Homem mata namorada a pedradas, confessa feminicídio e é preso
Homem mata namorada a pedradas e é preso assim que confessou o crime; veja
NOTA: A notícia a seguir aborda violência extrema contra mulheres e pode ser sensível para algumas pessoas. Se você ou alguém que você conhece está em situação de risco, denuncie pelo 180. Em emergências, acione a Polícia Militar pelo 190.
A Polícia Civil de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, prendeu Diego Vitorino da Silva, 29 anos, suspeito de assassinar a companheira, Amanda dos Santos Souza, 28, na manhã de segunda-feira (8). O crime ocorreu dentro da casa da vítima, no bairro da Penha, e, segundo a investigação, foi presenciado por uma das filhas do casal.
De acordo com a polícia, Diego utilizou pedradas para matar Amanda. Após o ataque, ele fugiu, mas foi localizado e detido na terça-feira (9), em Grussaí, distrito de São João da Barra. Levado à delegacia, o suspeito confessou o homicídio e alegou ter cometido o crime por ciúmes, sob a suspeita de que a companheira mantinha um relacionamento extraconjugal.
O caso ganhou contornos ainda mais graves após a Polícia Civil confirmar que Amanda havia registrado três denúncias anteriores de violência doméstica contra o companheiro. Ela também chegou a solicitar uma medida protetiva, mas desistiu posteriormente, o que permitiu a soltura de Diego em ocasiões anteriores.
Parentes e vizinhos descreveram Amanda como uma mulher dedicada à família e conhecida por sua determinação diante das dificuldades do dia a dia. A investigação agora segue sob a tipificação de feminicídio. Diego está preso em caráter temporário enquanto a Polícia Civil reúne demais elementos para concluir o inquérito.
ALTA NA TAXA DE FEMINICÍDIO
Um levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que São Paulo concentra parte significativa dos feminicídios do estado: um em cada quatro casos consumados ocorreu na capital. A comparação entre janeiro e outubro de 2025 e o mesmo período de 2024 indica alta de 23% na cidade. Em relação aos dados de 2023, o avanço chega a 71%.
O estudo aponta que a violência fatal contra mulheres segue um padrão consolidado. A residência da vítima permanece como principal cenário dos crimes (67%), e armas brancas ou objetos contundentes foram utilizados em mais da metade dos casos registrados no estado.
Adriana Liporoni, coordenadora das Delegacias de Defesa da Mulher em São Paulo, destaca que o feminicídio costuma ser o último estágio de agressões contínuas. Para ela, o aumento das notificações é resultado tanto da escalada dos conflitos nos relacionamentos quanto da melhoria na classificação e no registro legal desses crimes.
A coordenadora lembra que a tipificação do feminicídio, criada em 2015, ampliou a precisão das estatísticas ao separar esses crimes dos registros gerais de homicídio. Segundo ela, esse avanço contribuiu para identificar melhor a motivação de gênero, mas não explica sozinho o aumento das ocorrências. A delegada aponta que parte do crescimento reflete também a intensificação da violência extrema, muitas vezes ligada à tentativa de controle e à reação desproporcional de agressores diante do fim do relacionamento.
Mesmo com o aprimoramento das leis, Liporoni destaca que a resposta estatal ainda enfrenta limitações. "O grande desafio está na prevenção e na capacidade de identificar os primeiros sinais do ciclo violento", afirma. Ela explica que, quando os primeiros indícios são reconhecidos e a rede de apoio consegue agir rapidamente, há mais chances de interromper a escalada antes que ela chegue ao extremo.
Para Malu Pinheiro, do Instituto Sou da Paz, o perfil dos feminicídios exige estratégias específicas. Como a maioria é cometida por parceiros, ex-parceiros ou familiares, geralmente dentro da residência —, a abordagem precisa ser distinta da adotada em outros crimes contra a vida. Ela defende a ampliação dos serviços de acolhimento e proteção, fundamentais para que as mulheres consigam romper vínculos abusivos com segurança.
A gravidade desses ataques também impressiona profissionais acostumados a lidar com cenas de violência. À Folha de S.Paulo, a fotógrafa técnico-pericial Telma Rocha, com mais de três décadas de atuação em ocorrências de homicídio, relatou o impacto das cenas que testemunha.
"[Mulheres] queimadas, amarradas, espancadas, mutiladas. Mas o que mais me chama a atenção e, muitas vezes me quebra, são os ferimentos de defesa. Cortes nas mãos, nos braços e unhas quebradas. Isso me destrói, pois chega a passar a cena na minha imaginação. É muito cruel."