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Internet

No mundo do Facebook ter 5001 amigos é demais

30 mai 2010 - 12h45
(atualizado às 14h45)
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Aimee Lee Ball

O antropólogo britânico e professor de Oxford Robin Dunbar propôs uma teoria segundo a qual o número de indivíduos com os quais uma relação interpessoal estável pode ser mantida (leia-se amigos) se limita ao tamanho do cérebro humano, especificamente o neocórtex. "O número de Dunbar", como essa hipótese ficou conhecida, é 150. O Facebook discorda.

Antropólogo diz que o cérebro lida com até 150 pessoas, mas o Facebook discorda
Antropólogo diz que o cérebro lida com até 150 pessoas, mas o Facebook discorda
Foto: Jennifer Daniel / The New York Times

O que seria um número de amigos impressionante e até exaustivo na vida real é fichinha para os altos apostadores do Facebook, que possuem milhares de amizades. Outras redes sociais usam uma terminologia menos íntima para nomear os contatos (o LinkedIn tem "conexões", o Twitter tem "seguidores"), mas o Facebook notoriamente optou pela palavra "amigo" e criou um novo verbo.

O termo friending em inglês "sustenta uma ilusão de proximidade em um mundo complexo de contínua atenção parcial", disse Roger Fransecky, psicólogo clínico que dá treinamento para executivos em Nova York (2.894 amigos). "Somos capturados pelos algoritmos do Facebook. Todo dia, 25 novas pessoas podem entrar na sua sala de estar. Venho de uma juventude presbiteriana fracassada, e havia uma parte de mim que inicialmente acreditava ser grosseria não responder aos pedidos de amizade. Então, eu percebi que não conseguia colocar todo mundo na minha sala de estar - eu precisava de um anfiteatro."

O Facebook desencoraja aceitar estranhos como amigos, acrescentando que apenas uma pequena fração de seus 400 milhões de usuários alcançou o marco de cinco mil amigos, quando o Facebook ergue seu dedo digital e diz: já basta. A companhia cita "tecnologia pendente" nos bastidores como a razão para o limite, insinuando que o sistema implodirá com o 5001º amigo.

"Você atinge esse limite e precisa cometer assassinato no Facebook, ou talvez 'seleção' seria uma palavra melhor", disse Sreenath Sreenivasan (5 mil amigos), reitor de assuntos estudantis da Escola de Pós-Graduação de Jornalismo da Universidade de Columbia. Sua página traz a repreensão, "o FB não vai me deixar adicionar mais amigos", e ele periodicamente posta uma mensagem pedindo que alguns de sua lista deixem de ser seus amigos.

O que pode parecer surpreendente é que o subgrupo de pessoas com listas grandes de amigos não se limita aos desempregados na casa dos 20 anos, que ocupam as mesas do Starbucks e se enganam ao dizer que estão fazendo "networking" social ou de outra natureza. Os usuários com listas gigantes de amigos incluem vários adultos com empregos de verdade e, aparentemente, coisas melhores para fazer com o tempo do que atualizar seu "status" para estranhos, ex-colegas e companheiros de acampamento de 300 anos atrás.

"Chegou uma hora em que eu arbitrariamente decidi que para cada novo amigo que confirmasse, teria que deletar outro, como as pessoas com armários pequenos fazem com suas roupas", disse Kurt Andersen (3.072), apresentador do Studio 360 na rádio pública. "Dediquei um fim de semana inteiro para fazer a seleção. Mas me senti como uma menina de 14 anos: 'Vou ser amigo dele, mas não de você'."

Os amigos do Facebook crescem rapidamente por uma variedade de razões, muitas vezes por marketing pessoal ou profissional - um substituto para a troca de cartões de visita (tão ultrapassado). Como na vida, o networking social leva à expansão de círculos sociais entre pessoas com afinidades, então existem grupos do Facebook para amantes da gastronomia, da política, talvez jardineiros, provavelmente encanadores, definitivamente adeptos de reencenações da Guerra Civil americana (cuja associação parece ser autosselecionada a partir de velhos clubes de audiovisual do colegial).

Jeffrey Toobin, analista jurídico da CNN, credita (ou culpa) a eleição de 2008 por sua lista enorme. "Durante uma das noites das eleições primárias, me filmaram ao fundo no estúdio", disse Toobin (5 mil). "Algum espectador intrépido congelou a imagem, mostrando que eu estava no Facebook na época, e colocou na web para tirar sarro. Tudo bem, mas essa gozação se tornou viral. Agora eu tenho 1,5 mil pessoas pendentes, e sinto como se tivesse declarado falência no Facebook. Estamos no equivalente do século 21 do '12:00' piscando no visor do meu videocassete."

Se o Facebook é um lugar de reflexões e detalhes indiscriminados, onde as pessoas relatam todos os seus pensamentos, humores, soluços, cappuccinos, aumento de repetições dos exercícios na academia ou troca de pasta de dente, por que não ter amizades indiscriminadas? Por que negar o pequeno frisson de prazer que sentimos quando a página proclama que você "agora é amigo de John Smith e outras 27 pessoas?"

