A síndrome de Hunter é uma doença genética rara que chama atenção de médicos e famílias. Em especial, por afetar, em geral, meninos desde os primeiros anos de vida. Trata-se de uma condição crônica, de evolução progressiva, que interfere em vários órgãos ao mesmo tempo e exige acompanhamento especializado ao longo de toda a vida. Apesar de pouco conhecida pelo público em geral, ela tem ganhado espaço em debates sobre doenças raras e acesso a tratamentos no Brasil.
O interesse pelo tema cresceu nos últimos anos. Em especial, com o avanço dos testes genéticos e o fortalecimento de políticas de atenção a doenças raras. A síndrome de Hunter, também chamada de mucopolissacaridose tipo II, está entre essas enfermidades que demandam diagnóstico precoce, equipes multidisciplinares e informação clara para que famílias possam lidar com as mudanças trazidas pelo quadro clínico.
O que é a síndrome de Hunter e como ela surge?
A síndrome de Hunter é um tipo de mucopolissacaridose, um grupo de doenças causadas pela falta ou deficiência de enzimas responsáveis por "quebrar" certas substâncias dentro das células. No caso específico da síndrome de Hunter, o organismo produz pouca ou nenhuma enzima chamada iduronato-2-sulfatase. Como resultado, moléculas conhecidas como glicosaminoglicanos vão se acumulando em diferentes tecidos, o que provoca alterações estruturais e funcionais no corpo.
Essa condição é hereditária e segue um padrão de herança ligado ao cromossomo X. Isso significa que, em geral, quem nasce do sexo masculino tem maior risco de desenvolver a doença quando recebe o gene alterado, enquanto pessoas do sexo feminino costumam ser portadoras, podendo transmitir a mutação. Por esse motivo, a síndrome de Hunter é frequentemente discutida em contextos de aconselhamento genético e planejamento reprodutivo.
Quais são os sintomas da síndrome de Hunter?
Os sinais da síndrome de Hunter tendem a aparecer ainda na infância, embora a intensidade e a velocidade de progressão possam variar de um paciente para outro. Em muitos casos, os primeiros indícios são discretos e podem ser confundidos com condições comuns, o que atrasaria o diagnóstico. Com o passar do tempo, o acúmulo de substâncias nas células leva a mudanças mais evidentes na aparência física, na mobilidade e, em alguns casos, no desenvolvimento cognitivo.
Entre as manifestações mais associadas à síndrome de Hunter, costumam ser observados:
- Face com traços mais grosseiros, nariz largo e lábios espessos;
- Aumento progressivo do volume abdominal por fígado e baço aumentados;
- Baixa estatura e crescimento desacelerado;
- Rigidez nas articulações, com limitação de movimentos;
- Infecções respiratórias de repetição, roncos e apneia do sono;
- Surdez parcial ou perda auditiva progressiva;
- Em alguns casos, atraso na fala, alterações de comportamento e dificuldades de aprendizado.
Existem formas mais leves e mais graves da doença. Nas apresentações mais severas, as alterações neurológicas são marcantes e podem impactar de forma significativa a autonomia na vida adulta. Já nos quadros atenuados, a capacidade intelectual pode ser preservada, embora permaneçam os desafios físicos e respiratórios.
Como é feito o diagnóstico da síndrome de Hunter?
O diagnóstico da síndrome de Hunter envolve uma combinação de avaliação clínica, exames laboratoriais e testes genéticos. Geralmente, o caminho começa com a observação de sinais físicos característicos, histórico de infecções frequentes e atraso em marcos do desenvolvimento. Diante da suspeita, o médico pode solicitar exames específicos para medir substâncias na urina e para avaliar a atividade da enzima iduronato-2-sulfatase no sangue ou em outras amostras.
Com o avanço da medicina laboratorial, o teste genético passou a ter papel central na confirmação da doença. A identificação da mutação no gene responsável pela síndrome de Hunter não apenas esclarece o diagnóstico, como também permite o rastreamento de portadores na família e o planejamento reprodutivo. Em alguns serviços, há discussão sobre a inclusão de mucopolissacaridoses em programas de triagem neonatal ampliada, o que facilitaria o diagnóstico em fases ainda iniciais.
Existe tratamento para a síndrome de Hunter?
Embora não haja cura no sentido de eliminar definitivamente a doença, existem terapias voltadas a reduzir os impactos da síndrome de Hunter e retardar sua progressão. Uma das principais abordagens é a terapia de reposição enzimática, na qual o paciente recebe, por infusão intravenosa, uma forma produzida em laboratório da enzima que falta no organismo. Esse tratamento ajuda a diminuir o acúmulo de glicosaminoglicanos em alguns tecidos e pode melhorar aspectos respiratórios, de mobilidade e qualidade de vida funcional.
Além da reposição enzimática, o manejo da síndrome de Hunter costuma incluir um conjunto de cuidados:
- Acompanhamento cardiológico e respiratório para monitorar coração, vias aéreas e função pulmonar;
- Fisioterapia e terapia ocupacional para preservar mobilidade, postura e autonomia nas atividades diárias;
- Fonoaudiologia para apoiar fala, deglutição e comunicação;
- Suporte educacional em casos com dificuldades de aprendizado;
- Aconselhamento genético para familiares, especialmente mulheres que possam ser portadoras.
Nos últimos anos, pesquisas em terapia gênica e outras abordagens avançadas vêm sendo desenvolvidas em centros internacionais, buscando soluções mais duradouras. Até 2025, esses recursos ainda estão em fase de estudo ou com disponibilidade restrita, o que reforça a importância do acesso regular à reposição enzimática e a cuidados multidisciplinares.
Como a família pode lidar com a síndrome de Hunter no dia a dia?
A rotina de quem convive com a síndrome de Hunter costuma incluir consultas frequentes, exames e adaptações em casa e na escola. A informação clara sobre a doença ajuda a entender o motivo de cada intervenção e a planejar o futuro com base em dados concretos. Equipes de saúde geralmente orientam sobre sinais de alerta, formas de prevenir complicações respiratórias e estratégias para favorecer o desenvolvimento motor e social.
Redes de apoio, associações de pacientes e grupos dedicados às doenças raras também têm papel relevante ao compartilhar experiências, orientar sobre direitos e facilitar o acesso a serviços especializados. Em um cenário em que a síndrome de Hunter permanece rara e pouco conhecida, a combinação de diagnóstico precoce, tratamento adequado e suporte social tende a fazer diferença no acompanhamento ao longo dos anos.