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Patrícia Ahmaral lança vol.2 de obra de Torquato Neto

'A Coisa Mais Linda Que Existe', segunda parte de álbum duplo tributo da cantora mineira ao poeta e multiartista está nas plataformas

27 out 2023 - 10h45
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Foto: Divulgação

Quem já manteve contato com a historiografia ou com alguma faceta do legado do poeta, cineasta, ator, jornalista e letrista de canções, Torquato Neto (1944-1972), conhecido como o “poeta da Tropicália”, tende a cristalizar, junto ao personagem grandioso e intrigante que ele representa, a imagem de uma pessoa atormentada, inconformista, regada pelo mito do poeta suicida, gesto que infelizmente ele consumou, aos 28 anos de idade. De fato, o artista, nascido em Teresina e migrado para o Rio de Janeiro, em 1962, uma das figuras mais combativas e afirmativas no campo das artes nacionais de vanguarda, nos anos 1960 e início dos 70, não poupava posturas de radicalidade, assim como não poupou a si mesmo, em nome do mergulho alucinante e urgente ao qual se entregou, junto a seus pares, rumo ao sonho de modernizar e universalizar as artes no país, vislumbrando um Brasil  muito vivo e de ponta, a partir de seu caldo cultural genuíno, amargando, por outro lado, ele, Torquato, uma profunda angústia ante às contradições marcantes em nosso território, misturadas às suas próprias batalhas internas entre muitos fins e (re)começos.

Com o lançamento de “A Coisa Mais Linda Que Existe - Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto - Vol.2” (10 faixas), que já está disponivel nas plataformas digitais de áudio, a cantora Patrícia Ahmaral, de certa forma, tange algo como um contraponto a esta aura atribuída ao autor, trazendo nesta segunda parte de seu álbum tributo, um recorte dedicado exclusivamente a canções com letras de amor escritas por Torquato Neto. Entre as mais conhecidas, a clássica “Pra dizer adeus”, parceria dele com Edu Lobo e “Go back”, parceria com Sérgio Britto, hit dos Titãs, gravado pelo grupo nos anos 80.

O lançamento, que traz participações especiais de Ná Ozzetti, Paulinho Moska e Zeca Baleiro, dividindo solos de voz com Patrícia, dá sequência à homenagem da intérprete, que iniciou com “Um Poeta Desfolha a Bandeira - Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto - Vol.1” (9 faixas)*, e divulgado anteriormente nas plataformas, em 10/11/2022, exatamente na efeméride dos 50 anos de morte do autor. O projeto contou com direção artística do compositor e cantor Zeca Baleiro, colaboração iniciada informalmente e consolidada como oficial no decorrer das gravações.      

DUAS FACES

“São duas faces de Torquato, embora elas se entrelacem totalmente. O volume 1 com canções de discursos mais ´coladoś na Tropicália ou de versos mais existencialistas ou convocatórios. No volume 2, sua fala lírica-amorosa, terna, mas também atravessada por seu modo urgente e confessional e, por vezes, misturada à sua ironia crítica aos contextos do país”, explica Patrícia. “Um romantismo a la Torquato”, complementa.

Baleiro também comenta, em texto a respeito: “Patrícia dividiu o repertório do poeta em um volume mais, digamos, existencial, e outro mais lírico/amoroso, embora em Torquato tudo se misture e se confunda. Na poesia de Torquato tudo é caos. Por isso também é explosão de beleza”.

PRODUÇÃO MUSICAL E PROJETO GRÁFICO

A produção musical do trabalho, gravado na maior parte remotamente, durante o período pandêmico, é assinada pela dupla Marion Lemonnier (Honfleur-FR) e Walter Costa (Niterói), criando em conjunto, e por Rogério Delayon (Belo Horizonte), multiinstrumentista que integrava, no final dos anos 90, a banda que esteve com Patrícia, em noite na “Primeira Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte”, apresentando o show “TorquaTotal”, embrião que, de alguma forma, se desdobra neste álbum duplo, mais de 20 anos depois. No processo remoto, as vozes de Patrícia foram gravadas em São Paulo, pela produtora Gigi Magno, que as enviava para serem unidas às bases, por Walter Costa, também responsável pela mixagem do disco.

