Marjorie Estiano reflete sobre culpa feminina: 'Sempre fui de trabalho, compromisso e seriedade'
À imprensa, atriz falou sobre como intepretar uma socialite disruptiva a ajudou a progredir como pessoa
Marjorie Estiano reflete sobre liberdade, prazer e desigualdade de gênero ao interpretar Ângela Diniz na série "Ângela Diniz: Assassinada e Condenada", que aborda a violência contra a mulher e estreia na HBO Max em 13 de novembro de 2025.
A atriz Marjorie Estiano, de 43 anos, refletiu nesta quinta-feira, 11, sobre a culpa feminina e como tem lidado com essa questão nos últimos tempos, principalmente após protagonizar a série Ângela Diniz: Assassinada e Condenada, que estreia na próxima quinta-feira, 13, na HBO Max. A trama gira em torno de Ângela (1944-1976), uma socialite descrita como “livre, intensa e louca” para os padrões dos anos 1970.
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Com direção de Andrucha Waddington, a produção da HBO narra a história da socialite que circulava entre a elite carioca e foi morta a tiros por seu companheiro, Doca Street, no Rio de Janeiro, em 1976. Baseada em uma história real, a série chega ao streaming quase 50 anos após o crime que chocou o Brasil.
Ao longo da vida, Ângela teve alguns amores e amantes — e isso não ficou de fora da trama. Segundo Marjorie Estiano, foi gratificante se experimentar em uma personagem mais livre, provocante e desapegada da opinião alheia. O trabalho, inclusive, ajudou a atriz a repensar a forma como carrega a 'culpa feminina'.
“Ter feito a Ângela, uma personagem que se dedica ao prazer, é algo muito importante na cultura brasileira. A gente sente culpa por sentir prazer, por tirar férias, por se divertir... A Ângela se autorizava a se dar prazer, a se oferecer liberdade. Isso é um ensinamento muito importante para todos nós.
Me identifico muito com essa falta de autorização para o prazer e para a liberdade. Para mim, a vida sempre foi muito trabalho, compromisso e seriedade. Foi uma oportunidade de me experimentar na leveza, no prazer. É um processo e um exercício para a vida inteira, disse ela, durante uma conversa com a imprensa realizada no Hotel Pullman Ibirapuera, localizado na zona Sul de São Paulo.
Durante o evento, a atriz Marjorie Estiano também comentou que, enquanto construía a personagem, refletiu sobre questões e condições femininas que ainda persistem, como a desigualdade de direitos.
“Foram muitas coisas que viver essa personagem me trouxe — e continua me trazendo: consciência histórica sobre a luta pelos direitos das mulheres, sobre o impacto e a força de uma formação de gênero em uma sociedade machista. Quando você estuda isso, começa a enxergar melhor. Enxergar melhor a sociedade, a sua própria vida, as suas relações.”
Em determinado momento, ela falou do tema central da série — a violência contra a mulher — e revelou que, assim como sua personagem, infelizmente, já sofreu diversas violências de gênero ao longo da vida.
“É algo que me impacta diretamente, o fato de [a série abordar] uma violência de gênero. Eu não só já sofri inúmeras, como vou continuar sofrendo. Porque essa é uma realidade — estamos aqui justamente tentando trabalhar em uma reeducação, em uma transformação de pensamento e de sociedade. Essas transformações são lentas, e dá para comprovar isso pelas leis. A teoria da legítima defesa da honra caiu em 2023”, disse ela, referindo-se ao argumento jurídico usado pela defesa de Doca Street para tentar evitar que o assassino fosse devidamente condenado pela morte de Ângela.
Baseada em uma história real, Ângela Diniz: Assassinada e Condenada tem como principal fonte de pesquisa o podcast Praia dos Ossos, produzido pela Rádio Novelo. No projeto, jornalistas revisitam a trajetória da socialite, mostram como ela foi “condenada” por ser livre e narram como sua morte — mesmo sem ligação direta com o ativismo — contribuiu para avanços nas leis de proteção às mulheres no Brasil.
A série conta com um elenco de peso: Marjorie Estiano (Ângela Diniz), Emilio Dantas (Doca Street) e Joaquim Lopes (Ibrahim Sued, outro affair de Ângela), além de Renata Gaspar, Tóia Ferraz, Emílio de Mello, Pedro Nercessian, Stepan Nercessian, Daniela Galli, Priscila Sztejnman, Tatsu Carvalho, entre outros nomes de destaque do audiovisual brasileiro.