Os produtos ultraprocessados são péssimos para a periferia

O povo está adoecendo e se alimentando muito mal, e os ultraprocessados são protagonistas.

17 fev 2023 - 05h00
Ultraprocessados
Ultraprocessados
Foto: CanvaPro

A população periférica está exposta a pântanos e desertos alimentares. Isso significa que a quebrada, ou está cercada de produtos ultraprocessados e com fácil acesso a redes de fast foods, ou distante de locais que fornecem alimentos realmente de qualidade (longe de feiras, varejões e até mesmo mercadinhos com uma sessão de hortifruti).

O consumo de alimentos totalmente alterados pela grande indústria já é um grande problema para as populações periféricas. As doenças crônicas (câncer, diabete e problemas cardiovasculares) são as principais responsáveis pelo adoecimento da população mundial e, sem dúvida, preocupam a saúde pública.

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É vendido pela indústria que os produtos ultraprocessados são carregados de vitaminas, e que são essenciais para a nossa alimentação, mas isso já caiu por terra há muito tempo, isso é o que a publicidade vende. Até mesmo o arroz e feijão está perdendo protagonismo na alimentação do povo brasileiro, por conta do aumento e disponibilidade de produtos ultraprocessados.

Não basta apenas dizer para as pessoas mudarem, buscarem informação. É mais do que urgente políticas públicas, que incentivam iniciativas positivas e crie meios para que as populações periféricas sejam estimuladas a consumir comida de verdade, e não esse pseudo alimento da indústria alimentícia. Os ultraprocessados deveriam ser tratados como o cigarro, as embalagens deveriam vir com informações sobre o que esses produtos causam.

Uma alimentação baseada em vegetais fortalece nosso sistema imunológico e nos previne de doenças crônicas. Em contrapartida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), carnes ultraprocessadas, como mortadela, salsicha, linguiça, calabresa, hambúrguer, presunto, bacon, são responsáveis por favorecer o surgimento de tumores e doenças crônicas.

Afinal, o que seria um alimento ultraprocessado? Existem os alimentos In natura, minimamente processados, processados e ultraprocessados.

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In natura são alimentos naturais, como frutas, verduras e legumes.

Os minimamente processados são alimentos submetidos a pequenas alterações, como embalagem, limpeza, secagem, como mamão picado no isopor, pacote de arroz, feijão, entre outros alimentos.

Os processados são produtos fabricados a partir do alimento natural, mas com a adição de açúcar e/ou sal.

Produtos ultraprocessados são produzidos pela indústria, com pouquíssimo ou nenhum ingrediente natural, com adição de várias substâncias químicas, como aditivos alimentares.

O consumo de ultraprocessados não tem apenas um motivo, ele é multifatorial, inclui desde a falta de políticas públicas até questões amplas como carga horária de trabalho (falta de tempo para cozinhar), falta de recurso financeiro, falta de informação

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As questões socioeconômica favorecem de maneira estrutural o acesso a alimentos de baixíssima qualidade e altamente atrativos (propagandas, embalagens coloridas) e dificultam o acesso a alimentos de verdade, oriundos da agricultura familiar.

A falta de tempo, o sabor viciante, o preço acessível, a acessibilidade e a praticidade em comprar e preparar produtos ultraprocessados é o que faz com que as pessoas mais vulneráveis financeiramente optem por esses produtos. Sem a menor capacidade de reflexão ou questionamento, acabam ingerindo produtos ultra-calóricos, com zero nutrientes e muito sal, açúcar, gordura e aditivos químicos. E o responsável, é a estrutura, e não o indivíduo.

Um estudo realizado em 2017 na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, mostrou que, em regiões de média e baixa renda, 87% dos estabelecimentos vendem ultraprocessados. O estudo concluiu que há 22 vezes mais estabelecimentos vendendo produtos ultraprocessados do que alimentos in natura. Por outro lado, a agricultura familiar tem dificuldades em escoar a produção, e a periferia tem dificuldade em encontrar alimentos de qualidade, acessíveis num preço bom para a realidade brasileira.

Quando comparados em estudos, as regiões periféricas apresentam uma menor disponibilidade de produtos in natura (legumes, verduras e frutas), os bairros ricos além de contar com uma população com condições financeiras, conta também com maior disponibilidade de alimentos frescos, diversidade e em abundância.

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Isso reforça a desigualdade alimentar que, em suma, é provocada pela desigualdade social e regional.

A luta por uma alimentação mais saudável, por um consumo de alimentos nutritivos e realmente importantes para a saúde do povo (na contramão dos ultraprocessados), passa por diversas frentes. É preciso repensarmos as publicidades, os subsídios do governo, toda a nossa educação alimentar, o acesso à comida de verdade (o fim dos pântanos e desertos alimentares) e a valorização da agricultura familiar por meio de políticas públicas efetivas.

Além da péssima educação, da opressão policial, da dificuldade em ter um acompanhamento médico de qualidade, o que a periferia come, também é responsável pela sua violência cotidiana. A fita é que a população periférica é refém do Estado e, sobretudo, dos magnatas e multibilionários das grandes indústrias.

Fonte: Urban Food Sources and the Challenges of Food Availability According to the Brazilian Dietary Guidelines Recommendations

Leonardo e Eduardo dos Santos são irmãos gêmeos, nascidos e criados na periferia de Campinas, interior de São Paulo. São midiativistas da Vegano Periférico, um movimento e coletivo que começou como uma conta do Instagram em outubro de 2017. Atuam pelos direitos humanos e direitos animais por meio da luta inclusiva e acessível, e nos seus canais de comunicação abordam temas como autonomia alimentar, reforma agrária, justiça social e meio ambiente.
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