Eu, Tonya: Repórter que cobriu história real afirma que o filme é fantasioso
De acordo com o jornalista que cobriu o polêmico caso, a situação foi bem diferente da demonstrada pelo longa de Craig Gillespie.
Todo evento real ganha contornos ficcionais quando levado às telonas ou telinhas. É natural: roteiristas tomam histórias verídicas como ponto de partida de suas tramas para criar uma fonte de entretenimento para o público. Afinal de contas, é preciso narrar o que aconteceu sem perder de vista o objetivo de conquistar o interesse do espectador. Contudo, no caso de Eu, Tonya, a dramatização da vida real pode ter passado do limite do aceitável. De acordo com J.E. Vader, repórter que cobriu o polêmico caso que deu origem ao filme de Craig Gillespie, o longa seria completamente fantasioso (via The Oregonian).
Em janeiro de 1994, durante o campeonato de patinação artística dos Estados Unidos, Nancy Kerrigan, principal favorita ao título, sofreu um grave ataque: após um treinamento, a atleta foi atacada por homens mascarados, que quebraram seu joelho direito a pauladas. As investigações policiais do caso que chocou o país revelaram que Jeff Gilooly - interpretado por Sebastian Stan nas telonas -, ex-marido da patinadora Tonya Harding - papel de Margot Robbie, a principal rival de Kerrigan -, era o mandante do crime. A intenção era tirar Kerrigan da competição em questão e das Olimpíadas de Inverno do mesmo ano.
Atenção para possíveis spoilers de Eu, Tonya abaixo.
Para Vader, tudo o que é apresentado por Eu, Tonya a partir do acidente seria um "sonho da patinadora que se tornou realidade": "Quando se trata do 'establishment' da patinação artística e do ataque à Kerrigan, o filme descamba para a fantasia. Duas cenas ficcionais onde Tonya confronta juízes esnobes são completamente inacreditáveis [...] e o filme afirma que Harding e Jeff Gillooly não sabiam sobre o ataque planejado além do fato de que poderiam haver cartas ameaçadoras envolvidas. Toda a culpa é colocada no desafortunado 'guarda-costas' Shawn Eckhardt, que, na vida real, está morto, convenientemente".
"Na realidade", prossegue Vader, "naquele duro janeiro de 1994, Jeff Gillooly disse ao FBI que o planejamento do ataque incluiu discussões sobre matar Kerrigan ou cortar seu tendão de aquiles, antes da decisão sobre quebrar a perna na qual aterrissava e deixá-la machucada em um quarto de hotel com uma fita tapando sua boca fosse tomada — e que Tonya Harding estava a par dos planos e que ficou impaciente ao saber que Kerrigan não ficou contundida imediatamente".
Vader também critica o fato de Eu, Tonya transformar Kerrigan em um "alívio cômico" e a personalidade cool de Harding no filme, sempre apresentada fumando cigarros, seja em cenas ou no material de divulgação do longa - a ex-patinadora, entretanto, sofre de asma na vida real. Contudo, na visão do jornalista, o desfecho seria uma das partes mais problemáticas: "A estrela e produtora Margot Robbie entrega uma performance emocionante quando Tonya é sentenciada por seu papel no ataque, implorando para não ser banida do esporte e aparentando surpresa quando o juiz menciona isso. Na verdade, Harding nunca fez esse discurso. Os advogados dela orquestraram um ótimo acordo — Harding se declarou culpada do crime, mas não cumpriu pena. Meses depois, ela foi banida da associação de patinação de participar de eventos oficiais quando foi comprovado que haviam amplas evidências de que ela ajudou a planejar o brutal ataque à sua rival".
Vader finaliza o texto de maneira irônica: "Oh, mas direi que os figurinos de Eu, Tonya são perfeitos. Muito bem feitos aqueles figurinos". Os produtores do longa, indicado a 3 Oscar - Melhor Atriz para Robbie, Melhor Atriz Coadjuvante para Allison Janney e Melhor Montagem - ainda não se pronunciaram sobre a coluna assinada pelo repórter do The Oregonian. Eu, Tonya chega aos cinemas brasileiros no dia 15 de fevereiro.