Bem que a brasileira Tamara Klink poderia ter escolhido um emprego, daqueles explicáveis "em uma palavra só", que pudesse ser feito de segunda a sexta, em horário comercial.
Mas preferiu navegar em solitário, singrando fiordes, encarando tempestades e navegando sob noites que chegam mais cedo no norte do planeta.
Considerada a primeira mulher a invernar no Ártico em solitário, essa paulistana de 28 anos vai ganhar um documentário com direção dela e de Estela Renner.
"Eu tinha gostado tanto de estar no mar, que eu queria fazer a navegação onde eu pudesse ficar mais tempo possível no barco sem parar em lugar nenhum", diz Tamara, em depoimento para o programa Sem Censura, sob comando de Cissa Guimarães, na TV Brasil.
Produção brasileira
Em fase de montagem, o longa é uma produção da Maria Farinha Filmes que abordará a experiência de Tamara nos oito meses em que passou sozinha em um barco no mar congelado do Ártico.
"Agradeço aos escritórios e entrevistadores que me recusaram. Também agradeço aos ex-namorados que terminaram e me deram a chance de aprender a viver sozinha. Obrigada às coisas que não deram certo como quis, que me deram o direito de viver o que eu não ousaria querer", escreveu a velejadora em uma de suas redes sociais, no último mês de agosto.
Mas esse não foi o início de tudo.
Aos 24 anos, Tamara fez sua primeira viagem em solitário, entre a Noruega e a França, no pequeno veleiro Sardinha, comprado sem que a família soubesse ou tivesse tempo de dissuadi-la da ideia.
"Seria mais fácil não dar ouvidos ao chamado. Seria mais confortável esquecer que era possível. Quantas grandes chances nós deixamos passar por apostar no fracasso?", registrou em seu 'Mil Milhas', livro publicado pela editora Peirópolis.
A velejadora, que estudou arquitetura naval na França, escreve e grava vídeos sobre viajar sozinha com o mar como única companhia. E, quando o faz, se transforma em outras. É velejadora, mecânica, eletricista, skipper e escritora das próprias loucuras.
"Me acostumo à ideia de acreditar em mim", confessa Tamara, quem acredita que navegar em solitário é um exercício de autoconfiança.
Por isso, ouve a própria voz, erra sem vergonha e , quando é preciso, atravessa a rua para não ter que se encontrar consigo mesma.