lidos e relidos, mesmo preciso e criativo, não nos faltavam questões. Além disso, admiti um espaço integrado entre o chamado dentro e fora de cena, não haviam limites entre esses dois espaços. A oportunidade de se improvisar, atuar e viver a experiência coexistiam nesse momento. Para os atores essa mistura de desconforto e liberdade abria espaço para o novo e por isso parecia tão provocante. Pra nós, nos bastidores reais, foi uma experiência inesquecível poder testemunhar esse processo. Quando eventualmente, dos mais tarimbados aos mais jovens, chegavam em mim pra dizer que não tinham a menor ideia do que estavam fazendo eu respondia bem enigmaticamente, confia, "this is method and madness". Não sei se resolvia nem se eu estava certo, mas o resultado está por vir.

Livia La Gatto

"Participar deste projeto foi um presente e um grande desafio ao mesmo tempo. A oportunidade de conhecer de perto o trabalho de atores veteranos que admiro há tantos anos e ao mesmo tempo aprender e trocar com eles mantendo a concentração, foi o que mais gostei de fazer. A troca com o elenco fixo, o time de roteiristas, diretores e a equipe toda da produção foi muito intensa e resultou nessa loucura que é o Novelei."

Gusta Stockler

"O projeto é genial! Trazer o conhecimento do Felipe Joffily (diretor), que é absurdo na comédia, e essa grande loucura que é o Novelei foi inovador. Fomos criando juntos, à medida que íamos gravando, íamos todos descobrindo o formato e entendendo o caminho a seguir. Novelei traz inovação, um formato nunca antes visto no mundo, juntando os maiores nomes do Brasil em dramaturgia e uma homenagem incrível pelo nosso patrimônio novelesco."

Thalita Meneghim

"Participar do Novelei foi uma experiência muito importante para minha vida, muito marcante, porque eu realizei vários sonhos em um só: gravei nos Estúdios Globo, que é algo que eu sempre quis, atuei com atores e atrizes que eu cresci assistindo, e me inspirei muito - Carolina Dieckmann, Cauã Reymond, teve o dia do Tony Ramos, Susana Vieira, foram dias muito importantes. Trocar com o elenco foi maravilhoso - Paulo Vieira, Evandro (Rodrigues), Livia (La Gatto), Babu (Carreira), Gusta (Stockler), Phellyx... É uma galera que nesse tempo aprendeu muito junto, nos divertimos muito. Foi muita realização, e muito aprendizado. Pra mim, foi uma das melhores experiências que eu já tive até hoje."

Estadão
Compartilhar
TAGS
Publicidade
Publicidade