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Onda de produtos veganos não significa libertação animal

O que está em volta dos industrializados veganos de megacorporações não é a ética e a libertação animal

22 jul 2022 - 05h00
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Foto: CanvaPro

Graças a internet e o acesso facilitado à informação, diversas pessoas estão tendo contato com a exploração de animais e com os malefícios do consumo de produto animal.

Felizmente essas pessoas estão buscando formas de parar de consumir esses produtos, e cada vez mais buscando alternativas. Contudo, a maioria vai por um caminho de consumir produtos ‘’vegetais’’ de grandes empresas que exploram milhões e milhões de animais, como comprar leites vegetais da indústria leiteira, carnes vegetais de frigoríficos e produtos industrializados com selo vegano.

Sabemos muito bem qual é a intenção dessas empresas em se apropriar de uma causa tão importante e que a maior parte dessas empresas não estão realmente preocupadas com o fim da exploração humana e animal, não estão realmente interessadas em mudanças reais, é apenas uma forma de surfar no que eles chamam de onda. O marketing dessas empresas enxergam apenas o nicho, e não a causa.

Quando as gigantes da indústria do alimento lançam um produto vegetal no mercado, elas não estão preocupadas de fato com a morte de bilhões de animais.

Algumas pessoas vão dizer ''Ah, mas já  é uma alternativa para diminuir o consumo''. Sim, é uma alternativa, mas as empresas vão continuar produzindo e investindo em massa na produção de origem animal. Podemos enxergar como uma opção, mas não podemos ignorar que isso não resulta diretamente no fim da exploração animal. 

Milhares de notícias em grandes mídias confirmam o quanto essas corporações estão preocupadas apenas com a "tal mania vegana", com o nicho de mercado e com a moda dos hambúrgueres "à base de planta", que muitas vezes é direcionado a uma classe média instruída com poder de compra e que não precisa se preocupar com as necessidades básicas.

A forma com que eles olham é única e exclusivamente com interesses na parte do público que eles estão perdendo, e estão deixando de consumir produtos de origem animal. Só no Brasil são 30 milhões de vegetarianos, um número maior do que as populações de toda a Austrália e a Nova Zelândia juntas.

Começar a comercializar esses produtos é só uma reação natural dessas empresas de cooptar uma causa, e continuar explorando milhares de animais e funcionários nos frigoríficos. 

Essas gigantes do agronegócio não tem dois caixas na empresa, um que entra para a proteção animal e o outro para o abate, tortura e exploração, é apenas um caixa. Essa ideia parece muito simplista, mas ela resume que a comercialização de produtos veganos por grandes marcas, que exploram animais, só visam o lucro.

Foto: CanvaPro

Esse dinheiro que entra através dos produtos ''à base de planta'' só fortalece ainda mais o negócio animal no Brasil e no mundo, e nós que deveríamos boicotar e denunciar para dizer basta, estamos apoiando e financiando essas corporações.

Será que existe muita diferença entre passar uma manteiga de origem animal no pão e comprar um hambúrguer vegetal de uma gigante produtora de carne, leite e ovos? Onde entra o nosso posicionamento político, no consumo ou no paladar?

Sabemos que para o fim da exploração animal, não basta só parar de consumir produtos de origem animal e boicotar as grandes empresas. Entendemos que é necessário uma mudança estrutural, na produção, inclusive dentro das grandes corporações.

De fato, quando vemos uma chuva de produtos industrializados com selo vegano nas prateleiras, dá uma esperança, no entanto, não é a libertação animal que move os grandes executivos e isso não ocorrerá tão cedo. 

Para um dia comemorarmos essa onda de produtos com selo vegano em supermercados, precisamos ver mudanças reais e verdadeiras, com compromisso e responsabilidade.

Acreditamos que é possível um mundo justo, onde as pessoas e empresas estejam realmente pensando de forma coesa, íntegra e consciente.

Não estamos dizendo o que deve ou não ser feito, cada um faz a sua própria leitura e segue como achar melhor.

Quem quiser continuar comprando e consumindo, é uma escolha pessoal e deve ser completamente respeitada, mas não vamos deixar de expor o quanto achamos um oportunismo sem compromisso por parte de empresas que exploram e ainda vão continuar explorando animais.

Não vamos deixar de mostrar que na nossa humilde visão — não incentivar, não consumir e boicotar é o mínimo.

A indústria nos quer dependentes dela, e faz por onde. Por isso, precisamos de mais trabalho de base, informação fácil e acessível, autonomia alimentar, autonomia nas escolhas, organização e boicote.

Pega a visão:

O veganismo é um movimento social que luta contra a exploração de humanos e não humanos. Esse veganismo focado em consumir e consumir confunde e prejudica de fato, a popularização da causa.

A questão aqui não é só consumir frutas, verduras e legumes todos os dias pro resto da vida. É importante consumir preparos diferentes, sabemos que exitem muitos preparos deliciosos que não são in natura. Nós mesmos, sempre que temos uma oportunidade compramos manteiga sem leite, bolo, salgados, entre outros. 

Vegano Periférico Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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