Stalking no Brasil deixou de ser exceção e virou alerta diário
A perseguição sofrida por Isis Valverde, revelada em reportagem exibida no Fantástico, reacendeu um debate que vai muito além do universo das celebridades. O stalking no Brasil já afeta milhares de mulheres anônimas e cresce na mesma velocidade da hiperexposição digital e da dificuldade de estabelecer limites nas relações.
Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que ao menos dez mulheres são vítimas de stalking por hora no país. O número escancara um problema que deixou de ser pontual e passou a fazer parte do cotidiano, especialmente nas redes sociais.
Casos recentes expõem padrão de stalking no Brasil
Além do caso de Isis Valverde, relatos como o do ator Marcos Pitombo, que precisou alterar drasticamente a rotina após episódios de perseguição contínua, reforçam que o stalking no Brasil segue um padrão preocupante.
Especialistas alertam que não se trata de insistência, admiração exagerada ou interesse romântico mal interpretado. O stalking é um comportamento sistemático e invasivo, marcado por vigilância, controle e, em muitos casos, escalada para ameaças reais.
Por que o stalking se intensifica nas redes sociais?
Para a psicanalista Ana Lisboa, o stalking revela um vazio emocional profundo que encontra nas redes sociais um ambiente propício para se desenvolver.
"A perseguição surge quando o outro deixa de ser percebido como sujeito e passa a ser usado como fonte de validação e pertencimento. A tecnologia não cria esse comportamento, mas amplia algo que já existe psiquicamente", explica.
O risco maior, segundo a especialista, está na normalização dessas atitudes, que muitas vezes são minimizadas no início.
Sinais de stalking que costumam ser ignorados
O stalking no Brasil raramente começa com violência explícita. Ele se constrói aos poucos, em comportamentos que parecem inofensivos, como:
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mensagens insistentes e repetitivas
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curtidas excessivas e monitoramento constante
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tentativas frequentes de contato não solicitadas
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sensação de posse ou direito sobre a vida do outro
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dificuldade em aceitar rejeição ou silêncio
"Quando o limite fica claro, muitas vezes ele já foi ultrapassado há muito tempo", alerta Ana Lisboa.
Impactos do stalking vão além do medo imediato
Mulheres vítimas de stalking no Brasil relatam consequências que ultrapassam o susto inicial. Entre os impactos mais comuns estão:
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mudanças forçadas na rotina
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isolamento social
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prejuízos profissionais
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crises de ansiedade
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sensação constante de vigilância
No caso de figuras públicas, o risco se amplia pela dificuldade de separar vida pessoal e exposição profissional, exigindo medidas extremas de proteção.
Crime desde 2021, mas ainda subnotificado
Embora o stalking seja tipificado como crime no Brasil desde 2021, a subnotificação segue alta. Muitas vítimas enfrentam dificuldades para registrar ocorrências e obter medidas protetivas eficazes.
"Enquanto a sociedade tratar a perseguição como exagero ou fragilidade emocional da vítima, o ciclo se repete. O enfrentamento passa por educação emocional, responsabilização legal e escuta qualificada", afirma a psicanalista.
O debate impulsionado pela visibilidade de artistas lança luz sobre uma realidade vivida diariamente por milhares de brasileiras. O stalking no Brasil deixou de ser um tema episódico e se consolidou como uma questão urgente de saúde mental, segurança pública e cultura digital.