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Como saber se tenho "ouvido relativo" ou "ouvido absoluto"?

24 jun 2019 - 19h58
(atualizado em 17/2/2020 às 16h09)
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Você conhece ou já viu alguém que sabe identificar notas musicais com precisão fora do comum? É algo realmente impressionante, não é? Fique sabendo, então, que não é um fenômeno sobrenatural.

Trata-se de percepção auditiva, uma das habilidades fundamentais para o desenvolvimento de um músico. Com ela, nós conseguimos envolver a captação dos sons dentro de um contexto no discurso musical. Mas você sabia que existem dois tipos de capacidade de audição? Sim: estamos falando de ouvido absoluto e ouvido relativo. Ambos são importantes e jamais se anulam.

Neste texto, a conversa vai girar em torno desse tema tão debatido entre músicos dos mais variados níveis de aprendizado. Se você quer saber qual é o seu tipo de audição, continue com a gente.

Ouvido absoluto ou ouvido relativo, eis a questão!

Ouvido absoluto

O portador do ouvido absoluto tem a capacidade de reconhecer com extrema precisão a frequência de cada som, possibilitando-o nomear tons específicos, assim como entoá-los de maneira isolada, sem a necessidade de recorrer a quaisquer parâmetros. Em artigo publicado na revista acadêmica Nupeart, a professora Claudia Mara Damian explica que "o músico portador de tal habilidade pode ouvir detalhes e ater-se a cada som puro, bem como perceber formas e estruturas sonoras diversas".

Imagine que sejam apresentadas as seguintes frequências: 392; 440; 392; 329,6; 392; 440; 392 e 329,6 Hz para vários indivíduos. Um leigo diria que ouviu um conjunto de sons; para uma pessoa que ouve música informalmente, a sequência seria apontada como a melodia da canção Noite Feliz; já um estudante de música poderia citar a relação intervalar, ou seja, 2ª maior ascendente; 2ª maior descendente; 3ª menor desc.; 3ª menor asc.; 2ª maior asc.; 2ª maior desc. e 3ª menor desc. No entanto, somente a pessoa com audição absoluta seria capaz de afirmar a sucessão de sons tocados foi: sol, lá, sol, mi, sol, lá, sol e mi.

Apesar de parecer infalível, o ouvido absoluto não é sinônimo de audição perfeita. Por ter uma memória sonora de frequências exatas e fixas, o indivíduo equipado com ouvido absoluto nem sempre consegue identificar uma sequência melódica se as frequências das notas forem alteradas. Exemplo: se a afinação de um piano estiver fora do padrão (Lá 440), a habilidade auditiva pode resultar em falhas.

Origens do ouvido absoluto

Não há certeza incontestável sobre as origens do ouvido absoluto. Cientistas, psicólogos, educadores musicais e músicos defendem opiniões diferentes quanto a este assunto, por ser a habilidade em si difícil de ser avaliada pelos critérios comumente utilizados. No final das contas, duas teorias explicam a habilidade:

  • há quem diga que é um "dom inato", ou seja, a natureza privilegiou alguns com tamanha dádiva;
  • há quem diga que é uma questão de habilidade adquirida através de treinamento sistemático.

Porém, um estudo recente abriu uma terceira via de pensamento. Cientistas da Universidade York, no Canadá, dividiram 61 voluntários em três grupos: o primeiro, formado por músicos com ouvido absoluto; o segundo, composto por músicos com habilidades similares; e o terceiro, agrupou pessoas sem qualquer tipo de treinamento musical.

Os resultados indicaram que os músicos com capacidade de identificar notas musicais sem tons de referência foram identificados com um córtex auditivo significativamente maior, que aumenta ainda mais quando exposto a determinados sons, como os de baixa frequência. Essa descoberta sugere que há uma explicação genética para o ouvido absolutoe vai na contramão da maioria dos estudos já publicados, que sugerem que o treinamento para o reconhecimento das notas durante a infância é essencial para que o fenômeno aconteça.

Ouvido relativo

Entende-se como ouvido relativo a capacidade de identificar uma nota ao relacioná-la às outras notas, ou seja, para que o portador dessa capacidade auditiva consiga identificar uma determinada nota em questão, ele precisa escutar as outras notas que estão junto dela. Quem possui esse tipo de audição consegue identificar intervalos e também a nota com base em outra nota dada.

Bem menos badalado do que o ouvido absoluto, o ouvido relativo também é uma habilidade fascinante. Segundo a professora Claudia Mara Damian, "quaisquer padrões estruturais sonoros, independentemente dos níveis de complexidade, são discernidos através da audição relativa". Por realizar uma audição mais abstrata, a audição relativa é capaz de perceber formas e estruturas musicais, como também fazer diversos tipos de relações.

Como necessita de referenciais, esse tipo de audição relativa consegue, a partir de uma elaboração intelectual, absorver o sentido total de uma peça musical. Por sua vez, a "audição absoluta possui, biologicamente ou através do treinamento e aculturação, uma memória aural fixa, codificada e armazenada de forma que seu possuidor pode recuperar imediatamente a designação do som ouvido", explica a professora.

Como descobrir meu tipo de ouvido?

Comece tocando uma nota e tentando identificá-la. Caso consiga fazer a identificação logo de cara, provavelmente você tem um ouvido absoluto. Se por um acaso você precisar de uma nota de referência, então seu ouvido é relativo.

Existem alguns programas que ajudam a fazer essa identificação. Um deles é  Pitch Test, que funciona online e é bastante intuitivo: com alguns cliques, você pode testar sua capacidade auditiva.

Importante: independente do resultado, ouvido absoluto e relativo são capacidades passíveis de treinamento e desenvolvimento, assim como não devem ser utilizadas isoladamente. A aquisição de tais habilidades é uma necessidade real, principalmente por causa da diversidade de sons existentes ao nosso redor e da infinita variedade de estilos musicais tonais e atonais que fazem parte da nossa cultura.

A seguir, um vídeo sobre a relação entre habilidade auditiva e prática musical:

Cifra Club
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