Script = https://s1.trrsf.com/update-1765905308/fe/zaz-ui-t360/_js/transition.min.js
PUBLICIDADE

Maior bilheteria de 2025, 'Ne Zha 2' move debate sobre lançamento de filmes chineses no Brasil

O longa que estreia no circuito nacional nesta quinta-feira, 25, quebrou o recorde de arrecadação da história da animação e é a quinta maior da lista geral, acumulando R$ 11,7 bilhões

24 set 2025 - 09h40
Compartilhar
Exibir comentários

Um espírito maligno chinês, reencarnado no corpo de uma criança humana e com poderes comparáveis ao dos antigos deuses, é a dor de cabeça do momento em Hollywood. A animação Ne Zha 2: O Renascer da Alma, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 25, choca o mercado desde o início do ano com o seu avanço furioso pelas bilheterias mundiais.

A continuação, produzida inteira por estúdios nacionais, quebrou o recorde de arrecadação da história da animação e é a quinta maior da lista geral, acumulando US$ 2,2 bilhões — ou R$ 11,7 bilhões. O filme também liderou a bilheteria do Ano Novo Chinês de 2025, que chegou à faturação histórica de US$ 1,31 bilhão, em torno de R$ 7 bilhões. Metade deste valor veio de Ne Zha 2, que superou outros três lançamentos imensos — a adaptação Lendas dos Heróis do Condor: Os Valentes e as continuações Detetive Chinatown: O Mistério de 1900 e Creation of the Gods 2: Demon Force.

A animação Ne Zha 2: O Renascer da Alma, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 25, choca o mercado desde o início do ano com o seu avanço furioso pelas bilheterias mundiais
A animação Ne Zha 2: O Renascer da Alma, que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 25, choca o mercado desde o início do ano com o seu avanço furioso pelas bilheterias mundiais
Foto: A24/Divulgação / Estadão

Essa performance fica à altura da ambição da produção dirigida por Jiaozi, que tem batalhas e lutas de escala quase continental. Tudo gira em torno do personagem do título, uma criança com a essência do mal desde o nascimento e que luta contra o próprio destino para fazer o bem. O longa adapta partes específicas do livro Investidura dos Deuses, clássico da literatura fantástica nacional do século 16 e por si só uma mistura de diferentes elementos da mitologia e religiões chinesas.

Os números financeiros imensos do longa assustam o cinema americano, que passa por um novo momento de instabilidade. Apenas um filme do país, Lilo & Stitch, passou a marca do bilhão de dólares na bilheteria, e a arrecadação das salas de lá frustra o mercado —pela primeira vez em cinco anos, desde o fim da pandemia, as vendas de ingresso ficaram abaixo dos US$ 2 bilhões entre maio e julho, época dos maiores lançamentos de Hollywood.

Ne Zha 2, enquanto isso, estreou em fevereiro nos Estados Unidos com arrecadação surpreendente de US$ 7,2 milhões. O longa foi a quinta maior bilheteria da semana, uma posição e tanto para uma exibição sem dublagem em inglês —ele acabou relançado com a opção no mês passado, incluindo a atriz Michelle Yeoh no elenco de vozes.

Já no Brasil, a continuação chega ao circuito comercial com um ponto de interrogação no lugar dos confetes. A estreia do filme acontece seis meses depois do lançamento na China e em outros países, esfriando o burburinho, e em uma época de muitas novidades —além da sequência, há outros sete títulos estreantes nas salas de cinema na data.

Do lado da A2 Filmes, distribuidora responsável pela animação no país, o clima é de otimismo. O CEO Alexandre Freire afirma que a empresa buscou exibir a continuação em salas de todo o território com opções legendadas e dubladas, incluindo até sessões em 3D no pacote. O filme não terá exibições no circuito Imax brasileiro, formato premium que foi importante para o seu sucesso no exterior.

Freire diz ainda que quer plantar sementes para a estreia de mais títulos chineses com a sequência, garantindo o lançamento nos cinemas daqui de Entre Pernas e Bicadas, animação produzida em 2021. "Esperamos que o resultado de Ne Zha 2 nos cinemas seja um sucesso e com isso traga muito mais oportunidades a todos os distribuidores", declara o executivo

A A2 não é a única empresa interessada em trazer os últimos hits do cinema chinês para as telonas brasileiras. Em maio, a Sato Company lançou Detetive Chinatown: O Mistério de 1900, a segunda maior bilheteria do último Ano Novo Chinês, como parte de uma celebração das relações diplomáticas entre os dois países —na mesma data, o circuito de lá exibiu Ainda Estou Aqui, de Walter Salles.

A sequência ficou atrás apenas de Ne Zha 2 em janeiro, mas por aqui passou por apuros. Segundo a Ancine, a arrecadação de Detetive Chinatown no Brasil foi de cerca de R$ 10 mil, um valor minúsculo diante do desempenho de outros títulos asiáticos. Em julho, por exemplo, o também chinês Levados pelas Marés, do diretor veterano Jia Zhang-ke, chegou a R$ 46 mil nas bilheterias brasileiras, o que nem dá metade dos R$ 94 mil feitos pelo japonês Cloud no mesmo mês.

