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'Canyons': conheça o desafio de um diretor em um filme com Lindsay Lohan

Roteirista de 'Taxi Driver', Paul Schrader precisou lidar com atrasos e "estrelismos" da atriz no longa, co-estrelado por astro pornô

19 fev 2018 - 09h33
(atualizado em 19/6/2018 às 10h52)
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Atriz em trecho filme do diretor Paul Schrader, roteirista de clássicos como 'Taxi Driver' e 'Touro Indomável'
Atriz em trecho filme do diretor Paul Schrader, roteirista de clássicos como 'Taxi Driver' e 'Touro Indomável'
Foto: Reprodução

Paul Schrader tem um histórico precioso no cinema. Como roteirista, escreveu clássicos como Taxi Driver, Touro Indomável e A Última Paixão de Cristo. Como diretor, comandou nomes como Richard Gere, Harvey Keitel, Susan Sarandon e Christopher Walken. Lindsay Lohan teve uma meteórica carreira de sucesso nas telonas. Tornou-se queridinha da Walt Disney Company ainda criança e, com o passar dos anos, protagonizou uma série de comédias teen bem-sucedidas. No entanto, há tempos seu nome tem sido mais envolvido em manchetes de tabloides do que no elenco de grandes produções. Em comum, os dois têm as memórias de um passado glorioso e a vivência em uma realidade que teima em falhar no resgate aos tempos dourados. 

Ambientado em Los Angeles, The Canyons é um thriller erótico cuja trama se concentra em pontos como juventude, glamour, sexo e sobrevivência. Em estilo noir, a produção aborda os perigos da obsessão sexual e da ambição, tanto pessoal quanto profissionalmente, dentro de um grupo de jovens de 20 e poucos anos, e sobre como um encontro casual ligado ao passado pode resultar em paranóia e violência. No filme, Lohan interpreta a protagonista Tara, que se envolve com o sociopata Christian, vivido pelo astro pornô James Deen.

Ao longo de mais de dois meses, o jornalista Stephen Rodrick, do jornal The New York Times, acompanhou a curiosa convivência entre os dois nas filmagens de The Canyons, realizadas na cidade de Culver City, no condado de Los Angeles, Califórnia. O longa, que estreia neste ano nos EUA, é o primeiro de Lindsay nos cinemas desde 2010, quando ela atuou em Machete, de Robert Rodriguez. Até 2007, a média de aparições da atriz em longas-metragens era de ao menos duas por ano, isso sem contar suas diversas aparições pontuais em séries e especiais para a TV. No entanto, desde que chegou à maioridade, a jovem, atualmente com 26 anos, passou a protagonizar escândalos, incluindo prisões por dirigir embriagada e julgamentos por furto e falso testemunho, passando a ser cada vez menos escalada para novos papéis. 

Apesar da má reputação da estrela, Schrader estava decidido a tê-la como protagonista de seu novo filme. Afinal, essa era sua primeira grande chance no cinema em quase uma década. No início dos anos 2000, o cineasta chegou a ser escalado para dirigir Exorcista - O Início, superprodução com orçamento de quase US$ 80 milhões. No entanto, semanas depois de ter sido chamado, foi substituído pelo diretor de blockbusters Renny Harlin na produção.

The Canyons foi feito de forma bem distante da maioria dos longas hollywoodianos. Seu micro-orçamento de US$ 250 mil foi complementado por meio da plataforma Kickstarter, criada especificamente para ajudar produtores a conseguir fundos para seus trabalhos com crowdfundings - a chamada "vaquinha". O montante só foi conquistado graças à credibilidade de Schrader como cineasta e de Bret Easton Ellis, que assinou o roteiro de Psicopata Americano, como escritor. Ainda assim, os dois precisaram investir do próprio bolso, junto com o produtor Braxton Pope, US$ 30 mil cada para os gastos iniciais. Mas a força dos nomes envolvidos levou Lohan a topar o papel principal do longa, mesmo recebendo a ínfima quantia de US$ 100 por dia, além de parte na divisão dos lucros. 

Devido ao histórico de escândalos da atriz, sua escalação para interpretar Tara não foi uma unanimidade entre o trio. Logo após a primeira reunião com Lohan, na qual ficou definido seu papel na produção, Pope mirou Schrader, preocupado com os problemas que ela poderia trazer ao projeto, e indagou: "o que você pensa?". "Acho que vai funcionar", respondeu o diretor, apostando em sua experiência com grandes egos de Hollywood. 

Há 30 anos Schrader comandou o alcoólatra George C. Scott no longa Hardcore: No Submundo do Sexo. Certo dia, o ator, visivelmente embriagado, o chamou para uma conversa e lhe disse: "você é o melhor roteirista do mundo, mas também o pior diretor do mundo. Prometa-me que nunca mais vai dirigir qualquer filme que eu seguirei trabalhando neste". Schrader concordou. Para ele, que via como sua grande vocação a manipulação de pessoas como Scott ou Lohan, mentir era o lado natural em Hollywood - e não seria difícil fazê-lo, se necessário, com a atriz.

Convivendo com Lindsay

Lindsay começou mal. Na primeira leitura geral do roteiro de The Canyons, ocorrida meses depois do encontro que definiu o papel da atriz no longa, ela chegou atrasada. Uma semana após esse episódio, não compareceu à reunião que mapearia os movimentos para uma das muitas cenas de sexo com o co-protagonista do longa, o astro pornô James Deen, realizada na produtora Pretty Bird. Explicou ter havido um imprevisto e prometeu que estaria lá no dia seguinte. Não apareceu. Tampouco respondeu às desesperadas mensagens de texto enviadas por Schrader e Pope nas horas seguintes. A decisão do diretor foi simples: demití-la.