O álbum chega às plataformas com projeto gráfico de capa e “encarte” digital, assinado por Chico Amaral, artista plástico e premiado designer, irmão de Patrícia, que assumiu até o momento a criação gráfica de todos os trabalhos discográficos da cantora. As fotos são de Kika Antunes, fotógrafa belo-horizontina que dialoga com a intérprete também desde o início de carreira e que a clicou, agora, buscando uma estética de movimentos, camadas, em alusão à aura fugaz, fragmentária e plural que envolve a obra de Torquato Neto. O encarte será disponibilizado através das redes sociais da artista, na data de lançamento. Alguns exemplares físicos serão produzidos posteriormente para a imprensa e para fãs.

REPERTÓRIO

Neste volume 2, junto às obras mais amplamente conhecidas, as já citadas “Go back” e “Pra dizer adeus”, Patrícia resgata outras menos divulgadas, como “Um dia desses eu me caso com você”, de Torquato com o pernambucano Paulo Diniz (1940-2022), no vasto e interessante espectro de parcerias que contribuem no cancioneiro do autor. A música foi lançada por Diniz no LP “Canção do Exílio”, de 1982. Patrícia e Baleiro chegaram a tentar uma participação do músico na gravação, ainda em 2021, o que infelizmente não se concretizou, por motivos de saúde. Mais recentemente,  o mesmo poema foi base para canção homônima do compositor mineiro Oneives, no álbum “Segunda-feira” (2010) e, sobre outra versão do poema, Adriana Calcanhoto compôs “Um dia desses”, lançada  em “Maré” (2008).

Além de Edu Lobo, Sérgio Britto e Paulo Diniz, “A Coisa Mais Linda Que Existe - Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto - Vol.2” traz parcerias de Torquato com Gilberto Gil, na trinca “A coisa mais linda que existe”, “Minha Senhora” e “Zabelê”; com Geraldo Azevedo, em “O nome do mistério”; com Nonato Buzar (1932-2014), em “Que película”; com Zeca Baleiro, na até então inédita “Jardim da Noite (Esses Dias); e com Zé Roraima, em “Eh Morena”, canção do álbum “Torquato Neto: Inéditas Entre Nós” (2019), produzido a partir do Piauí. Nas participações, Ná Ozzetti, em “Que película”, Zeca Baleiro, em “Go back” e Paulinho Moska, em “Jardim da Noite (Esses Dias)”. (Confira repertório e faixa-a-faixa ao final do release).

“Sobre as participações são nomes de referência pra mim e na música brasileira e que, no álbum, me ajudam a promover as conexões que Torquato apreciava.  Ele era gregário e plural ao mesmo tempo… naturalmente, assim como no volume um, que trouxe várias colaborações e muito simbólicas (Banda de Pau e Corda, Chico César, Jards Macalé, Maurício Pereira e Tonho Penhasco e Projeto Moda de Rock), surgiu o desejo de incluir, também neste, pontes com artistas diversos e convidá-los para somarem neste caldeirão musical do poeta!”, conclui Patrícia.

