Zé Colméia e Catatau sofrem em filme de humanos nada espertos
Quando se começa a analisar um filme por suas escolhas técnicas, dá para saber que algo não vai bem. E em Zé Colméia, nem o parque Jellystone, nem a vida amorosa do guarda Smith e muito menos as escolhas técnicas do filme, ou não-técnicas, vão bem. Sim, estamos falando de mais uma tentativa de Hollywood transformar personagens carismáticos e inteligentes em franquia para capa de caderno escolar. E, para tanto, faz uso daquela infame técnica de colocar personagens criados em computação gráfica interagindo com cenários e atores reais. E em Zé Colméia, ao contrário de vários outros filmes que optam por utilizar a mesma interação, não é exatamente a computação gráfica o problema. Mas sim o que escapa dela.
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Eric Brevig, o diretor, já esteve à frente do primeiro Viagem ao Centro da Terra, mas seu currículo é mais prolífico na direção de efeitos especiais do que de tramas em si. O que em parte explica o fato de que o filme erra quando tenta administrar os elementos não controlados pelo computador. O Guarda Smith foi transformado em público alvo de algo no gênero Boston Medical Group, a mocinha do filme tem o mesmo carisma de uma ratazana e os vilões da história são tão assustadores quanto os ursinhos Gummi. Para amenizar tudo isso, temos eles, Zé Colméia e Catatau, os ursos falantes do parque Jellystone que continuam genuínos em suas preocupações, respectivamente: comida e Zé Colméia. Ou seja, enquanto Zé tenta criar engenhocas para roubar cestas de piquenique no parque, Catatau tenta relativizar os perigos desses projetos.
Os atores construídos em software dão um banho de interpretação no elenco de carne e osso. Ou seja, toda a engraçada esquizofrenia própria dos desenhos Hanna-Barbera em que animais dialogam verbalmente com humanos vai por água abaixo toda vez que Zé Colméia e Catatau interagem com o resto do filme ¿ leia-se 90% da história. E a citar efeitos especiais, vai por água abaixo também qualquer possibilidade de um Chroma key bem realizado quando os personagens terminam caindo numa cachoeira.
A saída aqui é se ater às piadas do próprio Zé Colméia, algumas com aquele espírito do desenho original, cheias da indisfarçada vaidade do protagonista - "Eu sou tão inteligente que dói" e aquela atitude de João Sem Braço do simpático urso. A história em si é uma solução simples para resolver o tempo de um longa-metragem: Jellystone vai completar 100 anos e o prefeito da cidade está mais interessado em arrendar toda aquela área verde para desmatamento e, com o dinheiro da venda da terra, saldar as dívidas do município e, claro, vencer a eleição para governador do estado.
Preocupação ambiental, políticos maquiavélicos, guardas florestais com causa e sem amor. Até aí, nada fora do esperado, o problema é realmente a falta de preocupação com a inteligência dos espectadores-alvo: as crianças. Está mais do que provado - e a Pixar, DreamWorks e Fox Animation estão aí para assinar embaixo - que filmes infantis não precisam tirar por menos. Aliás, é sabido que crianças captam mensagens sutis imperceptíveis à nossa leitura viciada de ideias preconcebidas. Zé Colméia, o filme, cria personagens unidimensionais e não dá brechas para que o filme vá além do que o desenho fazia - sem o benefício técnico de ser uma animação que dura alguns poucos minutos.
Em suma: a melhor coisa de Zé Colméia, o filme, é mesmo o curta-metragem com o Coiote e o Papa Léguas exibido antes da história. Esta sim, uma animação hilária no melhor estilo esquizofrênico dos planos infalíveis.