Slash fica melhor como o homem misterioso
Podemos todos concordar que Slash, o infame deus da guitarra que usa cartola, é o sujeito mais descolado do planeta? O ninho de avestruz incrível que é seu cabelo ajuda, não usar uma camisa há 44 anos também é impressionante. Mas o que realmente faz Saul Hudson se destacar são seus colegas nada legais: o grosseirão do Guns N' Roses Axl Rose e o zumbi espantalho do Velvet Underground Scott Weiland.
Enquanto esses cantores detonaram como divas, o tímido arremessador de machados com estilo tortuoso permaneceu um mistério, retraindo-se, fazendo solo após solo envenenado. Welcome to the Jungle tem 23 anos e as pancadas ritmadas ainda me dão arrepios.
Mas no novo álbum solo homônimo lançado na terça-feira, Slash finalmente emerge das sombras secundárias para se revelar. Ele compõe e improvisa ao lado de quem importa no mundo das estrelas, como Fergie e Kid Rock, mas é ele quem está no comando. E que tipo de artista ele é quando está no centro das atenções? A resposta não é tão legal quanto você esperaria ¿ a menos que você seja um atendente de 16 anos numa loja de conveniência em 1986.
Slash é um talento tão magistral que eu esperava uma exibição arrasadora de mistura de gêneros. Você já o escutou tocando o tema de O Poderoso Chefão? Alucinante. Ao invés disso, a maior parte de Slash é vagamente dokkenesca - produção altamente astuta, letras maduras, acordes rotineiramente poderosos. Neste exato momento, eu poderia cantar pelo menos 10 músicas do Ratt, sem incluir Round and Round. Mas até a escória suburbana dentro de mim está entediada.
A faixa de abertura Ghost, trazendo Ian Astbury, do Cult, é uma lata-velha a meia velocidade: "Mate o fantasma que cavalga sua alma/Rock 'n roll". Ozzy Osbourne aparece em Crucify the Dead, um tiro certeiro em Axl Rose: "Nós somos como irmãos com o mundo em nossas mãos/Você sempre teve tanto a dizer/Algum dia vai olhar pra trás e pensar por quê/Você deixou tudo escapar". São versos decentes, mas a melodia acaba soando como o lado B chato de Bark at the Moon.
As oportunidades perdidas são inúmeras. O som do velho camarada Duff McKagan e do Foo Fighter Dave Grohl estão em Watch This Dave, que nunca chega às esperadas alturas transcendentes. O outro cara de cabelo comprido, Andrew Stockdale, do Wolfmother, aparece em By the Sword, mas o vampiro pseudomítico só tateia a grandeza. O som de Slash em Doctor Alibi é feroz, uma pintura viva de Jackson Pollock, mas Lemmy, do Motorhead, canta como se estivesse em uma cadeira de rodas quebrada.
Existem alguns destaques. Fergie e Slash estão sensuais em suas escapadas, então faz sentido que o grind cavalheiro em Beautiful Dangerous funcione, especialmente a imitação em altos gemidos que ela faz de Axl. I Hold On tem mais Kid Rock que Slash, mas seus ares de gospel dão os elementos para um sucesso. E quem imaginaria que a inclusão do estranho no ninho do Maroon 5 Adam Levine valeria a pena? O toque de black e blues de Gotten traz o melhor solo de Slash, lentamente explodindo como um coração partido.
Esse é um álbum camarada: novatos pagando seus tributos, Slash acenando para seus heróis. Mas alguma coisa falta. Talvez o problema seja que, por causa de toda a loucura de Rose e Weiland, o sucesso de Slash recaia sobre a insanidade, a escuridão, o perigo. Ou talvez, como um homem que esconde seu rosto do mundo, ele seja melhor à espreita nas sombras e no mistério.