PATRÍCIA COMENTA SOBRE O MOTE LÍRICO/AMOROSO NO LANÇAMENTO 

Eu já estava com o projeto do álbum encaminhado, havia sido contemplada com um edital da Lei Aldir Blanc (2020), que me permitiria iniciar parte da gravação e que eu finalizaria mais adiante com uma campanha de financiamento coletivo. Mais ou menos no mesmo período, consegui finalmente assistir ao documentário “Todas as horas do fim” (2017), dos roteiristas Marcus Fernando e Eduardo Ades, já em plataforma de streaming, pois infelizmente não conseguira conferir no cinema. Ao final do filme, que traz uma abordagem muito poética e delicada, num roteiro belíssimo, me ocorreu fazer este recorte com as canções de amor. Finalizei a sessão muito comovida. E veio, sim, um desejo de ajudar a transbordar o amor contido naquele personagem intrigante e grandioso, um terno e radical brasileiro, desenhado na tela e não cabendo em si mesmo... Ou… transbordar amor para ele. Foi a maneira que encontrei. Remeter Torquato ao amor que ele mesmo cunhou. Anterior ao contato com o doc, somou-se nessa perspectiva mais afetiva, um encontro inusitado que o acaso e a sorte me trouxeram no final de 2019, em São Paulo, com uma das primas de Torquato, Adélia Araújo, pessoa extremamente afável. Em cerca de uma hora de conversa, ela me contemplou com histórias sobre a ternura e sobre os tormentos dele, vistos a partir da intimidade… Eu já guardava um desenho daquelas músicas, onde seus versos falam do amor romântico, a meu ver, de uma maneira muito singular. São belas composições, de um espectro colorido, em parcerias impressionantemente diversificadas, como é toda sua obra musical. Trouxe a proposta para Zeca Baleiro, que a acolheu, e decidimos. Então, esse recorte tem uma motivação artística, mas também afetiva.

ENTENDA O HISTÓRICO DO PROJETO

O embrião desta homenagem de Patrícia a Torquato remonta ao final dos anos 1990. Ainda em início de carreira e ao lado dos músicos que a acompanhavam à época (Celso Pennini, Luís Patrício, Rogério Delayon e Thiago Corrêa) Patrícia Ahmaral apresentou, em noite especial na “1ª Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte” (1998), o show “TorquaTotal”, espetáculo idealizado pelos poetas Ricardo Aleixo e Marcelo Dolabela (1957/2020) e roteirizado e dirigido pelo produtor Pedrinho Alves Madeira. À época, Dolabela comentou: “Patrícia recebeu e cumpriu a missão de pegar o 'escorpião' vivo, eletrificá-lo e destilar seus venenos em mais veneno.”  De certa forma, o álbum de agora é um desdobramento daquele momento, mais de 20 anos depois, porém com o repertório modificado e ampliado, novas colaborações e pesquisas.

VERSÕES DELUXE

A cantora promete, para um futuro não muito distante, versões deluxe dos dois volumes para contemplar canções caras a ela, mas que precisaram ficar de fora do setlist .

Ela aguarda também oportunidade para circular com shows de lançamento do projeto, unindo os dois repertórios.

SOBRE PATRÍCIA AHMARAL

Patrícia Ahmaral iniciou carreira nos anos 90. Seu CD de estreia, Ah! (1999), foi produzido por Zeca Baleiro. Depois vieram Vitrola Alquimista (2004) e Superpoder (2011), produzidos respectivamente por Renato Villaça e Fernando Nunes. Após um hiato na carreira, em 2022 concretizou um sonho acalentado há anos e lançou, nas plataformas, o primeiro volume de um álbum tributo ao poeta piauiense Torquato Neto. Em seus discos anteriores, ela reverencia com paixão obras de autores como Walter Franco, Sérgio Sampaio e Alceu Valença, além de expoentes de sua geração, como Chico César, Zeca Baleiro e nomes da cena independente, como Edvaldo Santana e Suely Mesquita. E faz leituras de clássicos, como A Volta Do Boêmio (Adelino Moreira) e Não Creio Em Mais Nada (Totó). É formada em canto lírico pela UFMG. Em seu trabalho de maior visibilidade, gravou na primeira exibição da novela Xica Da Silva (Rede Manchete) os temas de abertura e do personagem principal, na trilha sonora de Marcus Viana. Vem despontando também como compositora e prepara álbum autoral para final de 2023/início de 2024.

Cucamonga
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