O uso da pílula do dia seguinte entre adolescentes brasileiras aumentou, e médicos explicam por que o uso repetido pode trazer riscos à saúde e à rotina menstrual.
O uso da pílula do dia seguinte tem se tornado uma prática cada vez mais comum entre adolescentes. No entanto, muitas jovens não conhecem os riscos que esse contraceptivo de emergência pode trazer à saúde, principalmente quando utilizado com frequência.
Aqui, a ginecologista Ana Paula Fonseca dá informações importantes para que as jovens e seus pais conheçam os impactos desse uso contínuo na saúde hormonal, emocional e física das meninas.
Entender esses riscos é fundamental para promover escolhas mais seguras e conscientes em relação à saúde sexual e reprodutiva.
O uso da pílula do dia seguinte entre adolescentes tem crescido no Brasil, e esse dado preocupa especialistas. O que era para ser uma medida de emergência tem se tornado rotina para muitas jovens,
Segundo a ginecologista Ana Paula Fonseca, especialista em saúde de adolescentes, o aumento reflete a falta de orientação e diálogo sobre sexualidade e contracepção: "A pílula do dia seguinte nunca foi pensada para uso frequente. Quando uma adolescente usa várias vezes no mês, isso mostra que ela não tem acompanhamento, não está protegida adequadamente e pode estar correndo riscos desnecessários", explica.
Por que o uso da pílula de emergência está crescendo
Pesquisas recentes mostram que muitas jovens compram o medicamento diretamente nas farmácias, sem orientação médica. Para Ana Paula, esse comportamento revela uma realidade preocupante: a educação sexual ainda é limitada e cercada de tabus. "Elas recorrem ao que conseguem sozinhas. Sem informações adequadas em casa e nas escolas, sem diálogo e sem facilidade para consultar um ginecologista, a pílula de emergência vira a única alternativa ao alcance", comenta.
A especialista reforça que o acesso à informação e o acolhimento profissional são essenciais para que meninas e mulheres possam fazer escolhas seguras sobre seus corpos.
Outro motivo para o uso repetido é a dificuldade de acesso a métodos regulares de prevenção, como pílulas anticoncepcionais, injeções, implantes e o DIU. Muitas jovens não sabem que podem utilizar esses métodos com segurança, e que o acompanhamento médico é gratuito pelo SUS. "Muitas adolescentes não sabem que podem, sim, usar métodos de longa duração. Outras têm receio porque ninguém explicou como funcionam. Informação e acolhimento fazem toda a diferença", explica Ana Paula.
Riscos do uso repetido
Quando usada corretamente, a pílula do dia seguinte é segura e eficaz em situações de emergência, como quando ocorre uma relação sexual desprotegida ou há falha no método contraceptivo. Mas, quando vira hábito, pode causar desconfortos e desregular o corpo.
Entre os riscos mais comuns do uso repetido da pílula do dia seguinte, estão:
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Alterações no ciclo menstrual;
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Náuseas, dor de cabeça e mal-estar;
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Episódios de ansiedade e medo de possível gravidez;
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Falsa sensação de segurança, já que o método não protege contra ISTs (infecções sexualmente transmissíveis).
"O problema não é tomar a pílula, e sim quando ela vira o único método de prevenção. Isso não só é ineficaz, como coloca as jovens em situações de vulnerabilidade", reforça a ginecologista.
Quando a pílula do dia seguinte é indicada?
A pílula do dia seguinte é uma ferramenta importante e deve continuar disponível para garantir a autonomia reprodutiva das mulheres. Mas, segundo a especialista, ela deve ser usada apenas em situações emergenciais, não como método fixo: "A pílula do dia seguinte é uma ferramenta essencial, mas apenas em casos de emergência. As jovens devem optar por métodos preventivos adequados, segurança e orientação, não improviso mensal", finaliza a ginecologista.
Informação é poder!
Falar sobre sexualidade e métodos contraceptivos é uma forma de cuidar de si e do próprio corpo.
Buscar orientação médica, conversar com adultos de confiança e ter acesso à informação de qualidade são atitudes que fazem diferença. A pílula do dia seguinte é uma aliada em situações específicas, mas a melhor prevenção é o conhecimento e o cuidado contínuo com a saúde.