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'Paper Man': triângulo: homem, mulher e amigo (imaginário)

25 abr 2010 - 12h52
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Paper Man é um filme inteligente, meticulosamente construído, com boas atuações e um roteiro escrito à exaustão. À medida que se aproxima de uma catarse reflexiva, essa exploração caprichosa/melancólica do bloqueio de um escritor e da angústia de meia idade constrói uma elaborada estrutura simbólica para justificar a atenção intensa dada ao seu protagonista desafortunado, Richard Dunne (Jeff Daniels), um romancista.

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Richard, um excêntrico menino-homem com dificuldade para começar seu segundo livro, aluga uma casa caindo aos pedaços em South Shore, Long Island, durante a baixa temporada, deixando sua esposa, Claire (Lisa Kudrow), uma cirurgiã cardiovascular seca e sem humor, na cidade de Nova York nos dias de semana.

Como esses dois acabaram se casando desafia qualquer explicação. O filme posteriormente mostra Claire dizendo a Richard que o amava porque ele costumava fazê-la rir, mas não há nada que sugira que essa mulher azeda tenha algum dia rido de algo.

Os problemas do filme começam com a aparição do amigo imaginário de Richard, Captain Excellent (Ryan Reynolds), um super-herói de capa vermelha que o acompanha a todos os lugares, mas se esconde quando outras pessoas estão por perto. De cabelo loiro tingido e calça colante azul, esse anjo da guarda ao qual Richard se apega desde a infância é uma criação ridícula. Sua existência por si só sugere que Richard não é apenas excêntrico, mas talvez também demente.

Sozinho em Long Island, Richard fica amigo de Abby (Emma Stone), uma adolescente solitária que perdeu sua irmã gêmea num acidente trágico. Abby tem um anjo da guarda de verdade: Christopher (Kieran Culkin), que segue a menina como um cachorrinho. Richard contrata Abby como babá, embora não haja nenhum bebê à vista, a não ser, claro, ele mesmo. Ela não parece achar isso nada estranho. Eles desenvolvem uma relação que é testada quando ela confunde a afeição de Richard por desejo.

Escrito e dirigido pela dupla de marido e mulher Kieran e Michele Mulroney, Paper Man é tão incerto que sua construção simbólica parece ser um mecanismo de defesa desesperadamente erguido. Atividades como fazer origami, cozinhar sopa, desossar peixe e construir um sofá com cópias de seu primeiro romance, The Renderer, são desafios para Richard, que reclama aos gritos que não consegue fazer nada com as mãos.

Como ele é filho único, e sua esposa já está velha demais para engravidar, ele lamenta o fato de ser a última pessoa de sua linhagem familiar. Ele deseja deixar um legado permanente. O roteiro compara o desaparecimento iminente de sua linhagem familiar ao desaparecimento do galo silvestre americano, uma espécie extinta que é o tema nada promissor de seu novo livro.

O que impede essa estrutura frágil de ruir completamente é a atuação que nunca precisa se esforçar para arrancar risos. Abby é uma alma perdida cativante com uma coragem redentora, e a atuação de Stone evita as pretensões de um filme construído em abstrações. Fora isso, essas abstrações nunca se desenvolvem de modo tangível o bastante para representar qualquer coisa além de noções em um esboço de enredo.

Notas da produção:

Escrito e dirigido por Kieran Mulroney e Michele Mulroney; diretor de fotografia, Eigil Bryld; edição de Sam Seig; direção de arte, Bill Groom; figurino de Juliet Polcsa; produzido por Guymon Casady, Richard N. Gladstein, Ara Katz e Art Spigel; lançado pelo MPI Media Group. Duração: 1 hora e 50 minutos.

Estrelando: Jeff Daniels (Richard Dunne), Emma Stone (Abby), Ryan Reynolds (Captain Excellent), Lisa Kudrow (Claire Dunne), Hunter Parrish (Bryce) e Kieran Culkin (Christopher).

Cartaz de 'Paper Man'
Cartaz de 'Paper Man'
Foto: Divulgação
The New York Times
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