Festival ‘Que Brada!’ busca fortalecer a cultura periférica em Guarulhos
Com atrações musicais, circenses e rodas de conversa sobre saúde mental, o evento gratuito ocorre nos dias 19 e 20 de novembro
Com o objetivo de fortalecer a cultura local, um grupo de moradores organizou a primeira edição do “Festival Que Brada!”, que ocorre neste fim de semana no Pimentas, bairro periférico de Guarulhos, na Grande São Paulo. A programação conta com apresentações gratuitas e uma roda de conversa sobre saúde mental para a população preta e periférica no domingo (20), feriado do dia da consciência negra.
“A maior parte das exibições culturais sempre está no centro [de Guarulhos] ou no Bosque Maia. Quem está aqui no Pimentas acaba não indo até lá por questões de transporte ou por não se sentir incluído”, afirma o empresário e comunicador social Lucas Felipe, 25, um dos idealizadores do festival.
De acordo com ele, cerca de 40 pessoas estiveram envolvidas na organização do evento, desde moradores, artistas e pequenos empresários da região. O trabalho coletivo também ajudou a limpar o local escolhido para a realização das atividades: um campo de futebol que era utilizado para descarte irregular de lixo.
“Áreas desocupadas são focos de agentes vetores, escorpiões e ratos. O negócio que pensamos foi: ocupar de uma melhor maneira esses espaços de uma forma coletiva e organizada”, comenta Lucas. “A gente retirou 23 sacos de lixo, todos de 100 litros”.
A escolha do nome do festival também reflete essa força da coletividade. O MC e produtor musical Z-Rock, 27, também é idealizador do projeto e diz que o título foi pensado para conter propositalmente duas palavras separadas e seguidas por um ponto de exclamação.
“Deixar esse nome quebrado – Que Brada! – é sobre a situação de baixa visibilidade da periferia. É para trazer um grito, é para falar que não podemos ser censurados. É um grito mesmo, que grita, que brada”, conta.
Desde criança, Z-Rock é envolvido com a cultura do hip-hop e foi pensando em dar continuidade a essa tradição para outras pessoas que ele organizou o evento. “O objetivo é expandir horizontes de consciência para a quebrada. A cultura transforma as pessoas”.
Programação
A abertura do evento ocorre às 10h do sábado (19) com o torneio de boxe dos alunos do projeto Comunidade Segura, que tem apoio da Petrobrás. Logo em seguida, ocorrerá uma oficina de Maracá e uma apresentação de Toré, um ritual indígena.
“Será com um grupo indígena daqui do Pimentas. Pouquíssimas pessoas sabem que existem indígenas no Pimentas, no bairro Sítio São Francisco. Queremos expor um pouco isso”, afirma Lucas Felipe.
No mesmo dia, o coletivo de cinema Kinoférico, projeto formado por educadores e cineastas da região, irá reproduzir alguns curta-metragens produzidos por eles, inclusive o chamado “Contando Aviões”. Esse trabalho será exibido pela primeira vez em Guarulhos, mas já foi selecionado em outubro deste ano para ser apresentado na Première Brasil, no Rio de Janeiro.
O educomunicador e videomaker Nelson Simplício, 29, faz parte da equipe de cultura do festival e é uma das lideranças do coletivo. “É importante mostrar que existem filmes sendo produzidos no Pimentas e que estão circulando pelo Brasil. Filmes que mostram o bairro e tragam imagens e memórias”, comenta.
Nelson destaca que essa representatividade também é necessária para dar esperança à população em ocupar espaços historicamente negados aos periféricos. “Quero que a galera tenha a possibilidade de pensar em trabalhar na cultura do cinema, entender que, mesmo que seja um campo elitista e desigual, a gente consegue criar acessos para ocupar”.
Saúde mental na quebrada
Já no domingo (20), um dos destaques da programação é uma roda de conversa sobre saúde mental para a população preta e periférica. O bate-papo será guiado por uma psicóloga.
Em complemento, os cantores Luck Vas e Lavefa apresentarão de modo inédito ao público o EP “Logo eu que não fazia love song”, com músicas que tratam sobre a saúde mental dos músicos durante a pandemia de Covid-19. Depois da apresentação, os artistas distribuirão livretos com trechos das músicas, poemas e contatos de locais que oferecem auxílio psicológico gratuito.
Os idealizadores decidiram desenvolver a roda de conversa e a distribuição desses fanzines para compartilhar informações que muitas vezes não chegam para pessoas que precisam desses contatos.
“Perdemos um conhecido nosso na época da pandemia por causa de problemas relacionados à saúde mental e, quando fomos descobrir, já era tarde demais”, lamenta Lucas.
Além desse momento de conversa, outros diálogos vão ocorrer ao longo do festival, principalmente sobre a conscientização em relação aos hábitos seguros que moradores que habitam em regiões de dutos de combustíveis devem ter.
Segundo Lucas, no Pimentas existem diversos dutos da Petrobrás e, por isso, é preciso saber conviver com essas tubulações de forma segura. Para Z-Rock, essa sensibilização é necessária para acarretar em uma rotina de cuidados. “A segurança também é muito importante para a nossa quebrada”, conclui o MC.
Para o futuro, a ideia dos organizadores é que o festival se torne fixo no calendário da cidade.
SERVIÇO
Festival Que Brada!
Quando: Dias 19 e 20 de novembro
Endereço: Rua Joaquim Moreira, 765 - Parque São Miguel, Guarulhos - SP
Horário: Das 10h às 22h
Preço: Gratuito
Mais informações: instagram.com/quebradafestival
