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'O Homem Que não Dormia' libera lado fantástico de Navarro

Além de 'Abaixo a Gravidade', Circuito Olido exibe longa de cineasta baiano que alcança o raro e o belo

8 out 2019 - 19h11
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No mesmo Circuito Olido que apresenta Abaixo a Gravidade, longa mais recente do cineasta baiano Edgard Navarro, entrou também O Homem Que Não Dormia. O longa de 2012 é posterior a Eu Me Lembro, com o qual Navarro fez o rapa no Festival de Brasília de 2005. O cineasta deve sua fama de transgressor a obras como SuperOutro, médiametragem de 48 minutos que desafia códigos e cânones.

Quem viu Abaixo a Gravidade lembra-se do grafite na parede da igreja: "Exu te ama". O Homem Que Não Dormia segue na vertente ecumênica do cinema de Navarro. Na mesma noite, cinco diferentes personagens numa cidade do interior compartilham o mesmo sonho. Tem a ver com um estranho personagem que chega ao local em busca de um tesouro enterrado. Logo em seguida, chega um peregrino. Quem é? O tesouro está no centro da trama, mas qual tesouro? Uma frase, à maneira de letreiro, serve como pista - "Seja cristão ou não, receba no coração".

Muita gente acusa Navarro de fazer transgressão pela transgressão, sem ligar para a curva dramática da história que está querendo contar.

O filme tem muita nudez. Aparentemente, não faz sentido, porque não são protagonistas e também não fazem avançar a história. A questão é que os sonhos desestabilizam os cinco personagens e isso se reflete na comunidade toda. O padre perde o foco e, em desespero, não se vexa de buscar ajuda em outras religiões. O sincretismo, como sempre, dá o tom em Navarro.

Em entrevista ao Estado, ele já disse que quer ser livre para professar todas as crenças e religiões. Não aceita nenhum ranço moralista. Liberdade de afeto e no coração.

O Homem Que Não Dormia tem cenas ótimas, bons atores, à frente Bertrand Duarte. O curioso é que Navarro, a par da crueza de certas situações, possui uma veia poética muito forte. Eu Me Lembro já possuía esse lirismo e o levava ao extremo. Abaixo a Gravidade era uma defesa do sonho - do voo de imaginação como forma de resistência, não apenas artística.

O homem que não sonha - não imagina - torna-se escravo da realidade. Para tecer sua fábula, Navarro contou aqui com a colaboração do roteirista Di Moretti. Filmou na Chapada Diamantina. Criou um belo e raro exemplar de cinema fantástico, interessante de resgatar nesse momento em que o cinema brasileiro tem flertado com o cinema de gênero, por meio do terror.

Edgard Navarro busca o maravilhoso. Mas, claro, quem não entra no clima vê apenas registros desconexos de um glauberismo sem Glauber, que não teria dado certo.

Estadão
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