PUBLICIDADE

Velório de João Gilberto será no Theatro Municipal do Rio

A causa da morte ainda não foi divulgada. João Gilberto morreu por volta das 15h de ontem (6) em seu apartamento, no bairro do Leblon

7 jul 2019 - 13h47
(atualizado às 13h59)
Compartilhar
Exibir comentários

O corpo do cantor e compositor João Gilberto será velado amanhã, a partir das 9h até as 14h, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro. A direção do teatro confirmou o velório, que será aberto ao público. Por enquanto, o corpo permanece no Instituto Médico Legal (IML) do Rio. No início da tarde, a filha do compositor, Bebel Gilberto, chegou ao Rio de Janeiro. Ela estava nos Estados Unidos.

A causa da morte ainda não foi divulgada. João Gilberto morreu por volta das 15h de ontem, em seu apartamento, no bairro do Leblon, na zona sul da cidade do Rio. Ele estava com 88 anos e passava por problemas de saúde nos últimos anos.

Últimos anos

Os últimos anos de vida do cantor e compositor João Gilberto, morto neste sábado, 6, no Rio de Janeiro, foram marcados por disputas entre seus familiares, problemas de saúde e dívidas que chegaram a R$ 9 milhões.

Dois de seus três filhos, João Marcelo e Bebel Gilberto, travaram guerra judicial contra Claudia Faissol, mãe de sua filha mais nova. Na Justiça, Bebel pediu em 2017 a interdição do pai para que ele não fosse induzido a assinar documentos com força legal sem saber o que estava fazendo.

João Gilberto morre aos 88 anos
João Gilberto morre aos 88 anos
Foto: Divulgação

Em 2013, o banco Opportunity comprou 60% dos direitos sobre os quatro primeiros discos do cantor, considerados alguns dos mais importantes da música brasileira. Na época, João Marcelo acusou Claudia de receber por fora algo entre 5% e 10% desse montante.

Em 2017, João Gilberto foi interditado judicialmente por Bebel, que afirmou que seu pai estaria passando por "absoluta penúria financeira". Nesse mesmo ano, o Estado tentou encontrar o músico em sua residência, em um prédio que fica a dois quarteirões da praia, mas nem mesmo os moradores sabiam de sua situação. "Você está aqui procurando o João Gilberto? Desiste! Nunca ouvi nem um violãozinho e moro há 30 anos no prédio", contou uma moradora.

João Gilberto morreu aos 88 anos, recluso e sem ter visto a guerra travada entre seus familiares ter sido pacificada.

O pai da Bossa Nova, por Julio Maria, repórter de O Estado de S.Paulo

Menino de Juazeiro da Bahia, João Gilberto era filho do comerciante Juveniano Domingos e da católica Martinha do Prado, a Patu, João viveu em terras juazeirenses até 1942, aos 11 anos, quando seguiu para estudar em Aracaju. Juazeiro ainda o teria de volta quatro anos depois, quando o violão que o pai lhe deu começou a ganhar as primeiras carícias. A Rádio Nacional lhe trazia o mundo e João flutuava ao som de Orlando Silva, Dorival Caymmi, Chet Baker, Carmen Miranda. O primeiro grupo, Enamorados do Ritmo, veio logo, e Juazeiro ficou pequena.

A cidade que o recebeu na sequência teria sério papel na formação de seu caráter artístico. Aos 18 anos, em Salvador, já trabalhava com carteira assinada na Rádio Sociedade da Bahia. Não havia ainda desenhado o formato voz e violão, mas seguia os mandamentos de Orlando Silva tentando imitá-lo, por mais que o moderno já fossem Dick Farney e Lúcio Alves. O grupo vocal Garotos da Lua o chamou e lá se foi, gravar dois discos 78 rotações.

O Rio fervia na segunda metade dos anos 50, e foi para lá que João seguiu, aos 26 anos, em 1957. Sem recursos, seguia a trilha de quem queria ser alguém com um violão sob o braço. Cantou para quem poderia lhe fazer diferença, como Tito Madi, mas teve mais sorte ao cair nas graças do produtor Roberto Menescal.

O violão de João virava a vedete. Bim Bom, uma das primeiras que apresentou aos círculos de jovens músicos no Rio, já trazia elementos de novidade. A levada uniforme deslocando acentos fortes para lugares incomuns, a harmonia sugerindo caminhos pelos quais ninguém passava, a mão que fazia acordes fazendo também percussão. E a voz. A voz de João deixava as tentativas da impostação e partia para o naturalismo de Chet Baker quando cantava. Volume baixo e notas de longa duração, limpas, sem vibrato. Depois de acreditar no violão, João passava a ter fé no fio da própria voz.

E, então, fez-se a Bossa Nova. Era julho de 1958 quando Elizete Cardoso apareceu com o disco Canção do Amor Demais, com músicas de Tom Jobim e Vinicius de Moraes. Ao violão, em duas das faixas, Chega de Saudade e Outra Vez, João Gilberto. Era só a ponta da cabeça de um baiano que se revelaria por inteiro um mês depois. Em agosto, João, já uma aposta de Tom Jobim, Dorival Caymmi e Aloysio de Oliveira, grava seu próprio 78 rotações com Chega de Saudade e Bim Bom, pela Odeon.

O que João fez, diminuindo as frequências da voz e do violão ao mesmo tempo em que estendia a harmonia, criou uma linguagem brasileira e, sobre ela, um novo gênero. Seguiu na formatação de sua proposta com Desafinado, de Tom e Newton Mendonça, e Hô-bá-lá-lá, de sua autoria. Chega de Saudade já o havia definido como um acontecimento. "Em pouquíssimo tempo, (João) influenciou toda uma geração de arranjadores, guitarristas, músicos e cantores", escreveu Tom Jobim na contracapa do disco de 1959. Sessenta anos depois, não chegamos ainda ao tempo em que ele viveu.

Veja também

Angra: "A morte do André [Matos] foi um enorme meteoro":
Estadão
Compartilhar
Publicidade
Publicidade