Os anúncios do Facebook e as "sugestões" de novas amizades ajudam a tornar esses números um fetiche, embora poucos admitam o interesse de gratificação do ego que existe em conseguir o número mítico de cinco mil amigos, como o personagem Ryan Bingham de Amor Sem Escalas, que tem a obsessão de atingir 10 milhões de milhas do programa de fidelidade de uma companhia aérea.

Como uma medida de status ou valor, o Facebook tem a habilidade de reduzir seus usuários adultos a adolescentes inseguros, competindo por notas altas no vestibular ou um lugar na mesa dos descolados na cantina da escola.

Chris Brogan (4.801), cuja companhia de Boston ajuda negócios a usar novas mídias, diz que a mania parece uma competição de popularidade nerd, acrescentando: "No colegial, não era muito popular e ninguém tinha orgulho de ser meu amigo. Isso agora é estranho para mim." Mas ele é contra transformar sua conta em uma página de "fãs", especialmente desde que esse termo foi substituído pelo botão "Curtir", que ele considera odioso. "Me sinto como Sally Field: 'Você me curte, você realmente me curte.'"

Como os poucos sortudos aprenderam no colegial, a popularidade cósmica tem armadilhas, e a amizade no Facebook pode provocar batalhas fratricidas.

"Minha irmã caçula me escreveu, esperneando, 'como você pode ter tantos amigos, eu tenho só 40'", disse o chef de Orlando, Norman Van Aken (2.299). "Foi ótimo ter notícias da mulher que era minha babá quando eu tinha cinco anos, mas agora existem até tutoriais sobre 'Como construir sua lista no Facebook'. Não quero ter muito a ver com isso. Acaba se tornando quase uma forma de isolamento ao invés de comunicação."

Da mesma forma que um agressivo corretor de ações fala sobre clientes de peso (nomes reconhecidos que podem impressionar futuros clientes), um perfil no Facebook pode atrair tráfego com amigos de peso. Mas a identidade de celebridades é duvidosa: Edith Wharton está no Facebook e tem 735 amigos.

"Sou amigo de Facebook de Bob Dylan, o que provavelmente significa que eu tenho uma relação profundamente significativa com o relações-públicas dele", disse Daniel A. Farber (1.762), professor de direito da Universidade da Califórnia, Berkeley. "Esperava impressionar a minha esposa. E na escala de coisas que eu fiz para impressioná-la, foi muito bom."

Jeffrey Wolf, corretor de imóveis de Bay Area (São Francisco), alega ter como amigos, entre (4.447) outros, Alicia Keys, Alicia Silverstone e Alicia Witt - e essa é apenas a lista de celebridades. "Queria conseguir Rachel Maddow", ele disse, "mas ela não aceita amigos."

Administrar um inventário tão imenso - atendendo a pedidos de amigos iminentes, sem falar na comunicação com os existentes ¿ é extenuante. "Normalmente, entro no site às 22h e, se fizer tudo direito, consigo terminar à 1h da manhã", Wolf disse. "Qualquer pessoa sã consideraria abandonar isso."

O que Andersen, o apresentador de rádio, chama de um número gracioso de amigos no Facebook é um conceito mutável. "Fiquei enojado quando vi pela primeira vez pessoas com tantos amigos quanto os que tenho agora ou até menos", ele disse. "Existe um número ideal, e não sei qual é."

Um grande número (3.811) de amigos é como a extensão de uma comunidade para Hilary Rosen, sócia-diretora do Brunswick Group, uma firma de estratégia pública de Washington que prestou consultoria ao Facebook. "Quando fui trabalhar no Huffington Post, a Arianna me falou, 'querida, você precisa confirmar todo mundo', e na maior parte, eu sigo a regra da Arianna", Rosen disse. "Mas existe um grupo central que recebe mais atenção, assim como alguns dos cartões de visita que recebia costumavam ficar mais desgastados."

Ter milhares de amigos pode ser barulhento, insistente e perturbador, mesmo para aqueles que consideram o Facebook uma forma moderna de se ter uma conversa, como Cameron Sinclair (3.926), fundador do Architecture for Humanity, um grupo sem fins lucrativos de Sausalito, Califórnia. "Mas existe uma diferença entre pessoas que servem para uma conversa num jantar ou num coquetel", ele disse. E a beleza disso é que elas nunca precisam saber em qual lista estão.

Em seu livro How Many Friends Does One Person Need?, Dunbar defende seu número, reconhecendo que os recursos digitais nos ajudaram a manter contato com as pessoas, mas não substituem relacionamentos ao vivo, com entes queridos que são fontes de apoio mútuo num mundo de carne e osso. Ou, como Fransecky disse, "preciso de amigos que possa arranhar e cheirar."

Tradução: Amy Traduções

The New York Times
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