'Ninguém É de Ninguém': bestseller sobre ciúme e possessividade estreia nos cinemas
Elenco do filme espírita, estrelado por Carol Castro, Danton Mello, Paloma Bernardi e Rocco Pitanga, destaca 'exaustão' nas gravações
Ciúmes, possessividade, machismo, ganância. Comportamentos tão presentes no cotidiano passam a ser vistos com a lente de aumento da Doutrina Espírita na adaptação do livro Ninguém É de Ninguém, bestseller de Zíbia Gasparetto, para as telas. O filme, dirigido por Wagner de Assis, chega aos cinemas de todo o Brasil nesta quinta-feira, 20.
"São temas absolutamente universais, interessam a todas as pessoas. Às vezes aparecem como tag, e tem preconceito. Se não entregar como tag, as pessoas vão gostar de falar… E, no caso da Zíbia, como olha para a tragédia que é o ciúme, o machismo estrutural… Gosto de ver como de alguma maneira esse tema é atraente", avalia o diretor, que assina outras produções de temática espírita, como os filmes Kardec (2019) e Nosso Lar (2010).
E a história do romance dramático é mesmo familiar. Você certamente conhece alguém que não suporta a ideia de liberdade e autonomia do seu parceiro. Ou talvez você mesmo sequer cogitou abrir mão de tentar ter o controle sobre as atitudes de alguém.
Quão comuns são frases como "Você é meu", "Se não ficar comigo, não fica com mais ninguém"?
"É um filme que traz muitas questões, e é um filme muito real. É por isso que algumas pessoas saem chacoalhadas. A ideia é essa mesmo: dar esse choque de realidade e ajudar as mulheres que precisam de ajuda a tentar pedir ajuda e receberem essa ajuda", diz Carol Castro, uma das protagonistas do filme.
Carol dá vida a Gabriela, advogada casada com Roberto (Danton Mello). Ela se torna associada do escritório de Dr. Renato (Rocco Pitanga), e isso é o suficiente para atiçar o ciúme e a possessividade de Gioconda (Paloma Bernardi), esposa do advogado.
O relacionamento tóxico no qual Gabriela está inserida tem momentos angustiantes. Além da subjugação do marido, ela também foi vítima de abuso sexual dentro do próprio casamento.
Esta, inclusive, é uma realidade no Brasil, onde 76% dos casos de violência sexual acontecem dentro do lar, e é realizado por pessoa próxima, parente ou vizinho, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019. Já conforme o relatório de 2022, 79,6% dos estupros que aconteceram no Brasil foram cometidos por pessoas conhecidas.
"Tem a cena mais forte e dá uma sensação muito ruim, não vou mentir. Nossa diretora de fotografia – nossa equipe era maioria mulher – e ela é a que está ali na câmera, com a gente o tempo inteiro. Lembro de ver uma lágrima descendo do olho dela, estava arrepiada. Eu senti mais esse asco, nojo, e tristeza de pensar que tantas mulheres passaram, passam e ainda vão passar por isso", desabafa Carol Castro, em entrevista ao Terra.
Gravações extenuantes
Com uma equipe formada 80% por mulheres, Paloma Bernardi destaca o amparo recebido durante as gravações. Ela assegura o cuidado e sensibilidade da direção, necessários para a condução de cenas tão intensas, ao ponto de fazê-la sair do set com dor de cabeça.
"Quando liga a 'ação', a gente se entrega, não sente a dor. Depois vê o roxo do braço, a cabeça dói de tanto chorar. Mas isso faz parte do nosso ofício. Importante ter rede de apoio no trabalho e bons parceiros, que tenham cuidado e nos respeitem", acrescenta, sobre o final da personagem, que vive uma das cenas mais chocantes do filme.
Surpreendente também a atuação de Danton Mello. Costumeiramente no papel de mocinho em novelas, ele aparece para o público no papel do machista Roberto. O ator acrescenta outros adjetivos ao personagem: "desprezível", "abusador", "escroto".
"Isso vai contra tudo o que eu prego, penso e pratico no meu dia a dia", reforça.
Para Danton, que protagonizou o também filme espírita Predestinado - Arigó e o Espírito de Dr. Fritz (2022), a experiência foi intensa e cansativa.
"Eu sofri. Você quando conta uma história, vive o personagem, entra no psicológico dele. Eu tava almoçando com Wagner [de Assis, o diretor], Rocco [Pitanga] e Carol [Castro], logo depois tava numa cena abusando da personagem da Carol", exemplificou. "Foi um sofrimento. Sofria no set, quando voltava para casa, alguns dias depois que terminei a filmagem, até conseguir me libertar dessa carga negativa".
Reflexão sobre o amor
Das quatro personagens, o menos 'atacado' é Dr. Renato, interpretado por Rocco Pitanga. Mas isso não o torna menos importante para a trama. O advogado é o elo dos dois casais. E é justamente o fator em comum com esses diferentes espíritos que mexe com a obsessão de Gioconda.
Rocco analisa o conflito da sua personagem do ponto de vista da aceitação do fim. Para ele, foi a oportunidade de "refletir sobre a palavra 'amor'".
"Acho que não só eu, muita gente ainda tem essa dificuldade [de aceitar uma separação]. Não é um abandono, e sim uma aceitação de duas pessoas que talvez não estejam se conectando no momento. Tem um ponto de vista espiritual pra responder isso também, mas é muito engrandecedor poder dialogar sobre essas questões humanas do dia a dia", avalia.
Ninguém É de Ninguém é o novo filme da Sony Pictures Entertainment e da Cinética Filmes, e estreia nos cinemas de todo o Brasil nesta quinta-feira, 20.