Ney Matogrosso conta pedido feito ao diretor de 'Homem com H': 'Só pode ter verdade'
Cantor fez apresentação junto a Arnaldo Antunes na Rio Innovation Week e falou sobre cinema, música e inovação
Ney Matogrosso falou sobre o impacto que o filme "Homem com H" gerou no público, atraindo novas gerações, e contou que fez um pedido ao diretor Esmir Filho: mostrar só fatos no filme.
"A única questão que coloquei para o diretor foi que não poderia ter mentira no filme. Só pode ter verdade", disse Matogrosso durante a palestra feita junto com o cantor Arnaldo Antunes na Rio Innovation Week, um dos principais eventos de tecnologia do País, que tem o Estadão como parceiro de mídia. "As pessoas parecem ter medo da verdade. Eu não tenho medo da verdade. Se forem falar de mim, tem que falar de tudo, na totalidade", completou.
O ex-vocalista do Secos & Molhados disse que acompanhou alguns dias de filmagem, que duravam 12 horas. O filme já está disponível em plataformas digitais e alcançou mais de 600 mil pessoas durante a exibição nos cinemas.
"O filme está provocando uma coisa extravagante, está se aproximando muita gente novinha. Fico muito feliz com isso. Queremos estar sempre em contato com o público, com as pessoas. Quando elas vêm de encontro a gente é muito bom", disse.
Matogrosso também contou um episódio ocorrido nos anos 1970, durante a ditadura militar. Segundo o cantor, em um dos seus shows em Brasília, a esposa de um militar pediu que ele vestisse uma camisa — seu figurino era sem camisa e com um tapa-sexo.
"O show parou, vieram me dizer que tinha que vestir camisa e disse que não tinha camisa. O figurino era aquele. Não teria honra se vestisse a camisa. Falei: 'se me impedirem de voltar ao palco, a multidão ficará enfurecida'", disse.
Matogrosso também comentou sobre a homenagem que irá receber no carnaval 2026 pela escola de samba Imperatriz Leopoldinense. "Estou adorando essa história. Achava que não era do meu universo, por que queriam falar de mim? Mas hoje entendo que faço parte de uma coisa que as pessoas gostam, da música. Aceitei e estou satisfeito", declarou.
O cantor disse ainda não saber detalhes sobre como será a homenagem. Ele já foi duas vezes à escola de samba e deve ir outras três, em breve. "Selecionaram 30 sambas, mas ainda não decidiram qual será", contou.
Matogrosso fechou a sua participação no festival de inovação cantando um trecho da música Balada do Louco à capela.
Arnaldo Antunes
O eterno titã falou também no palco sobre o seu novo trabalho, Novo Mundo, lançado neste ano.
Segundo Antunes, a canção que dá nome ao álbum é um retrato distópico da ascensão da extrema direita no mundo, dos problemas do aquecimento global, do negacionismo, da guerra e da violência e intolerância impulsionadas pelos algoritmos.
"A consciência disso é necessária para pensar como reagir a isso", disse o cantor.
Antunes também contou alguns nomes novos na música que passou a gostar, como a Banda Tietê e as cantoras Ana Frango Elétrico e Nina Maia.
O cantor encerrou sua participação no festival de inovação cantando Inclassificáveis, também à capela.
Inteligência artificial
Junto a Antunes, Ney também falou sobre a criatividade na era da inteligência artificial, um dos temas mais importantes da edição deste ano da Rio Innovation Week.
Para Antunes, o papel humano ainda é essencial na criação, particularmente na música.
"A inteligência artificial repete a partir de padrões de informações da internet, mas não tem a capacidade de criação do novo. Isso é uma condição do humano", declarou Antunes.
Já Matogrosso se disse mais restrito no uso de tecnologias, e que para de usá-las conforme percebe que existem problemas nelas, especialmente mentiras sobre sua vida.
"Já vi notícias de que eu tinha adoecido, estava no hospital, estava sem ar. Anteontem, eu li que tenho uma filha. Tinha o nome da mãe, quando nasceu, só não sei quem é. É doido ver a sua vida contada assim", afirmou o cantor.