"Tenho pena de morrer e largar um mundo tão bom", diz Zeca Pagodinho
- Regina Rito
- Rio de Janeiro
Zeca Pagodinho esforçou-se para manter o sorriso no lançamento do seu CD Vida da Minha Vida. Vestindo preto, por conta da morte do amigo e partideiro Deni de Lima na terça, ele se mostrou preocupado. "Envelhecer é chato. A gente vê os amigos morrendo, vai ficando cabreiro. Não tenho medo da morte. Tenho pena de morrer e largar um mundo tão bom, essas praias coloridas, tanto samba bom pra fazer", diz ele, que espera uma estadia melhor quando mudar de lado.
"Deus é bom e vai levar a gente para um lugar melhor. Ele não vai me tirar de um lugar desses pra ficar de vestido azul tocando arpas...", espera.
A reflexão veio ao falar de Orgulho do Vovô, canção dele e de Arlindo Cruz em homenagem ao neto Noah, de 7 meses, em que torce: "Que o meu neto seja herdeiro/do meu amor pelo samba". "Quando Noah me vê, abre sorrisão. Levo à praia, passeio, carrego no colo, faço tudo o que ele quer", derrete-se.
O álbum traz Zeca cantando paixões rasgadas nas regravações de Vida da Minha Vida, de Moacyr Luz, Poxa, de Gilson de Souza, e Desacerto, de Toninho Geraes, Fabinho do Terreiro e Randley Carioca. "Tive várias paixões, mas passaram. É coisa para adolescente. Tinha meus casos quando era solteiro. Namorava uma menina aqui, outra ali. Sabe como é a vida de sambista malandro. Hoje, tudo o que tenho amo demais", diz ele que, se pudesse reencontrar alguém de novo, como diz a letra de Poxa, seria ele próprio. "Queria rever o Zeca que eu era, de chinelo, que fazia música e ia ao samba todo dia", reflete.
A porção saudosista retorna em Encanto de Paisagem, música de Nelson Sargento que os dois cantam juntos e que exalta as maravilhas do morro. "Já morei em morro, lá no Engenho da Rainha. Aquilo é outra vida. A vista do Morro da Providência, Mangueira, Salgueiro é do 'carilho'. Mas a poesia do morro acabou. Não falo das festas. Lá, sempre teve malandragem, droga, mas escondido, hoje está muito espalhado. O cara que queria fumar um, ia lá em cima, lavava a mão, voltava", observa o sambista, que no encarte do CD foi fotografado na praia da Barra da Tijuca, onde mora. "A Barra é legal. Aqui, mora a maioria dos sambistas. Estranhei para 'carilho' quando vim pra cá, mas agora vou ao Terreirão (favela perto do Recreio) e lá tem pagodinho, becos e vielas tranquilas", garante.
O CD é dedicado a Beth Carvalho que, devido a problemas na coluna, está afastada dos palcos há quase 1 ano. "Minha madrinha está se recuperando. Já a visitei duas vezes e, na última vez que liguei, ela já estava se sentando. É guerreira", declara.