Ailton Graça afirma: "Não sou mulherengo"
Camelô, fiscal de ônibus, palhaço de circo, ator, empresário... ufa! Apesar de não se considerar herói pelo passado humilde, Ailton Graça, que vive o malandro Tião em Cama de Gato, prova que tem fôlego de sobra quando o assunto é trabalho. Esbanjando simpatia e muita graça - com perdão do trocadilho com seu sobrenome -, ele fala sobre carreira, assédio das mulheres e a vida antes da TV.
Tião é o típico malandro, vive de trambique, engana a mulher. Você já interpretou outros personagens com características parecidas, como o Feitosa, em América. Não tem medo de ficar tachado por esse tipo de papel?
Não, pelo contrário. Esses personagens carregam em comum um lado popular muito forte. Acho isso ótimo. É até mais difícil de interpretar, porque as pessoas se identificam. Além disso, são papéis diferentes. Tião é o malandro cafajeste, que vive da corrupção. Já o Feitosa era o típico boêmio, boa praça.
Mas não tem vontade de interpretar personagens mais dramáticos na TV?
Se eu tiver que representar uma cadeira que tem uma importância fundamental na trama, faço sem problema nenhum. Não tem essa de querer fazer só protagonista. O personagem tem que me atrair. Já vivi papéis dramáticos no teatro. Na TV, fico feliz porque me confiam personagens interessantes, mas sei que vai chegar o momento em que vão me chamar para outros trabalhos.
Você sempre contracena com mulheres bonitas e, na novela, é ex-marido de Camila Pitanga e namorado de Emanuelle Araújo. Como é isso?
Uma delícia. Eu dou vários palpites no trabalho delas e vice-versa. Sou presenteado por me colocarem ao lado de atrizes belíssimas. Isso acontece desde o Feitosa, que tinha duas mulheres, Creusa (Juliana Paes) e Islene (Paula Burlamaqui). Talvez alguém lá em cima goste de mim (risos).
E a sua mulher, não tem ciúme de tanta concorrência?
Não, porque ela é atriz também (Kátia Naiane). Além disso, não sou mulherengo. Estou casado há nove anos e todos os meus outros relacionamentos foram duradouros. Apenas na adolescência namorei bastante.
As mulheres te assediam muito?
Muito. Na época do Feitosa e do sucesso da música Meu Ébano, viajei para Tocantins para dançar no show de Alcione. Eu estava emocionado. Quando chegamos lá, tinha um mar de pessoas no caminho até o palco. As mulheres tiravam a camisa e mostravam os seios, dizendo: 'Eu sou a Creusa, me pega' (risos). Eu olhava aquilo e pensava: 'É comigo mesmo que isso está acontecendo?'
E como é a resposta do público aos seus personagens?
As pessoas conversam comigo como se eu realmente soubesse quem são elas. Já levei tapas na rua por causa do Tião. Gritam que sou sem vergonha, safado. Uma vez, na época do filme ¿Carandiru¿ ¿ em que viveu o traficante Majestade ¿, eu estava no metrô quando um cara sentou do meu lado e disse: 'Meu irmão, passo a mesma situação que você, também roubo e tenho duas mulheres'. Respondi que era ator e nunca tinha sido preso. O rapaz completou: 'Fica tranquilo, entendi seu disfarce, véio' (risos).
Antes de ser ator, você já foi camelô, vendedor de calçados, fiscal de ônibus. Como era essa época?
Resolvi não falar mais sobre isso, porque parece que é um ato heroico, e não é. Heróis são os anônimos que fazem de tudo pelas suas famílias, o cara que desce o morro com a marmita debaixo do braço para dar uma boa educação para os filhos. Temos exemplos melhores que eu, como o Lula, que era boia-fria e se tornou presidente. Não sou herói, mas um homem comum, que batalha pelos seus sonhos como muitas outras pessoas.
E em que momento a arte entrou na sua vida?
Quando comecei a fazer teatro não sabia que estava fazendo. Na infância, eu brincava no varal de casa, abrindo o lençol como se fosse uma grande cortina, adorava um palco. Na época em que estava estudando teatro de uma forma mais acadêmica, Marcos Frota me indicou uma escola de circo. Comecei e me apaixonei.
O que fazia no circo?
Era trapezista e palhaço. Essa experiência me ajudou a compreender melhor o ¿estar em cena¿. Até para atuar em tragédia, o artista tem que achar divertido fazer o povo chorar, ficar inconformado.
Além de artista, é dono do restaurante Zucca, em São Paulo. Por que decidiu abri-lo?
Tem a ver com o espírito paulistano de receber as pessoas em casa com comida. A gente nunca convida inimigo para comer. Quis montar um lugar que tivesse comida e eu pudesse conhecer um monte de gente.
Está com algum projeto paralelo ao Tião?
Pretendo montar peça em homenagem ao 'todo poderoso' Timão, sobre a torcida corintiana. No cinema, estou em filmes que ainda vão estrear, como Bróder, Condomínio Jaqueline e Chico Xavier.