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Para eles, Harry Potter é Peter Pan

24 jul 2009 - 16h19
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Como certamente deve ter percebido qualquer pessoa que tenha assistido ao fenômeno de bilheteria

Copa Mundial de Quadribol
Copa Mundial de Quadribol
Foto: The New York Times
Harry Potter e o Enigma do Príncipe

, os personagens principais da história cresceram. E o mesmo vale para os espectadores. Muitas das pessoas que estão indo ao cinema para assistir ao filme têm mais de 20 anos.

» Confira o especial sobre o filme

O sexto filme da série foi lançado quase 12 anos depois do livro que deu início à saga, Harry Potter e a Pedra Filosofal. A geração que deu início à Pottermania na pré-adolescência agora está se formando na faculdade ou entrando no mercado de trabalho, e seus integrantes mantiveram viva a paixão adolescente pela história.

Bandas de rock indie motivadas por essa obsessão já chegaram ao mercado, com nomes como Harry and the Potters, The Half Bloods, e Voldie and the Wiz Kids, com canções inspiradas pelos livros.

No final do ano passado, equipes das universidades de Princeton, Vassar e Boston, bem como mais uma dúzia de escolas, disputaram a Copa Mundial de Quadribol, na qual os participantes jogam uma versão real do esporte de contato assemelhado ao futebol que faz tanto sucesso nos filmes e livros. Os participantes não são capazes de voar, mas ainda assim competem com vassouras entre as pernas.

A atração constante de tudo que se relaciona a Potter é prova do poderio duradouro da série. Mas também parece algo mais: o advento da nostalgia pela chamada Geração Y. "Associo Harry Potter à minha infância", diz Becca Cadoff, 21, aluna de terceiro ano na Universidade Northwestern. "Eu mal podia esperar pelo lançamento de cada livro. Íamos a festas de lançamento à meia-noite, na livraria de minha cidade em Nova Jersey." Agora, conta, suas colegas de apartamento têm todos os filmes de Potter em DVD. "É uma maneira de escapar ao trabalho escolar", diz.

De acordo com uma pesquisa entre quatro mil pessoas que adquiriram ingressos para o novo filme da série por meio do serviço online de ingressos Fandango, 45% tinham entre 18 e 30 anos, ante 15% de compradores com idade abaixo dos 17 anos.

Se a geração do baby boom está celebrando os 40 anos do Woodstock e a Geração X recorda o 15° aniversário da morte de Kurt Cobain, a Geração Y -formada pelas pessoas nascidas entre 1980 e 2003 - sente nostalgia pela cultura pop do final dos anos 90 e começo dos 2000.

A música pop está aproveitando os vislumbres iniciais da tendência. Astros que dominavam as paradas uma década atrás e depois desapareceram estão de volta. Relapse, o álbum de retorno de Eminem, vendeu 1,2 milhão de cópias (número impressionante em um mercado musical anêmico como o atual), enquanto três das maiores bandas daquele período - Blink 182, Limp Bizkit e Creed - voltaram a se reunir para turnês. Seth Matlins, vice-presidente de marketing da Live Nation, uma empresa de promoção de shows, se refere a esses conjuntos como "o rock clássico da próxima geração".

A turnê de maior bilheteria até agora em 2009 não foi a de Bruce Springsteen ou do AC/DC, mas a de Britney Spears, um ícone da Geração Y, que faturou US$ 61 milhões até agora em sua série de shows, a primeira que ela faz em cinco anos. "Pode ser que os fãs originais estejam voltando por nostalgia", diz Gary Bongiovanni, da Pollstar, uma empresa que mede as vendas de ingressos de shows. "É como a turnê do New Kids on the Block, que atraiu mulheres próximas dos 30 anos que queriam revisitar sua juventude."

Outro sinal de alerta é o súbito anseio por uma reunião do elenco do seriado humorístico Saved by the Bell, que saiu do ar em 1993 mas era adorado pelos adolescentes da época. Jimmy Fallon, no site de seu programa de entrevistas, já recolheu quase 80 mil assinaturas por uma reunião do elenco.

Da mesma maneira que vem acontecendo ao longo de todas as suas vidas, a faixa etária coberta pela Geração Y é muito atraente para os anunciantes. "As pessoas entre 20 e 30 anos ocupam posição central no mundo dos shows ao vivo", diz Matlins.

Ainda que cada geração costume desenvolver nostalgia, parece muito cedo para que pessoas de 28 anos já estejam contemplando o passado. Uma possível explicação, dizem analistas que se concentram em questões de identidade geracional, é o impacto dos ataques terroristas de 11 de setembro de 2001. O clima político e econômico dos anos 90 é hoje visto como tão plácido quanto uma balada do Backstreet Boys: nada de guerras, desemprego de apenas 4%, um superávit federal de US$ 120 bilhões.

Neil Howe, autor de diversos livros sobre o que ele chama de "geração do milênio" (outro termo para a Geração Y) estabelece um paralelo entre essa onda de nostalgia e aquela que a geração do baby boom viveu com o filme Loucuras de Verão (American Graffiti), em 1973. O filme retratava o passado então recente, o do começo dos anos 60, que parecia ter desaparecido para sempre.

"É a nostalgia instantânea pelo que havia antes de uma grande virada no clima do país", afirma Howe. "American Graffiti era a nostalgia da geração do baby boom pelo mundo que existia antes que tudo mudasse com o assassinato de John Kennedy."

"A geração do milênio considera o mundo anterior ao 11 de setembro como uma era de inocência. A maior preocupação era o bug do milênio. Tudo isso parece ter ficado muito para trás, agora", ele acrescenta.

Jeff Gordinier, autor de um livro que trata do começo dos anos 90, os anos de formação da Geração X, diz que "não deveria surpreender que a Geração Y esteja recorrendo à nostalgia, em meio a uma severa recessão". "A nostalgia reconforta as pessoas, e a geração do milênio provavelmente está ansiosa por ser reconfortada, agora", afirma.

Jeff Taylor, 24, analista de mídia em Arlington, Virgínia, concorda. "O 11 de setembro foi um momento em que nossa geração parou para pensar", disse. "Nós amadurecemos mais rápido por isso." Taylor, que estava no segundo ano do segundo grau quando o ataque aconteceu, compreende o que atrai as pessoas à turnê de reunião do Blink-182, e sente nostalgia pessoal pelos toca-CDs portáteis. "O primeiro Discman que comprei foi demais", diz. "Como comprar um iPod, para a garotada atual."

Outros membros mais velhos da Geração Y expressam nostalgia semelhante pela cultura popular do final dos anos 90, como as listas de amigos na America Online ou os CDs - mídia musical antes dominante que agora está em declínio. Embora as pessoas das gerações do baby boom ou X possam não fazer ideia do que quer dizer Nickelodeon clássica, para as pessoas no começo da casa dos 20 anos isso desperta memórias cálidas de programas de TV.

Aaron Eisenberg, 20, estudante de teatro na Universidade Northwestern, recorda com carinho sua fantasia de Austin Powers para o Halloween e o dia em que comprou o álbum Millenium, do Backstreet Boys. E nem adianta falar em Blu-ray. "Sinto falta dos videocassetes", diz. "Não tenho como assistir aos meus vídeos dos Power Rangers."

The New York Times
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