Filho de brasileira, escritor alemão Thomas Mann continua atual 150 anos após seu nascimento
Thomas Mann foi um dos maiores romancistas do século 20 e um dos maiores escritores em língua alemã de todos os tempos, ao lado de Goethe. O autor de "A Montanha Mágica" nasceu em 6 de junho de 1875, em Lübeck, filho do comerciante alemão Johann Heinrich Mann e da brasileira, Júlia da Silva Bruhns. Sua obra continua a fascinar e se mostra ainda atual 150 anos após seu nascimento.
Thomas Mann foi um dos maiores romancistas do século 20 e um dos maiores escritores em língua alemã de todos os tempos, ao lado de Goethe. O autor de "A Montanha Mágica" nasceu em 6 de junho de 1875, em Lübeck, filho do comerciante alemão Johann Heinrich Mann e da brasileira, Júlia da Silva Bruhns. Sua obra continua a fascinar e se mostra ainda atual 150 anos após seu nascimento.
Thomas Mann recebeu o prêmio Nobel de Literatura em 1929. Pouco depois, foi expatriado e forçado ao exílio com a família pelo regime Nazista. Viveu em Los Angeles e morreu em 1955, no dia 12 de agosto, em Zurique, na Suíça.
A obra do escritor é louvada por seu cosmopolitismo humanista. Ele era um mestre em expor as contradições da modernidade. Sua obra, composta por oito romances, cerca de 30 contos e novelas, uma peça de teatro e inúmeros ensaios, permanece espantosamente atual, seja no contexto da psicanálise ou das crises democráticas.
"Seus livros são um testemunho comovente da transição do mundo anterior à Primeira Guerra Mundial e as convulsões posteriores, em que a confiança no progresso e na civilização burguesa e liberal foi aniquilada", escreve o crítico do jornal Le Monde Nicolas Weill.
O escritor criou personagens que refletem tanto a fragilidade humana quanto os delírios coletivos de sua época. Sua escrita mescla músicos importantes, como Wagner ou Schönberg, filosofia e crítica social, e continua a inspirar gerações.
Mãe brasileira
Júlia, a mãe de Thomas Mann, nasceu no Brasil e morou em Parati, mais precisamente no "Engenho Boa Vista" até os seis anos de idade. Era filha de Johann Ludwig Hermann Bruhns, de Lübeck, administrador de plantações de cana-de-açúcar, e da brasileira de Maria Luísa da Silva. Com a morte da mãe, no parto do sexto filho, foi enviada pelo pai à Europa ainda criança
Aos 17 anos, Julia Silva Bruhns se casou em Lübeck, no norte da Alemanha, com o comerciante Johann Heinrich Mann e teve cinco filhos, entre eles os escritores Heinrich e Thomas. Ela faleceu em 11 de março de 1923 perto de Munique, e apesar de ter vivido apenas seis anos no Brasil, suas lembranças do país natal, narradas no livro "Memórias da infância de Dodô", marcaram sua vida e influenciaram as obras dos filhos.
Seu nome é pouco citado pela crítica e mesmo pelo próprio Thomas Mann. No texto "A imagem da mãe", de 1930, ele faz uma das poucas referências explícitas a ela. "Minha mãe nasceu no Rio de Janeiro, mas tinha um pai alemão. Isso significa que apenas um quarto do meu sangue e o dos meus irmãos é latino-americano. Ela nos contava a beleza paradisíaca da baia do Rio de Janeiro, das cobras venenosas que existiam nas plantações do pai e sobre escravos negros, que eram espancados com porretes", escreveu.
Essa "brasilidade" foi revelada também em uma entrevista a Sérgio Buarque de Holanda, na Alemanha, em 1929, pouco depois da conquista do prêmio Nobel. Ao confirmar a origem brasileira de sua mãe e falar das lembranças de sua "infância paradisíaca", disse acreditar que "a essa origem latina e brasileira devo certa clareza de estilo e, para dizer como os críticos, um temperamento pouco germânico".
"Estou certo de que a influência mais decisiva sobre minha obra resulta do sangue brasileiro que herdei de minha mãe. Penso que nunca será demais acentuar essa influência quando se critique a minha obra ou a de meu irmão Heinrich", completou
Referências ao Brasil pouco explícitas
As referências explícitas ao Brasil na obra de Thomas Mann são quase inexistentes ou muito sutis. O irmão, Heinrich, criou no romance "Entre as Raças" (1907) uma personagem brasileira, abertamente inspirada na mãe Julia e no seu livro "Lembranças da Infância de Dodô".
Thomas nunca chegou a tanto. O romance "Felix Krull", terminaria segundo planos do autor, no Rio e em Buenos Aires e seria a primeira vez que o Brasil serviria de cenário para uma de suas histórias, mas o romance ficou inacabado.
A crítica alemã considera negligente o papel do Brasil na sua formação, mas o livro "Terra Matria", do trio de críticos Karl-Josef Kuschel, Paulo Soethe e Frido Mann, neto de Thomas, ressaltam a presença marcante de figura do "estrangeiro" na obra do escritor.
O livro, que faz um minucioso estudo sobre as ligações entre o Basil e a família Mann, identifica "diversos recursos literários na construção de personagens e interlocutores vindos de longe, na presença do exótico, do estranho", em quase todos os seus romances e principalmente em "Morte em Veneza", "A Montanha Mágica" e "Felix Krull".
Nos anos de exílio, a relação de Thomas Mann com sua origem brasileira evoluiu da postura da década de 30, quando disse ser apenas um quarto sul-americano, até a curiosidade e o orgulho.
Em um texto de 1943 escreveu: "apenas uma certa corpulência desajeitada e conservadora de minha vida explica que eu ainda não tenha visitado o Brasil. A perda da minha terra pátria deveria constituir uma razão a mais para que eu conhecesse minha terra mátria. Ainda chegará essa hora, espero". Thomas Mann morreu aos 80 anos, 12 anos depois desta afirmação, sem nunca ter visitado o Brasil.