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Rob Halford: "Judas Priest foi a primeira banda 100% metal"

9 set 2011 - 15h16
(atualizado às 17h33)
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David Shalom
Direto de São Paulo

Apesar de ter sido fundado depois de ícones do estilo como Black Sabbath e Led Zeppelin, é comum ouvir que o Judas Priest foi a primeira banda de heavy metal. Roupas de couro, motocicletas, vocais agudos e gritados, características inerentes ao estilo, foram todas nele introduzidas pelo quinteto britânico, que se apresenta neste sábado (10) na Arena Anhembi, em São Paulo. "Se você olhar ao início dos anos 1970, não havia muitos grupos que se declarassem de heavy metal, e foi justamente isso que o Judas Priest sempre fez", comentou por telefone o vocalista Rob Halford em entrevista ao Terra. "Por definição, pode-se dizer que o Priest foi a primeira banda 100% metal".

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Em sua quinta passagem pelo Brasil - onde ainda se apresenta no Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília -, o grupo traz ao País a turnê Epitaph, que, ao contrário do que parece, não marca de forma alguma o fim da carreira de um dos mais importantes nomes do estilo. "Não é o fim da banda. O que nós planejamos fazer é apenas cortar essas gigantescas turnês mundiais com as quais estamos acostumados", explicou o vocalista com seu forte sotaque britânico. "Eu faço 60 anos no mês que vem e, por mais que esteja em boa forma como cantor, a melhor maneira para continuar mostrando meu trabalho é pegando um pouco mais leve em relação às performances ao vivo".

Homossexual assumido, Halford ainda conversou longamente sobre o preconceito ainda presente em grande parte do mundo, além de falar sobre a frustração com o fato de apenas um músico de heavy metal além dele ter "saído do armário" quase 15 anos após ter revelado sua preferência sexual em entrevista à MTV. "Acho que isso faz parte do glamour da masculinidade e do sentimento de que é errado ser um homem gay".

Confira a íntegra da entrevista a seguir.

Terra - Epitaph é realmente a última turnê do Judas Priest?

Rob Halford - É um pouco confuso, por isso estamos divulgando alguns releases à imprensa em nosso website. Não é o fim da banda de forma alguma. O que nós planejamos fazer é apenas cortar essas gigantescas turnês mundiais que costumamos fazer. Sabe, levamos quase dois anos para atravessar o mundo nesses giros. Ainda queremos fazer as datas ao redor do planeta, mas precisa ser um pouco mais fácil. Estamos num momento maravilhoso com a Epitaph Tour. O que é importante para os fãs saberem é que talvez haja algumas partes do mundo para as quais não voltaremos e é por isso que estamos chamando todos para vir nos ver, pois pode ser a última oportunidade. Mas não é o fim da banda. Provavelmente, continuaremos fazendo festivais em vez das grandes turnês que temos feito há quase 40 anos, que são experiências que demandam muito fisicamente. Apenas queremos estar na melhor forma possível para o futuro. Garanto aos fãs brasileiros que apresentaremos um show empolgante e poderoso.

Terra - É sua sétima viagem ao Brasil - veio três vezes com o Judas Priest, duas em carreira solo e uma com a banda Fight. Qual é a sua opinião sobre o público do País?

Halford - Absolutamente incrível, maravilhoso. Os fãs brasileiros são tão apaixonados, tão loucos por metal, e não apenas pelo Priest, mas por todos os tipos de metal. Estamos empolgados para voltar ao País para ver todos os nossos amigos que já nos viram anteriormente em outras turnês e até, quem sabe, outros metaleiros que nunca assistiram ao Priest. Isso tem ocorrido com frequência: em muitos lugares, temos visto vários fãs mais jovens e esse é sempre um sentimento especial, quando você olha em direção à plateia e vê muitos rostos pela primeira vez.

Terra - Você disse em algumas entrevistas recentes que o Judas Priest pretende lançar um novo álbum em 2013. Conte-nos mais detalhes sobre isso.

Halford - Bem, nós temos o novo álbum completamente escrito, sendo que quatro canções já estão gravadas e mixadas. Contudo, agora que o Richie (Faulkner, novo guitarrista da banda) está conosco, estamos empolgados para ver quais as possibilidades existentes em relação à sua qualidade como compositor. Como eu disse, não se pode dizer que é o fim de nada realmente, pois o próximo disco é muito importante para nós, uma vez que é o sucessor de Nostradamus, e queremos meio que retornar à vibração clássica do Priest, aos detalhes que sentimos ser a melhor forma de representar nossa música. Será um clássico e típico álbum do Priest, com os riffs pesados, vocais gritados e todas as características intensas que levaram o público a amar a banda. Nós tentaremos fazê-lo para o ano que vem, só temos de encontrar o tempo para isso. Os últimos meses foram um tanto confusos, pois começamos a escrever as canções, tivemos que sair em turnê e o K.K. (Downing) acabou deixando a banda. Estamos nos sentindo absolutamente ótimos que Richie está conosco e tenho certeza que os fãs brasileiros perceberão o quão bom instrumentista ele é e o quão empolgante é assisti-lo tocando guitarra. Mais uma vez, é importante dizer aos metaleiros que eu faço 60 anos no mês que vem e, por mais que esteja em boa forma como cantor, a melhor maneira para continuar mostrando meu trabalho é pegando um pouco mais leve em relação às performances ao vivo, pois não queremos desapontar os fãs. Queremos dar-lhes o melhor show possível.

