Médica Roberta Saretta detalhou os últimos momentos de vida de Preta Gil, que desejava voltar ao Brasil, mas faleceu em um hospital nos EUA durante tratamento oncológico experimental.
A médica Roberta Saretta, que acompanhou a cantora Preta Gil (1974–2025) durante seu tratamento oncológico, no Brasil e no exterior, falou pela primeira vez sobre o assunto. Ela, inclusive, estava dentro da ambulância quando a artista viveu seus últimos minutos de vida, ainda nos Estados Unidos.
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Coordenadora da equipe do cardiologista Roberto Kalil, do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, Roberta Saretta contou que Preta Gil queria, com todas as forças, retornar ao Brasil. No entanto, no aeroporto, deu sinais de que não aguentaria a viagem. Por isso, uma ambulância foi acionada e a levou para o hospital mais próximo, onde a cantora passou seus momentos finais.
"Quando a ambulância chegou para levá-la ao aeroporto e os paramédicos mediram as taxas, ela estava estável, com índices normais: pressão, eletro, tudo. Ela queria, com todas as forças, chegar ao Brasil", disse ao jornal O Globo.
"Durante o trajeto de uma hora e vinte minutos até o avião, fiquei de frente para ela, repetindo que a levaria para casa. Ela esteve acordada o tempo todo. Ao chegar ao aeroporto, passou mal, vomitou. 'Estamos quase lá', eu falei. 'Preta, você dá conta de viajar? Segura mais um pouco?' E ouvi a resposta: 'Não dou conta'. Pedi para o paramédico nos levar ao hospital mais próximo. Chegamos em oito minutos. Quiseram reanimá-la. Poucos minutos depois, ela se foi."
Conforme Roberta, Preta se tornou sua paciente em janeiro de 2023, quando teve um sangramento intestinal e foi internada na Clínica São Vicente, no Rio de Janeiro, onde recebeu o diagnóstico do câncer. A médica ainda conta que a cantora relutou em fazer exames e aceitar o tratamento adequado.
"Ela respondeu mal ao tratamento. Eu queria vê-la, mas era uma fase conturbada para a Preta — ela também estava passando por uma separação amorosa. Fiz o seguinte: a Flora e o Gil estavam prestes a vir ao Sírio fazer um check-up, e combinei com eles de trazerem a Preta para São Paulo, com o pretexto de visitá-los. Ela não parava quieta, eu sabia que seria difícil pegá-la. Armei uma arapuca. Quando ela chegou ao Sírio, tranquei-a em um quarto. Falei que ela não sairia dali sem fazer exames, que eu não queria saber dos problemas pessoais dela. A Flora e o Gil ajudaram muito, entraram no quarto, conversaram, e ela topou ficar."
A doutora Roberta também comentou a decisão de Preta Gil de buscar tratamento fora do Brasil. Segundo ela, a cantora não queria apenas viver mais alguns meses, mas sobreviver à doença — e viver por anos.
"A Preta não queria apenas viver mais seis, oito meses cercada de amigos, e tudo bem. Ela queria sobreviver por muito mais tempo. É diferente. Ela queria viver mais 15 anos. Só entende isso quem lida com a morte. O cuidado paliativo não é só estar com a família. É compreender o indivíduo. A possibilidade do tratamento experimental a iluminou. O Gil falou, em entrevistas, que teria cedido antes. Mas ele é um homem de 83 anos. Foi 'muitos Gils', fez inúmeras coisas belíssimas. A Preta tinha 50 anos, e com uma vivacidade que poucas vezes você encontra em uma pessoa de qualquer idade."
Roberta acompanhou o tratamento de Preta Gil no Brasil e nos EUA. Ao detalhar como foi o processo no exterior, onde a cantora se submeteu a um tratamento experimental, a médica admitiu que não foi fácil.
"Tivemos a ajuda da Marina Morena (empresária e amiga muito próxima da Preta), que é muito bem relacionada. Procuramos em vários lugares, e fomos negados em muitos. Não é simples mesmo. A preferência é para os americanos; há uma infinidade de regras. Teve um médico que chegou a falar: 'Se você sobreviver, volte aqui'. Conseguimos entrar em um centro pequeno, que aplica os mesmos protocolos de grandes instituições, com excelentes oncologistas, na Virgínia. Eu e grandes amigos da Preta fomos juntos. Fiz as primeiras consultas e voltei para o Brasil. Eles ficaram."