Mas Lohan estava verdadeiramente empolgada com a chance de trabalhar com nomes tão importantes do cinema. Ao receber a má notícia de Pope, a atriz começou a chorar e implorar por uma nova chance ao produtor. Ele discordou. Ela, então, correu atrás de Schrader no hotel onde ele estava hospedado, em Beverly Hills, e bateu nas portas de todos os quartos até encontrá-lo. O cineasta podia ouví-la aos prantos de seu recinto, ao mesmo tempo em que recebia mensagens insistentes lhe implorando para reconsiderar a decisão. "Lindsay, vá para casa", ele respondeu.

<p>No longa, Lindsay Lohan interpreta Tara, que vive um triângulo amoroso</p>
No longa, Lindsay Lohan interpreta Tara, que vive um triângulo amoroso
Foto: Reprodução

O talento da atriz pesava. Depois de ela deixar o hotel, após 1h30m de choradeira no lobby, Schrader convocou todos os envolvidos na produção a comparecer ao Prettybird para assistir às fitas com os testes de Lohan e da artista francesa que era mantida como seu estepe. A ex-queridinha da Disney foi aprovada por unanimidade. Ela precisava voltar - com a condição imposta de que, se pisasse mais uma única vez na bola, seria despedida. 

Alto preço

Inicialmente, as coisas andaram bem. Lohan chegou relativamente cedo ao teste de maquiagem para o filme e, quando foi fotografada, viu Schrader se gabar ao jornalista Rodrick, orgulhoso de sua escolha. No entanto, o estrelismo da atriz logo viria a causar novos problemas. Alguns dias depois, ela foi às filmagens com uma exagerada maquiagem, bem diferente da anterior, simples, que havia usado no início delas. Pope aconselhou: "sabe, nosso interesse é que você fique ótima e você fica linda com apenas um pouco de maquiagem". Ela não aceitou. A diferença entre uma e outra acabou ficando clara na edição final do longa. 

<p>Desde 2010 Lindsay Lohan não aparecia em uma produção para os cinemas</p>
Desde 2010 Lindsay Lohan não aparecia em uma produção para os cinemas
Foto: Reprodução

A vida de Lohan não é exatamente um mar de rosas, mas ela gosta de fingir o contrário. Apenas em impostos atrasados ao Governo, a atriz deve cerca de US$ 130 mil. Lohan ainda tem dívidas de até seis dígitos com ex-funcionários e há anos vem enfrentando uma série de processos na Justiça - o mais recente deles, ter mentido a policiais sobre um acidente que sofreu em julho de 2012. Ainda assim, ela segue vivendo como estrela. Durante as filmagens de The Canyons, a atriz gastou aproximadamente US$ 46 mil em um dos mais luxuosos hotéis de Los Angeles e circulava pela cidade a bordo de um Porsche alugado. Segundo fontes próximas a ela, mesmo em situação financeira complicada, Lohan segue gastando milhares de dólares com passagens de primeira classe de avião e caríssimos hotéis e restaurantes. Atualmente, seus lucros se resumem muito mais a aparições em eventos ou a alguns poucos patrocínios do que a trabalhos de atuação. 

Já garantida como protagonista do longa - afinal as filmagens estavam adiantadas e substituí-la certamente causaria prejuízo ou mesmo o seu cancelamento -, Lohan começou também a exigir privilégios, como sair para comer em restaurantes distantes do estúdio. Na primeira vez em que o fez, Pope e Schrader se entreolharam nervosamente e despacharam o co-produtor Ricky Horne Jr. para levá-la com seu agente e assistentes para onde quisessem. Desta forma, seria vigiada para evitar contratempos. Mas, no meio do caminho, todos saltaram do carro e entraram em outro veículo. No mesmo dia, Lohan saiu para fumar bem no último take de uma cena, que, naturalmente, precisaria ser refilmada. Schrader ficou duplamente furioso.

<p>James Deen: de astro pornô a protagonista de drama</p>
James Deen: de astro pornô a protagonista de drama
Foto: Reprodução

Os atrasos, acessos de estrelismo e a total falta de consideração demonstrada com os outros integrantes da equipe começaram a enraivecer alguns deles. Schrader e Deen chegaram a discutir em alto e bom som no estúdio, alegando mais tarde terem gritado um com o outro "por não poderem tê-lo feito com a pessoa que gostariam " - Lohan. No dia em que filmariam uma cena de sexo entre a atriz, Deen e outros dois atores pornôs, ela se trancou em um quarto e se recusou a participar. Novamente, o diretor ficou furioso: "você assinou o contrato! Sabia que teria de fazer isso!". Mesmo depois de voltar ao set, passou mais de uma hora se recusando a tirar o roupão para ficar nua. A filmagem só foi feita graças a uma tática do cineasta, que, após muita enrolação, tirou a própria roupa com o intuito de "fazê-la sentir-se confortável". A cena inteira foi filmada em 14 minutos.

Os atrasos, que foram se tornando mais constantes devido à agitada vida noturna de Lohan, levaram The Canyons a não ficar pronto a tempo de cumprir um dos objetivos de Paul Schrader: inscrevê-lo no Festival de Filmes de Sundance. Ao longo dos dois meses de filmagens, quase o dobro do inicialmente previsto, o cotidiano da atriz passou por situações como agredir uma mulher, ser acusada de atropelar um pedestre em Nova York, começar a ser investigada pela Receita Federal e ver os pais protagonizarem uma constrangedora aparição no programa Dr. Phil - conhecido por lavar roupa suja em rede nacional. 

Nenhum estresse, nenhum estrelismo, nenhuma resposta atravessada, no entanto, parecem ter abalado Schrader. Quando indagado a respeito da atuação de Lohan em The Canyons, o diretor sorri, satisfeito: "ela está ótima no filme."

Fonte: Terra
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