Terra - A saída do guitarrista K.K. Downing foi uma grande surpresa para os fãs do Judas. Como é estar no palco sem ele, um dos fundadores do quinteto?

Halford - Claro que é um pouco estranho não estar com K.K. no palco, mas foi uma decisão dele. Era importante para nós fazer esta turnê para os fãs e é simplesmente ótimo que tenhamos tido a oportunidade de encontrar esse maravilhoso guitarrista, Richie Faulkner, para fazer as incríveis performances de metal que ele faz noite após noite. Sabe, é uma banda diferente em certo aspecto, pois a atitude de Richie é muito importante como instrumentista e músico e ele está mostrando seu próprio estilo e técnica nos shows. Por isso, nos sentimos bem em poder voltar ao Brasil para fazer mais um grande concerto de metal.

Terra - Apesar de bandas como Black Sabbath e Led Zeppelin terem surgido antes do Judas Priest, muitos consideram vocês os reais fundadores do heavy metal - inclusive, seu apelido é "Metal God" (deus do metal), uma alusão a esse fato. Como você analisa isso?

Halford - É realmente uma discussão interessante. Quero dizer, se você olhar para trás, ao início dos anos 1970, não havia muitas bandas que se declarassem grupos de heavy metal, e foi justamente isso que o Judas Priest sempre fez. Desde o início, nós dissemos, "veja, nós somos uma banda de heavy metal e é apenas por isso que queremos ser conhecidos. Nós vamos fazer tudo direcionado a esse estilo, teremos uma aventura, passaremos por bons momentos e faremos a melhor música que conseguirmos. Mas tudo o que fizermos será bebendo da fonte do heavy metal". Sobre essa discussão, sabe, Tony Iommi (guitarrista e líder do Black Sabbath) é um bom amigo do Judas Priest, nós conhecemos todos os integrantes do Black Sabbath e eu, inclusive, cheguei a cantar com eles. Então, depende apenas do rótulo que você quiser dar. Nós sempre seremos chamados de uma banda de metal e é isso. Black Sabbath e Led Zeppelin foram grupos muito importantes para esse mercado, mas por definição, pelo rótulo, você pode dizer que o Judas Priest foi a primeira banda 100% do metal.

Terra - Naturalmente, com o fim das grandes turnês, vocês todos terão mais tempo para se dedicar a outros projetos. Há essa pretensão?

Halford - Bem, todos nós somos muito ativos fora da banda, mas, claro, nosso compromisso principal é com o Judas Priest, essa é a prioridade. Claro, se tivermos tempo livre, nos encorajamos a ir atrás de todas as possibilidades possíveis na música. Richie tem sua carreira solo, eu tenho a minha, Ian (Hill, baixista) faz algumas produções, Scott (Travis, baterista) gosta de tocar em bandas diversas, Glen (Tipton, guitarrista) também tem sua atividade solo. O fato é que músicos adoram fazer música, tocar em shows e gravar, então é sempre bom atravessar essa fronteira para fazer algo além do Judas Priest.

Terra - Quando de sua saída do Judas Priest no início da década de 1990, você inaugurou uma banda chamada Fight, até hoje bastante festejada pelos fãs de heavy metal. Existe alguma chance de esse projeto voltar a ser tocado?

Halford - Não sei de nada a respeito. É realmente estranho que a música do Fight ainda seja tão comentada entre as pessoas. Foram apenas dois álbuns lançados, War of Words e A Small Deadly Space, mas aparentemente causamos muito impacto. Já passou pela minha cabeça que talvez pudéssemos fazer algo, como uma turnê ou mesmo alguns shows. No entanto, minha crença é, se você volta a fazer algo desse tipo, é necessário se apoiar em canções novas também, e realmente não sei se isso seria feito. Mas só de ouvir as músicas, é notável o fato de que elas ainda soam muito fortes. Ainda que tenham sido feitas no início dos anos 1990, são muito poderosas e atuais. Então, sabe, eu nunca digo nunca.

Terra - Pouco depois, você fez o 2wo, um projeto mais comercial, com elementos de música eletrônica, que acabou sendo um grande fracasso - inclusive, seu primeiro disco solo, Ressurection (ressureição), foi batizado dessa forma por marcar sua volta ao estilo que o consagrou. Você se arrepende de ter feito esse trabalho?

