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'Como Esquecer', com Ana Paula Arósio, peca na formalidade da dor

15 out 2010 - 10h18
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Como Esquecer

. Não vem com interrogação. Portanto, o que poderia ser uma história sobre respostas, pretende ser um conto sobre processos. O "como" deveria assim se sobrepor ao por que, ao quando, ao quem. Mas o filme de Malu De Martino, estrelado por Ana Paula Arósio, estanca nesse caminho do esquecer com uma personagem que, pelas frases elaboradamente montadas na voz grave da protagonista, parece arrastar não apenas sua infelicidade contagiante, como o filme inteiro para um lugar sem saída. O processo do esquecimento se transforma em uma tortura, tanto para a personagem, quanto para o espectador.

Foto: Divulgação

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O filme conta a história de Júlia, uma professora universitária de literatura inglesa que não consegue superar o rompimento com Antônia, sua mulher por 10 anos. A história do sofrimento versado e literário de Júlia é entrecortado por imagens de uma Ana Paula Arósio linda, cabelos cacheados, sorriso aberto, correndo saltitante por paisagens de Londres. A vemos pelos olhos da sempre invisível Antônia, filmando rosas, os olhos azuis de Júlia e suas declarações de amor. Do lado de cá do oceano e da realidade, a mesma personagem é transfigurada para uma mulher pálida, cabelo ressecado, olheiras e senso estético zero no guarda-roupa. A gritante diferença entre uma e outra, a moça de Londres e a moça do Rio de Janeiro, é autoexplicativa além da conta.

Cercando a personagem, entram em cena o melhor amigo gay, vivido por Murilo Rosa, a amiga hétero completamente submissa às vontades de seu namorado, vivida por Natália Lage e a aluna sabida e completamente apaixonada por sua professora, interpretada por Bianca Comparato.

À exceção de alguns momentos mais sóbrios, com diálogos coerentes ao drama da protagonista, o filme faz uso de frases de efeito que se descolam dos personagens em cena. Isso se sente particularmente nos momentos de sala de aula, quando Júlia e sua aluna discutem ao tergiversar sobre as motivações emocionais de escritoras como Virginia Woolf e Emily Brontë.

Mais grave do que isso, no entanto, é a voz narradora, esse recurso que não consegue meio-termos no cinema: ou é fantástico ou é terrível. A narração de Júlia que pretende biografar sua dor, é, assim como a personagem, extremamente acadêmica. O que se constrói na história não é o relato de alguém que chora a ausência de outra pessoa, mas sim uma tese de doutorado sobre a perda. Bate uma preguiça.

Para amenizar esse texto tão leve quanto uma bigorna, entra em cena Arieta Corrêa, no papel de Helena, a personagem mais pluma da trama. Afinal de contas, ela é uma artista plástica. Arieta dá convencimento à Helena disposta a quebrar um pouco a frieza de Júlia com resoluções menos científicas sobre a vida.

Com sua personagem em cena, ela consegue tirar as vírgulas da pontuação cheia de respirações no filme. Há de se justificar que é justamente essa a intenção de aproximar o espectador da aflição da protagonista, mas o roteiro peca na formalidade e termina nos afastando dessa mulher que faz de suas lamúrias um exercício para um congresso de literatura.

Fonte: Redação Terra
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