CEO da Sato Company, Nelson Sato liga o desempenho pífio de Detetive Chinatown ao período em que a distribuidora estreou o título, citando a concorrência maior na programação dos cinemas. Apesar dos resultados, ele diz que a continuação cumpriu com o seu papel, reforçando o intercâmbio cultural das duas nações, e que quer trazer mais filmes do território.

"A nova fase da produção chinesa traz desafios específicos, mas temos confiança de que em breve elas estarão no mesmo patamar de reconhecimento de outros países do mercado asiático", afirma Sato.

Ne Zha 2 estreou em fevereiro nos Estados Unidos sem dublagem em inglês — ele acabou relançado com a opção no mês passado, incluindo a atriz Michelle Yeoh no elenco de vozes
Ne Zha 2 estreou em fevereiro nos Estados Unidos sem dublagem em inglês — ele acabou relançado com a opção no mês passado, incluindo a atriz Michelle Yeoh no elenco de vozes
Foto: A24/Divulgação / Estadão

A performance desses lançamentos explica o porquê do mercado de cinema no Brasil dar passos tímidos com a China, preferindo a distribuição nas plataformas digitais. É o caso de Lendas dos Heróis do Condor: Os Valentes, outro hit do Ano Novo Chinês, que chegou discretamente ao aluguel digital no mês passado. Responsável pelos direitos do título, a Sony Pictures negou o pedido de entrevista.

Esse entrave na entrada do cinema chinês está relacionada ao perfil do parque exibidor daqui, dominado pelos americanos, mas também tem a ver com a natureza da produção de lá. Professora da Escola de Comunicações e Artes da USP e especializada no cinema da China, Cecília Mello afirma que o país ainda sofre para produzir longas de impacto global, mesmo na posição de maior mercado cinematográfico do mundo em número de telas.

"Os filmes chineses com frequência se baseiam fortemente na história nacional, no humor local ou em mensagens políticas, temas que nem sempre são bem traduzidos no exterior", ela diz. A pesquisadora aponta para o contraponto com os americanos, que dominam o circuito há décadas e ao redor do mundo. "Os estúdios da China não possuem redes semelhantes e os poucos empreendimentos na área enfrentaram reveses políticos ou financeiros."

Ainda assim, a produção do país segue um caminho parecido com o de outras nações no campo internacional. Segundo Cecília Mello, a exportação dos filmes chineses envolve dois modelos complementares: o circuito de festivais, onde nomes como os de Jia Zhang-ke se destacam com o status de filmes de arte; e a distribuição comercial, que acontece por codistribuição com outros países —caso de Zhang Yimou, alçado à fama internacional na virada do século com Herói, de 2002, e O Clã das Adagas Voadoras, de 2004, dois filmes de gênero.

O que mudou na China nos últimos anos é o investimento em produções comerciais imensas, que acontecem desde meados da década passada. Elas fazem parte dos planos quinquenais do governo, um grupo de metas estipuladas por Xi Jinping para tornar o país em uma potência cultural até 2035. Em 2021, o objetivo estabelecido foi, entre outros, de gerar dez grandes sucessos anuais de bilheteria até o fim deste ano, concentrando 55% da arrecadação do país a títulos domésticos.

Esses filmes maximizam os ganhos comerciais, mas exigem um planejamento maior de todas as partes para justificar os custos, que são muito altos. Os gastos de Ne Zha 2 são estimados em R$ 427 milhões, por exemplo, o que é quase quatro vezes o orçamento do primeiro capítulo da série, lançado em 2019.

O que mudou na China nos últimos anos é o investimento em grandes produções comerciais, que acontecem desde meados da década passada. Esses filmes maximizam os ganhos comerciais, mas exigem um planejamento maior de todas as partes para justificar os custos, que são muito altos. Os gastos de Ne Zha 2 são estimados em R$ 427 milhões, por exemplo, o que é quase quatro vezes o orçamento do primeiro capítulo da série, lançado em 2019.

Para os distribuidores, o desafio está em como encaixar esses títulos de lá no calendário de lançamentos daqui. A Sato Company no momento busca uma nova data para Terra à Deriva 2, sequência da ficção científica de 2019 que foi um sucesso comercial na China há dois anos. A produção de quase três horas de duração chegou a ser anunciada para junho no Brasil, mas Nelson Sato diz que a empresa mudou de ideia para garantir uma estreia à altura. Por agora, ele cita a presença no filme da atriz brasileira Daniela Tassy como possível ponto de venda para o mercado daqui.

O resto da produção chinesa, enquanto isso, fica restrito ao circuito de festivais, com sucessos pontuais eventualmente ganhando exibição comercial. Além dos grandes eventos, como a Mostra de Cinema de São Paulo, festivais menores conseguem continuidade graças ao trabalho de instituições culturais e da presença de um público fiel.

Um exemplo é a Mostra de Cinema Chinês de São Paulo, que chega este ano à sua décima edição pelas mãos do Instituto Confúcio na Unesp. Diretor-geral da entidade, o professor Luís Antonio Paulino diz que o foco do evento está em pessoas interessadas na produção do país, um grupo que se consolidou na última década: "Acredito que eventos como a mostra que realizamos, ao contribuir para a formação de um público, naturalmente contribuem para o aumento da oferta dessas produções no circuito comercial".

Estadão
Compartilhar
Publicidade

Conheça nossos produtos

Seu Terra












Publicidade