Halford - Não, não. Eu acho que a vida serve para ser vivida em todos os aspectos e, se você faz as coisas em que acredita de coração, é necessário conviver com as opiniões, com as críticas. Não vejo a possibilidade de viver a vida baseada no que as pessoas pensam. Para mim, a vida é um grande dom e você precisa aproveitar cada oportunidade para fazer aquilo que deseja. Se as pessoas aceitarem e gostarem do trabalho, ótimo, se não, tudo bem. Esse é o prazer de viver, você tem seus altos e baixos, seus pontos positivos e negativos. Mas eu realmente curti aquela experiência de trabalhar com Trent (Reznor, do Nine Inch Nails, produtor do único disco do 2wo, Voyeurs) e Johnny 5 (guitarrista de Rob Zombie). Foi muito divertido.

Terra - Você se assumiu homossexual bem na época do lançamento do 2wo. Hoje, quase 15 anos depois, você ainda sente preconceito? Acha que aquela foi a hora certa para "sair do armário"?

Halford - Qualquer hora é a hora certa para fazer isso. Eu sei como fato que o Brasil possui metaleiros gays, pois estatisticamente funciona dessa forma. Nos mais diferentes países, culturas e grupos de opinião, o preconceito ainda é mundial, sabe? É simplesmente loucura que no mundo de hoje, no novo milênio, as pessoas ainda não consigam realmente aceitar umas às outras pela orientação sexual, pela cor da pele ou pela religião. Isso me parece insano, mas essa é a batalha que precisamos lutar. Eu sempre encorajei meus fãs a serem eles mesmos, a tentar olhar primeiramente para suas necessidades, pois, se você está em paz consigo, ficará bem como todo o resto. Mas é difícil, muito difícil. O que eu fiz inicialmente foi apenas para a minha paz de espírito, mas, claro, sendo uma figura pública, há uma outra extensão para isso. Sempre fico feliz em falar sobre o assunto para que meus fãs que queiram tomar uma decisão desse tipo saibam que não estão sozinhos. Esse é o maior obstáculo enfrentado pelos gays no início, "me sinto só, me sinto alienado". Não é assim que o problema deve ser encarado. Há muitos lugares nos dias de hoje onde se pode encontrar alguém com quem falar para discutir esses sentimentos. Sabe, um dos grandes problemas do mundo é o suicídio de adolescentes, com jovens enlouquecendo, sendo alvos de bullying e coisas assim, e isso é absolutamente terrível. Eu apenas encorajo a todos, pois estamos todos na mesma jornada e cuidando uns dos outros. É preciso apenas viver a sua vida.

Terra - Você foi o primeiro músico de heavy metal a se assumir homossexual, em 1998. Passados quase 15 anos, apenas Gaahl, ex-vocalista do Gorgoroth, tomou atitude semelhante. Por que você acha que, assim como ocorre no futebol, há uma barreira tão forte para falar sobre isso nesse meio específico?

Halford - Não sei. Acho que isso faz parte do glamour da masculinidade e do sentimento de que é errado ser um homem gay. Na verdade, não há nada de errado com isso. Infelizmente, ainda existem muitos problemas com a sociedade e as culturas, cuja consequência é as pessoas se colocando numa prisão à qual não pertencem. No entanto, no heavy metal isso sempre me soou muito estranho, pois é um estilo para todo mundo, e é justamente isso que torna essa cena ótima. Não importa se você é velho ou jovem, rico ou pobre, se mora na mansão ou na favela. Não importa: nós estamos todos juntos, reunidos pelo heavy metal. Então, acho que em sua maioria, o heavy metal é muito tolerante, inteligente, com compaixão e cabeça-aberta. Cabe a nós encorajar as pessoas a cuidar uns dos outros e viver o espírito do metal.

O vocalista do Judas Priest, Rob Halford, deixou o quinteto em 1991 para seguir com projetos paralelos. O primeiro, com o Fight, foi bastante elogiado pela crítica. Mas em 1998, ano em que assumiu sua homossexualidade, lançou o 2wo, de rock industrial, execrado pelos fãs. O nome do cantor ficou em baixa até 2000, quando fez o disco 'Ressurection' (ressureição), o primeiro 100% solo, com o grupo batizado de Halford
O vocalista do Judas Priest, Rob Halford, deixou o quinteto em 1991 para seguir com projetos paralelos. O primeiro, com o Fight, foi bastante elogiado pela crítica. Mas em 1998, ano em que assumiu sua homossexualidade, lançou o 2wo, de rock industrial, execrado pelos fãs. O nome do cantor ficou em baixa até 2000, quando fez o disco 'Ressurection' (ressureição), o primeiro 100% solo, com o grupo batizado de Halford
Foto: Getty Images
Fonte: Terra
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