De morto fujão a Bin Laden: casos envolvendo análise de DNA
- Angela Joenck Pinto
Crimes, identificação de corpos, testes de paternidade e exames de compatibilidade para transplante de órgãos: são os casos mais complicados do Brasil que 30 pesquisadores do laboratório de DNA do Hospital de Clínicas de Porto Alegre resolvem durante 24 horas por dia. Alguns chamam a atenção pelo inusitado, como os que apresentamos a seguir.
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"É um trabalho fascinante. A gente vê muita coisa", diz Luiz Fernando Jobim, chefe do Serviço de Imunologia do hospital e especialista em genética forense.
O material usado para a análise pode ser um fio de cabelo - se a raiz estiver conservada -, uma gota de sangue, uma escova de dentes ou um corpo carbonizado. Os métodos atuais permitem a amplificação de uma porção mínima de material em milhões de vezes. "Se temos pequenas quantidades, amplificando o DNA nós temos milhões de cópias. Por isso é possível o estudo de casos tão esdrúxulos com quantidades tão pequenas de DNA", diz o médico.
Segundo o pesquisador, crimes sexuais teriam soluções muito mais eficazes com projetos científicos simplórios. "Algo muito simples de o Brasil fazer é um banco de dados de estupradores", argumenta. "Se um estuprador sai da prisão e volta a cometer um crime, veríamos facilmente qual é o perfil genético do DNA que esta na secreção da vítima e o identificaríamos de novo", afirma Jobim.
A origem dos estudos do DNA
Em 1984, o professor britânico Alec J. Jeffreys, da Universidade de Leicester, analisava amostras de DNA do assistente Jenny Foxon e dos pais dele. Ao observar certas estruturas do código genético, notou que poderia distinguir os três membros da família por um simples padrão. "De repente, percebemos que havíamos tropeçado em um método de identificação biológica baseado no DNA", disse Jeffreys em entrevista à revista especializada Pnas.
Desde a descoberta do agora sir Jeffreys, as pesquisas científicas fizeram o método de identificação por DNA evoluir substancialmente. Novos testes foram desenvolvidos nos últimos 10 anos, permitindo, por exemplo, a identificação de material degradado, como o encontrado em corpos que já passaram pela decomposição causada por umidade, tempo e excesso de calor.
"O DNA é uma molécula bastante resistente. Em uma escova de dentes, por exemplo, ele fica como se fosse um esqueleto. A célula desaparece, a membrana seca, e ele fica grudado na escova", explica Jobim.