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Ex-dono do Apple II nº 949, fã de Jobs fundou Brasil Apple Clube

10 out 2011 - 09h59
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Emily Canto Nunes

Steve Jobs era inimigo público da Microsoft. Mais do que lutar pelo mercado de PCs - guerra que ele assumiu ter perdido para a Microsoft -, ou de chamar Bill Gates e a Microsoft de limitados - inclusive sugerindo o uso de LSD e uma peregrinação espiritual a Gates -, Jobs acreditava que o rival não tinha bom gosto, nem ideias originais. Muitos de seus fãs também detestam a Microsoft. O psicanalista gaúcho Luiz Pellanda, 76 anos a completar em breve, não é um desses fanáticos, mas de tanto usar Apple, não consegue gostar do que venha da Microsoft.

Ele tem a maior parte dos últimos lançamentos da marca da maçã. Na imagem, Pellanda atualmente
Ele tem a maior parte dos últimos lançamentos da marca da maçã. Na imagem, Pellanda atualmente
Foto: Emily Canto Nunes / Terra

Ao Terra, Pellanda mostra em seu MacBook Pro que tem o sistema operacional da empresa de Redmond apenas para acessar a obra completa de Sigmund Freud. Na tentativa de abrir o Windows em seu MacBook, a demora é tanta na inicialização que o psicanalista desiste. Durante uma época, ficou difícil comprar Apple e Pellanda chegou a comprar e montar PCs. "Era muito engraçado, porque eu tinha uma alergia a PC, aquilo de ter que montar, de ter que reinstalar sistema operacional toda a semana, aquilo me deixava uma onça. Daí quando surgiram os primeiros Performa, meus filhos fizeram uma vaquinha e me deram um", conta Pellanda. Fiel aos produtos da maçã, ele transformou sua opção pessoal em tradição: a mulher, seus três filhos e dois netos (um terceiro ainda por vir), todos são usuários Apple.

Com um gosto por eletrônica que vem desde a juventude, quando montava rádios para escutar música, Pellanda conta que recebeu orientação para seguir a carreira de engenharia em vez da psicanálise, mas que "ainda bem" optou pela segunda. "É melhor ser um psicanalista metido a engenheiro amador do que um engenheiro metido a psicanalista amador", brinca Pellanda. Assinante de revistas de rádio hi-fi (High fidelity, em inglês), por meio das quais se informava das novidades, o gaúcho aproveitou uma viagem para os Estados Unidos para trazer seu computador Apple, o primeiro de muitos.

"Em junho ou julho de 1978 começaram a aparecer reportagens sobre computação pessoal, algo novo, que estava estourando. Em 1979, eu tinha um congresso de psicanálise em Nova York e eu me lembro de comentar com minha mãe e com a minha mulher que ia trazer um computador de lá, porque não queria que meus filhos ficassem em desvantagem com os filhos dos americanos, 'eu vou ter isso em casa'. E daí fiz uma pesquisa do que trazer: a escolha da Apple se deu porque o Apple era um computador que estava inteiro pronto, era uma caixa pequena com teclado, tudo, e que eu montava em uma televisão daqui, uma velha tv Philco", conta Pellanda, ex-proprietário de um Apple II de número 00949.

"Os outros eram uns trambolhos, e foi essa simplicidade da Apple que me pegou. Bom, até hoje". Para ele, a experiência do usuário de Apple é o diferencial, além da conectividade dos produtos: "é tudo tão fácil que até um médico faz", brinca ele. "Tem uma coisa que é básica, que as pessoas não se deram conta. Como a interface entre o usuário e a máquina é construída no computador: no Apple, todos os programas funcionam do mesmo jeito, e no PC não", explica ele.

Dono de um MacBook Pro, de um iMac e outros gadgets da marca, iPods (um com um distintivo do Internacional, de Porto Alegre, gravado), iPhone e iPad, o psicanalista que chegou a ter mais de dez computadores da Apple no passado doou todo seu patrimônio da maçã para a Universidade de Santa Cruz do Sul, no Rio Grande do Sul.

