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O que você faria se soubesse que vai morrer em 12 meses?

Cada um reage de seu próprio jeito. E as reações são as mais surpreendentes.

27 dez 2021 - 06h00
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Hoje mesmo, o mundo vai acabar para uns 150 mil de nós
Hoje mesmo, o mundo vai acabar para uns 150 mil de nós
Foto: Reprodução

O que você faria se soubesse que vai morrer daqui a um ano? Quando foi desenganado pelo médico, Anthony Burgess escreveu três livros. O objetivo era deixar alguma receita de herança para sua viúva.

Mas era alarme falso! Ele viveu mais umas quatro décadas, e escreveu muitos outros livros fantásticos, e um que virou um grande filme, “A Laranja Mecânica”. Fora escrever centenas de artigos, compôr músicas maravilhosas e curtir demais a vida.

O cientista Randy Pausch também teve este diagnóstico. Escreveu seu primeiro e único livro, "A Lição Final”. É uma bonita mensagem para seus filhos sobre o sentido da vida (e o câncer o levou no tempo previsto).

Existe grande probabilidade estatística de eu já ter vivido mais da metade da minha vida. Torço bastante e me esforço um pouco para chegar pelo menos aos cem anos. Mas 2065 já está aí!

Pior: talvez eu só tenha mais uns dez minutos, antes de tropeçar na escada e trincar o crânio. Ou alguma variante de algum vírus malévolo quem sabe vá me enterrar mês que vem. Quem sabe? E você, leitor camarada, minha amiga, talvez tenha só mais duas semanas!

Hoje mesmo, o mundo vai acabar para uns 150 mil de nós. Uns 55 milhões de velórios por ano.  A vida é bela e cruel e curta. E como sabemos, tristemente morreu muita gente antes da hora, nos últimos anos.

O que você vai fazer no próximo ano?

Em 2012 fiz de brincadeira uma lista de quais seriam minhas prioridades para meus últimos doze meses. Elas eram:

"- passar muito tempo com as pessoas que amo

- cozinhar mais para as pessoas que amo (e assar mais uma Putitza)

- viajar para o Japão, Angkor Wat e Eslovênia

- mergulhar com um tubarão-baleia

- pular de pára-quedas

- organizar meus textos antigos em um livro

- não desperdiçar segundos preciosos com falsas urgências

- parir meu sensacional projeto de games educacionais

- ouvir só música deliciosa e ver os grandes filmes que ainda não vi

- ler sobre o futuro, a esperança, a beleza, o amor e o mistério

- botar no papel três histórias que eu gostaria de deixar para o meu filho."

Realizei parcialmente. Mas realizei muitas outras coisas, nesses anos desde então. Algumas realizações, alguns arrependimentos. Isso é viver.

E a sua lista? Topa escrever? Pare tudo. Escreva a sua.

Você talvez também conclua que pode realizar uma boa parte desses objetivos prioritários nos próximos doze meses. E nem precisa morrer no final da temporada!

É uma sensação maravilhosa.

Algumas coisas sempre vão ficar de fora. Não dá pra alcançar tudo que a gente sonha. Mas se você tentar de verdade, talvez consiga conquistar aquilo que realmente precisa.

Não sou místico ou religioso. Mas compreendo e admito o poder dos mitos e dos símbolos. Por exemplo: no Tarô, a carta Morte não indica que você vai morrer. É presságio de mudança, transformação, passagem.

Este ano vai ter série do “Sandman”, cultuada HQ que publiquei na Conrad. A personagem mais amada dessa história de Neil Gaiman é a inevitável, sedutora Morte. Por isso escolhi pra ilustrar este texto a Morte original, do gibi, e a atriz Kirby Howell-Baptiste, que vai interpretá-la na TV.

Este é significado da comemoração do solstício, do Natal e Ano Novo. É morrer para renascer, para mudar. Então digo de coração, como aqueles bravos apaches dos faroestes: hoje, qualquer dia, qualquer ano é bom para morrer. E para mudar.

Aqui na parede, do lado do computador, pendurei uma mensagem para mim mesmo. Me esforço para viver cada vez consciente da mudança, e cada vez mais de acordo com as palavras do meu ídolo Christopher Hitchens: "Escreva e aja postumamente”.

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