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Os países onde dar gorjeta é ofensa

Dar gorjetas se tornou uma questão política em alguns países — mas oferecer dinheiro como recompensa por um bom serviço não é tão universal quanto você pode imaginar.

12 jan 2022 - 21h24
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A gorjeta se tornou uma questão política no Reino Unido
A gorjeta se tornou uma questão política no Reino Unido
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

No Reino Unido, donos de bares e restaurantes estão prestes a serem proibidos de ficar com as gorjetas deixadas por clientes aos funcionários.

O governo quer tornar a prática ilegal, uma vez que muitos trabalhadores dependem das gratificações para aumentar sua renda.

Mas nem todos os países do mundo levam o assunto tão a sério quanto os britânicos, que acredita-se terem "inventado" o costume das gorjetas no século 17 — originalmente como uma prática aristocrática de dar pequenos presentes às "classes inferiores".

Atualmente, as gratificações são um hábito amplamente difundido em todo o mundo, embora estejam enredadas na cultura e nos valores de uma nação.

Em alguns lugares, as pessoas podem ficar até ofendidas se receberem gorjeta.

Em países como os Estados Unidos, as gorjetas constituem uma parte significativa dos salários dos trabalhadores
Em países como os Estados Unidos, as gorjetas constituem uma parte significativa dos salários dos trabalhadores
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Estados Unidos

Uma piada comum entre os americanos é que apenas preencher as declarações de imposto de renda é mais confuso do que dar gorjetas.

As gratificações foram importadas para o país no século 19, quando americanos ricos começaram a viajar para a Europa.

O costume foi inicialmente reprovado, e os críticos o consideraram antidemocrático, acusando quem dava gorjeta de criar uma classe trabalhadora que "implorava por favores".

No século 21, você ainda encontrará americanos debatendo os prós e contras da prática.

Mas a gorjeta agora está completamente enraizada em suas mentes: o economista Ofer Azar estimou em 2007 que US$ 42 bilhões foram dados a prestadores de serviços só no ramo de restaurantes.

Nos EUA, as gorjetas são um complemento importante do salário.

A gorjeta era reprovada na China e ainda não é uma prática generalizada
A gorjeta era reprovada na China e ainda não é uma prática generalizada
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

China

Assim como muitos países asiáticos, a China tem em grande parte uma cultura de não aceitar gorjetas — por décadas, a prática foi proibida e considerada suborno. Até hoje, permanece relativamente incomum.

Nos restaurantes frequentados pela população local, os clientes não deixam gratificações.

As exceções são restaurantes que atendem principalmente a turistas estrangeiros e hotéis com uma clientela internacional semelhante (mesmo assim, só é aceitável dar gorjeta aos carregadores de malas).

Outra exceção é deixar gratificações para guias turísticos e motoristas de ônibus de turismo.

Dar gorjeta a um garçom pode ser ofensivo no Japão
Dar gorjeta a um garçom pode ser ofensivo no Japão
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Japão

O intrincado sistema de etiqueta do Japão contempla gratificações. É socialmente aceitável em ocasiões como casamentos, funerais e eventos especiais — mas em situações mais comuns, pode na verdade fazer com que quem recebe se sinta depreciado.

A filosofia é que deve se esperar um bom serviço antes de qualquer coisa.

Mesmo nas ocasiões em que são esperadas gorjetas, a prática segue um protocolo que inclui a entrega do dinheiro em envelopes especiais em sinal de gratidão e respeito.

Os funcionários de hotéis, que são quase universalmente cordiais e prestativos, são treinados para recusar educadamente as gorjetas .

A França foi um dos primeiros países a adotar uma taxa de serviço em restaurantes
A França foi um dos primeiros países a adotar uma taxa de serviço em restaurantes
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

França

Em 1955, a França aprovou uma lei exigindo que os restaurantes adicionassem uma taxa de serviço às contas — prática que se tornou então comum na Europa e em outras partes do mundo —, como uma forma de melhorar os salários dos garçons e torná-los menos dependentes de gorjetas.

No entanto, a gorjeta permaneceu habitual, apesar de pesquisas mostrarem que as gerações mais jovens de franceses tendem a não dar gorjeta.

Em 2014, 15% dos consumidores franceses disseram que "nunca dariam gorjeta", um percentual duas vezes maior do que no ano anterior.

África do Sul

A Nação Arco-Íris aparece aqui por causa de um serviço específico que normalmente não é contemplado em muitos países: o de vigia de carros ou "flanelinhas".

É uma indústria informal que cresceu em proporção à taxa de desemprego da África do Sul — agora de 25% — e consiste basicamente de indivíduos que ajudam os motoristas a encontrar vagas e vigiam seus veículos.

De acordo com estatísticas oficiais, quase 140 automóveis foram roubados todos os dias no país no ano passado.

Pagar menos de US$ 1 pelo serviço não é o problema aqui: o debate na África do Sul é que o processo é quase totalmente desregulamentado e não há garantias de que nenhum dos lados cumprirá sua parte do acordo.

Os 'flanelinhas' geraram um debate na África do Sul
Os 'flanelinhas' geraram um debate na África do Sul
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Suíça

Costuma-se dizer que as pessoas na Suíça arredondam contas e deixam gratificações para funcionários de hotéis e profissionais como cabeleireiros.

No entanto, o país tem um dos salários-mínimos mais altos do mundo: os garçons, por exemplo, ganham mais de US$ 4 mil por mês.

Portanto, eles não são tão dependentes de gorjetas quanto seus colegas americanos.

Índia

Muitos restaurantes na Índia cobram taxas de serviço na conta, então é considerado normal não deixar gorjeta.

Do contrário, a etiqueta é deixar de 15% a 20% do valor.

Não é raro encontrar restaurantes que exibem placas contra gorjetas.

Uma pesquisa de 2015 revelou que os indianos estavam entre os que mais pagam gorjetas na Ásia, atrás apenas de Bangladesh e da Tailândia.

As autoridades de Cingapura não gostam muito de gorjetas
As autoridades de Cingapura não gostam muito de gorjetas
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Cingapura

Embora pequenas doações não sejam ofensivas em hotéis, restaurantes e táxis, as gratificações podem ser uma questão delicada em Cingapura.

O site do governo afirma que "dar gorjeta não é um estilo de vida" na ilha.

Egito

A gorjeta está profundamente enraizada no Egito, onde a gratificação é conhecida como baksheesh.

Egípcios abastados dão gorjetas regularmente a todos os tipos de prestadores de serviço, de garçons a frentistas de posto de gasolina.

As gratificações são bem-vindas em uma economia com taxa de desemprego superior a 10% e na qual o setor informal contribui para quase 40% do Produto Interno Bruto (PIB).

A dependência do Egito do setor informal intensificou a cultura do 'baksheesh'
A dependência do Egito do setor informal intensificou a cultura do 'baksheesh'
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Irã

Os visitantes do Irã podem se deparar com o ritual do taroof — a prática de deferência em que o pagamento é inicialmente recusado por uma questão de educação —, que pode acontecer até mesmo em corridas de táxi, em que o motorista inicialmente se recusará a aceitar o pagamento.

Mas não vai acontecer com uma gorjeta: as gratificações por serviços fazem parte do dia a dia.

O complexo ritual do 'taroof' não se aplica a gorjetas no Irã
O complexo ritual do 'taroof' não se aplica a gorjetas no Irã
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Rússia

Durante a era soviética, dar gorjetas era inaceitável na Rússia — era considerado um meio de depreciar a classe trabalhadora.

Mas os russos têm uma palavra para isso — chayeviye ("para o chá").

As gorjetas voltaram na década de 2000. Mesmo assim, pessoas mais velhas podem achar a prática ofensiva.

Argentina

Dar gorjeta a um garçom depois de comer um bom bife com vinho Malbec não causará problemas na Argentina — embora, na verdade, seja ilegal para as indústrias de alimentação e hotelaria, segundo uma lei trabalhista de 2004 .

Mesmo assim, as gorjetas existem e podem corresponder a até 40% da renda de um garçom argentino.

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