Sua paixão pela Apple foi além da relação de cliente ou de usuário. No passado, Luiz Pellanda e outros macmaníacos criaram o Brasil Apple Clube. "Um pouco antes da reserva de domínio, nós conseguimos fazer uma reunião do Brasil Apple Clube em Porto Alegre com diretores da Apple que nos apresentaram o Apple III, era a terceira onda. Eles não vieram por nós, mas para tentar conversar com o governo, para tentar colocar uma fábrica aqui, mas os milícos não queriam, eles queriam que os brasileiros fizessem computadores", explica o psicanalista.

Segundo ele, o clube nasceu em 15 de novembro de 1979 entre quatro pessoas que tinham um Apple, mas que não tinham quem fizesse a manutenção de seus equipamentos. Atualmente, é um grupo de discussão na internet que às vezes se reúne em livrarias e shoppings para conversas informais entre fãs de Apple.

Steves: Jobs e Wozniack

Psicanalista renomado, Luiz Pellanda admira não só a personalidade de Steve Jobs, mas também do cofudador da Apple, Steve Wozniack. Na carteira, ele leva um cartão com um autógrafo de Woz que o filho Eduardo Pellanda, doutor em Comunicação e professor de Comunicação Digital na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), conseguiu certa vez em um evento em Nova York, nos Estados Unidos. "Quando ele viu o número do meu Apple II ele perguntou porque eu também não estava lá".

Quando a Apple começou, opina Pellanda, Steve era o Woz, e não Jobs. "Era o estouro da tecnologia, e o Wozniack foi o único sujeito que construiu um computador do zero, tudo, hardware e software, ele fez, sozinho. Ele era genial em diminuir o número de peças necessárias, ele ia encolhendo, encolhendo e fazendo circuitos cada vez mais sofisticados. Até o retorno do Jobs à Apple, ele não tinha toda essa mística. Ele ter saído da Apple, ter levado algumas pancadas na cabeça, fez com que ele amadurecesse muito", acredita Pellanda.

De acordo com o psicanalista, sua primeira impressão de Jobs era de que ele era um comerciante, que tinha forçado a barra em cima de Wozniack, mas depois concordou que Jobs era um gênio. "Ele teve uma visão de que sua intuição era mais importante do que a opinião pública. Respondendo a um repórter sobre que pesquisa de mercado a Apple tinha feito para fazer o iPad ele disse que 'o mercado não sabe o que quer, a gente que tem que mostrar o que eles querem'. Como tu pode imaginar que quer um iPad?", questiona Pellanda, que lembra que o iPhone também revolucionou o mercado dos smartphones.

Sobre a morte de Steve Jobs, ele disse que já vinha se preparando, pois sabia da gravidade do câncer. "Não tem dinheiro que mude isso. Acho que ele teve uma atitude muito humana, a morte é o término da vida, faz parte dela, é a maneira de renovar".

Segundo Pellanda, Jobs foi um adolescente difícil, que começou na contravenção, que não seguia todas as regras, e por isso conseguia fazer coisas novas. "Com a formação budista ele praticou uma autoanálise. A experiência na Índia, a passagem pelos alucinógenos, ele teve integridade pessoal para usar essas experiências. Outros se perdem no caminho, e ele foi gênio por isso, por integrar essas coisas loucas numa personalidade que funcionava". A superação de suas próprias loucuras é a marca da genialidade de Jobs.

Já Steve Wozniack tomou outro rumo para Pellanda. "Ele teve um momento de verdade em sua vida. Decidiu pilotar seu avião e acabou se acidentando. Ninguém morreu, mas morreu uma parte importante daquele pedaço onipotente de que 'eu posso tudo'. Ele teve uma mudança de personalidade depois do acidente e virou professor, resolveu cuidar de crianças e foi viver a vida como um milionário engajado".

Fonte: Terra
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