Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

'Salve Rosa', com Klara Castanho, confronta a exposição infantil nas redes: 'Discutindo limites'

Susanna Lira reflete sobre pais, filhos e a promessa de sucesso nas redes sociais

24 out 2025 - 12h12
Compartilhar
Exibir comentários

Existe um momento em que o sonho vira pesadelo? Quando a inocência de uma criança se perde entre likes, comentários e a pressão por manter-se relevante? É justamente nessa fronteira delicada e perturbadora que Salve Rosa constrói sua narrativa - um thriller psicológico que estreou nos cinemas nesta quinta-feira, 23, como um espelho inquietante da relação com as redes sociais e a infância.

Dirigido pela premiada cineasta Susanna Lira, o filme nasceu de uma inquietação da produtora Mara Lobão sobre como as plataformas digitais vêm transformando a vida das crianças.

'Salve Rosa' é estrelado por Klara Castanho e Karine Telles
'Salve Rosa' é estrelado por Klara Castanho e Karine Telles
Foto: Elo Studios/Divulgação / Estadão

"Percebi que havia algo muito forte e perigoso acontecendo quando crianças passaram a ser tratadas como marcas, como produtos", explica Susanna. O resultado é uma história que investiga essa zona cinzenta entre exposição e perda da inocência, construindo um suspense que reflete a tensão constante entre o brilho das câmeras e as sombras que ele projeta.

Entre performances e vulnerabilidades

No centro da trama está Rosa, vivida com sensibilidade por Klara Castanho - que levou o prêmio de Melhor Atriz no Festival do Rio. Aos 13 anos, a personagem já carrega nas costas o peso de uma carreira digital, sustentando expectativas que seriam desafiadoras até para adultos. Ao lado dela, Karine Teles interpreta Dora, sua mãe - uma figura complexa que equilibra amor e controle, proteção e exploração.

"Klara é uma atriz de enorme sensibilidade e inteligência cênica. Trabalhamos muito a ideia de 'duas Rosas': a que aparece na tela, performática e cheia de confiança, e a Rosa íntima, silenciosa, que tenta entender quem é fora das câmeras", conta a diretora. Esse trabalho delicado resultou em uma performance que captura o que há de mais bonito e mais assustador em uma geração que vive sob a lente constante.

Se Rosa é o coração do filme, Dora é sua contradição mais humana. A personagem de Karine Teles não é vilã nem heroína. "Dora carrega uma contradição muito humana: o amor e o controle se misturam. Ela quer o melhor para a filha, mas ao mesmo tempo está cega pela promessa de sucesso", explica Susanna.

O trabalho conjunto da atriz e da preparadora de elenco Maria Beta Perez construiu a personagem a partir de um lugar de fragilidade e desejo. "Karine entende que a mãe de Rosa também é vítima de um sistema que empurra todos para o espetáculo", completa a diretora. O resultado é uma figura dolorosa, mas compreensível dentro da lógica que transforma afetos em capital.

Um espelho para a sociedade

Para dar verdade à história, Susanna mergulhou em vídeos de influenciadores mirins no Brasil e no exterior, estudos sobre a "economia da influência" e a lógica perversa das plataformas digitais. O filme aborda a adultização infantil, um fenômeno grave e naturalizado, mostrando como crianças incentivadas a performar versões idealizadas de si para milhões de pessoas perdem algo essencial: o direito ao erro, à vulnerabilidade, à construção da própria identidade no tempo certo.

Klara Castanho está em um dos melhores trabalhos de sua carreira em 'Salve Rosa'
Klara Castanho está em um dos melhores trabalhos de sua carreira em 'Salve Rosa'
Foto: Elo Studios/Divulgação / Estadão

"Rosa tem 13 anos, mas já é cobrada como uma adulta, como uma profissional do entretenimento. Isso reflete uma realidade assustadoramente comum", observa a cineasta. O filme não pretende demonizar as redes sociais, mas provocar reflexão sobre o que estamos fazendo com nossas crianças e o que o espelho virtual está devolvendo para nós como sociedade.

Embora seja uma obra de ficção repleta de reviravoltas - o filme também conquistou os prêmios de Melhor Longa-Metragem pelo Júri Popular e Melhor Figurino no Festival do Rio - Salve Rosa levanta debates urgentes sobre hiperexposição infantil, o universo dos influenciadores mirins e o papel dos pais nesse cenário digital.

"Acredito que o filme chega num momento muito necessário. Estamos finalmente começando a discutir os limites da exposição infantil, a responsabilidade dos adultos e o impacto psicológico desse ambiente digital", afirma Susanna. Sua expectativa é que o público saia do cinema tocado, desconfortável e disposto a repensar seus próprios hábitos. "Se isso acontecer, o filme terá cumprido seu papel.

Estadão
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade